Surpresa tem sido um estímulo fundamental para quem há quatro décadas faz do escrever sobre música sua profissão. Boas surpresas, como as de "Outra razão", álbum da cantora e compositora Gabi Doti que está sendo lançado com dez canções autorais e refinada produção nas plataformas digitais.
Em uma das faixas, "Silêncio Capital", enquanto questiona a Lei do Silêncio no Distrito Federal que poda a vida noturna e a atuação dos artistas candangos, ela autodefine o que ouvimos: um "funk-samba-jazz", um "funk abrasileirado", que respira "seca e jazz". Através do álbum, passando por pop rock, funk, r&b, balada, Gabi Doti deixa mais marcas de suas digitais.
Repertório e arranjos definidos, Gabi Doti (voz) e Daniel Baker (teclados) se cercaram de um time de ponta: Tim Pierce (guitarrista em discos e shows de Michael Jackson, Roger Waters e Phil Collins), Jamie Wollam (atual baterista do Tears For Fears, que já passou por grupos de Michael Jackson e David Crosby) e Sean Hurley (baixista de John Mayer, também presente em gravações de Ringo Starr, Annie Lennox e Alanis Morissette).
Em cinco faixas, o percussionista cubano Rafael Padilla (que já trabalhou com Shakira, Gloria Estefan, Thomas Dolby, Diana Ross, Matt Bianco) reforça o sotaque latino-americano.
Pontuais participações completam a paleta sonora do álbum: o percussionista Felipe Fraga (curitibano radicado em Los Angeles) botou pandeiro e repique em "Silêncio Capital"; os irmãos cariocas Felipe e Viny Melanio fazem backing vocals em "Nonsense" e "Iguais"; enquanto as canções "Nosso jeito" e "Iguais" contaram com a Orquestra de Saint Petersburg (sob a direção do maestro Kleber Augusto, a partir de arranjo de Daniel Baker).
O álbum conta com oito faixas em português (sem sotaque, pinta alguma de vir de uma uruguaia), uma no espanhol nativo - a cortante balada "Otra razón", com letra que procura decifrar (e mostrar como conviver com) a síndrome de Alzheimer - e uma faixa-bônus em inglês, "Good times".