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Brasileira que vive na Itália relata dias de tristeza e medo no país

A jornalista Sandra Bandeira mora na Bréscia, na região da Lombardia, uma das mais afetadas pelo surto

Por Jonas Feliciano em 22/03/2020 às 12:52:23

Imagem: Sandra Bandeira

Desde o final de fevereiro, quando o primeiro caso do coronavírus foi detectado, a Itália vem sofrendo com o crescente número de vítimas fatais e contaminadas pela doença. Em todo o mundo, o país europeu é o mais afetado pelo Covid-19. No último sábado (21), foram registradas 793 mortes em um único dia. Até o momento, mais de 50 mil italianos estão infectados. Diariamente, os números aumentam e transformam a vida da população em um pesadelo, sem previsão para acabar.

Hospital Civil da Bréscia - atendimento na rua / Imagem: Sandra Bandeira

A jornalista brasileira Sandra Bandeira vive há 17 anos na Bréscia, na Província de Brescia, no Norte italiano. A cidade fica na região da Lombardia, que é uma das mais devastadas pelo surto. Ao portal Eu,Rio!, Sandra contou como tem sido desde que a doença se alastrou e vem deixando um rastro de tristeza pelas ruas de um dos lugares mais belo do planeta.
"As coisas chegaram a esse ponto porque as pessoas não deram importância a gravidade e ao riscos. Muita gente achava que era Fake News ou alarmismo. Assim, as medidas preventivas também foram tardias. Agora, nos restou o som das sirenes, as perdas de familiares e dos amigos que se vão, sem despedidas. Nenhuma homenagem. Vivemos o forte impacto emocional de um bloqueio rígido", lamentou a brasileira.

Sandra ainda contou sobre como a pandemia modificou a rotina das pessoas e sobrecarregou a assistência de saúde na localidade em que ela reside.

"Estamos vivendo como numa guerra. Enfrentamos um inimigo perigoso, invisível e que quer se apoderar da nossa mente. Estou no foco, em Bréscia, e minha residência é vizinha ao hospital civil. Ele é um dos melhores da Europa em infectologia e terapia intensiva especializada, além de ser equipado com os mais capacitados profissionais. No entanto, são reais as imagens divulgadas na mídia. Hoje, padecemos com um sistema de saúde em colapso diante dessa pandemia", revelou.

Ela também relembrou as perdas de amigos e entes queridos. Para Sandra, algumas experiências foram traumatizantes.

Giulia Bonardi - a sogra / Imagem: Sandra Bandeira

"Perdi minha sogra, um amigo e vi de perto o sofrimento de outras pessoas. Por morar ao lado do hospital, escuto e acompanho o vai e vem das ambulâncias. A minha experiência familiar foi traumática porque minha sogra, de 78 anos, que já sofria com uma grave enfermidade, não pôde marcar uma drenagem necessária para o seu tratamento. Ela passou mal em casa e teve que esperar seis horas por uma ambulância. A sua partida de casa foi o último momento em que estivemos juntas. Ela não resistiu e veio a óbito no hospital. Não foi possível entrarmos, nem prestar uma homenagem. Seu corpo foi conduzido em um daqueles caminhões do exército", relatou.

Hoje, uma das maiores preocupações de Sandra é com os brasileiros e seus familiares que estão por aqui.

Ruas vazias da Bréscia / Imagem: Sandra Bandeira

"Meu sofrimento é dobrado. A minha preocupação é constante e já procurei de diversos modos conscientizar o meu povo sobre a gravidade da situação. Há também o dano emocional causado pelo medo. Por isso, agradeço aos jornalistas dos grupos que participo por ouvir meus relatos e produzirem um magnífico trabalho, focado na sensibilização das pessoas. Acho que o governo brasileiro entrou em tempo hábil com as medidas preventivas. Uma demonstração de competência, se comparado ao governo italiano. Quando as pessoas se conscientizarem sobre o isolamento e respeitarem as medidas, o resultado, mesmo diante da escassa estrutura, vai ser positivo. Eu acredito porque Deus é brasileiro", confessou.

Villaggio Prealpino / Imagem: Sandra Bandeira

Por fim, a jornalista ressaltou que as vítimas não são apenas idosos. Por tal motivo, a conscientização precisa ser de todos.

"Meu amigo tinha apenas 50 anos. Nós já vimos casos de jovens e crianças. Aliás, além dos assintomáticos, tem ainda o detalhe de que as crianças acabam sendo vetores como vetores para os idosos", alertou.

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