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Pesquisa traça perfil de traficantes de drogas que atuam no Rio de Janeiro

Estudo mostra alterações após implantação das UPPs

Por Mario Hugo Monken em 31/07/2018 às 19:27:20

A maioria das pessoas entra para o tráfico de drogas com idades entre 13 a 15 anos. Recebe salários que vão de R$ 1.000 a R$ 3.000. Já sofreu algum tipo de violência policial, largou a escola e considera o risco de morte o aspecto mais negativo ao optar por esse tipo de trabalho.

Esses dados foram coletados por uma pesquisa feita pelo Observatório de Favelas chamada de "As novas configurações das redes criminosas após a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs)".

A ONG realizou 150 entrevistas em favelas da cidade do Rio de Janeiro e 111 checagens em uma unidade de internação provisória do Departamento de Ações Sócio-Educativas (Degase), totalizando 261 abordagens. O trabalho foi feito entre maio de 2017 e abril de 2018.

Mais da metade dos entrevistados ingressam entre 13 e 15 anos no crime

A principal faixa etária em que os entrevistados ingressaram no tráfico de drogas, diz respeito ao período entre 13 e 15 anos de idade, com 54,4% das respostas.

Entretanto, em comparação a uma pesquisa anterior feita pelo mesmo Observatório, entre 2004 e 2006, que ouviu 230 jovens, houve um aumento no número de pessoas que ingressaram no tráfico entre 10 e 12 anos de idade, ou seja, durante a infância. A entrada na adolescência passou de 6,5% na primeira abordagem para 13% em 2017.

A grande maioria (78,2%) não frequenta a escola, o que indica uma certa incompatibilidade entre a atividade desenvolvida na rede ilícita e a rotina escolar.

Ajudar a família e ganhar muito dinheiro foram as principais motivações apresentadas para o ingresso na rede do tráfico de drogas no varejo, sendo mencionadas por 62,1% e 47,5% dos entrevistados, respectivamente.

Para permanecer na atividade ilícita, ajudar a família e ganhar muito dinheiro foram os principais fatores apresentado sendo apontados, respectivamente, por 56,3% e 57,9% dos entrevistados.

Entrevistados recebem acima do que receberiam no mercado formal

No que se refere aos rendimentos, a maioria (51,7%) afirmou receber entre R$ 1000 e R$ 3000. Embora não seja um valor tão alto, representando cerca de 3,5 salários mínimos, é uma quantia que dificilmente seria recebida em outras atividades laborais, por conta da baixa escolaridade e baixa qualificação profissional desses adolescentes e jovens. Segundo a ONG, houve um incremento dos rendimentos em relação ao estudo anterior realizado no âmbito do Programa Rotas de Fuga.  Na pesquisa realizada entre 2004 e 2006, 57% dos entrevistados recebiam de 1 a 3 salários mínimos.

O dinheiro que recebem no tráfico é gasto principalmente com a família (77,4%) com a compra de roupas (68,2%) e atividades de lazer (51,7%).  Apenas 10,3% dos entrevistados menciona utilizar este recurso para a compra de drogas.

Pesquisa aponta preocupação com risco de morte

O risco de morte (citado por 82,8% dos entrevistados), de ser preso (50,6%) e a extorsão de policiais (17,6%) são apontados como os piores aspectos do trabalho no tráfico.

Entre os 261 entrevistados, 75,9% afirmaram já terem sido vítimas de violência policial, sendo que 37,9% por cinco vezes ou mais. Esse dado coloca em evidência que a relação da polícia com estes jovens é marcada predominantemente pela violência.

Apesar de 30,7% dos entrevistados afirmarem que nunca participaram de confrontos armados com a polícia, por outro lado, um grande número de pessoas afirmou ter participado, com 56,7% das respostas apontando ter vivenciado este tipo de confrontos por cinco vezes ou mais

A relação entre os que nunca participaram de confrontos armados com grupos rivais é similar ao número de confrontos com a polícia. Neste caso, apenas 27,6% dos entrevistados nunca participou de confronto com grupos rivais. Entre os que responderam que sim, 53,3% afirmaram já ter participado cinco ou mais vezes desses episódios de violência armada.

Tráfico de drogas possui várias funções

No que diz respeito à ocupação atual ou função que desenvolve na rede, 25,7% afirmaram trabalhar como vapor, que é quem efetivamente realiza a comercialização das drogas no varejo nos pontos de venda existentes. Outra função muito citada é a de soldado, 24,5%, que são os responsáveis pela contenção e pela atuação na linha de frente dos confrontos armados. 15,3% dos entrevistados exerciam funções de gerência; seguidos por abastecedores (8,8%) e embaladores (8,0%). As funções de olheiro, fogueteiro e operador de rádio (6,5%) são responsáveis pelo monitoramento das entradas e vias de acesso aos pontos de venda e ao interior das favelas de modo geral, incluindo aí a operação de retirada de vigas e liberação e operação dos bloqueios existentes nesses acessos.

Dentre os 261 entrevistados, 36,8% indica trabalhar em plantões de 12 horas, com pequenas variações. 48,3% dos entrevistados afirmou não ter dia de folga, o que demonstra uma precariedade e, por outro lado, a possibilidade de trabalhar em tempo integral e receber mais por esses plantões,

A maioria dos entrevistados (55,6%) disse não haver outros familiares empregados no tráfico, o que coloca em evidência a possibilidade de trajetórias diferentes dentro de uma mesma estrutura familiar. Dentre os familiares envolvidos na rede ilícita, destacam-se irmãos (21,1%), primos (16,1%) e tios (9,6%).

Na pesquisa realizada entre 2004 e 2006 pelo Observatório de Favelas no âmbito do Programa Rotas de Fuga, apesar do grande número de entrevistados que responderam ter muitos irmãos, apenas 11,7% afirmaram ter algum irmão envolvido na rede do tráfico de drogas ou em outra atividade ilícita. No presente trabalho, esse número cresceu, atingindo 21,1% dos entrevistados.

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