Até o início da noite desta sexta-feira (27), de acordo com dados do Ministério da Saúde, o Brasil já havia registrado 3.417 casos confirmados de coronavírus e 92 mortes por causa da doença. Embora em relação aos outros países os números pareçam razoáveis, a curva de contaminação é crescente e continua preocupando a população. Em locais como a Itália e os Estados Unidos, os índices são cada vez maiores. Nas últimas 24 horas, 919 pessoas morreram no território italiano. Nos EUA, o número de mortos chegou a 254, em um único dia.
Por enquanto, os brasileiros ainda não estão enfrentando essas taxas de mortalidade. Entretanto, o receio do colapso no sistema de saúde do país fez com que as autoridades públicas adotassem o isolamento social como uma medida estratégica de contenção da pandemia. Agora, governo federal e governadores travam uma batalha política motivada por uma possível recessão econômica.
De um lado, o presidente Jair Bolsonaro defende o retorno à normalidade. Do outro, nomes como João Dória, em São Paulo, e Wilson Witzel, no Rio de Janeiro, seguem insistindo que o isolamento é a melhor saída para o caos. Novamente, o Brasil está dividido e essa polarização, que se arrasta há alguns anos, tem se destacado no combate ao Covid-19.
Afinal, o isolamento social é a melhor alternativa? Segundo grande parte dos especialistas, sim. Sem ignorar os problemas econômicos, todos os locais que estão tentando enfrentar o novo coronavírus adotaram o distanciamento das pessoas como uma medida radical e eficaz.
Para Paulo Santos, médico infectologista e consultor técnico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o isolamento continua sendo a escolha com mais chance de frear o avanço do Covid-19.
"A comunidade mundial está aprendendo no dia-a-dia a lidar com a pandemia e o virus. Das várias ações feitas por diferentes países, o isolamento social é o que parece ter mais efetividade em frear o seu avanço. Considerando que o Brasil está reforçando os seus serviços de saúde, construindo hospitais de campanha e organizando a rede que já existe, entendo que é muito importante manter o isolamento social agora, visando justamente ganhar tempo, na possibilidade do número de casos aumentar", explicou o infectologista.
Paulo ainda ressaltou que a maior preocupação é que o sistema de saúde consiga suportar a alta demanda. Além disso, ele disse que ações parciais podem não funcionar.
"É importante encontrar um serviço de saúde melhor estruturado. Outro aspecto do isolamento seria reduzir o pico de casos, que poderia ser um grande número acontecendo ao mesmo tempo, permitindo da mesma forma que o serviço de saúde possa absorver melhor essa demanda. Há estratégias de isolamento social que são parciais, mas elas parecem ser menos efetivas", destacou.
A demora nos resultados dos testes e as deficiências do sistema de saúde brasileiro também podem estar dificultando as notificações do Covid-19. É possível que o número de contaminados e mortos seja maior do que o anunciado pelas autoridades. Nesta semana, o Ministério da Saúde informou que vai umentar o alcance dos exames.
O Brasil deverá receber 14,9 milhões de testes RT-PCR, que é capaz de detectar o vírus nas amostras coletadas. Segundo a pasta, testes rápidos também serão utilizados e destinados aos profissionais da saúde. O RT-PCR vai ser usado nos casos mais graves e começarão a ser distribuídos nos próximos dias.
Diante de relatos nas redes sociais sobre a possibilidade de casos suspeitos não estarem sendo notificados no Brasil, a reportagem do Portal Eu,Rio! perguntou a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) se a entidade tem recebido algum tipo de informação neste sentido. Contudo, a SBI informou que, oficialmente, isso ainda não foi relatado.