A guerra às drogas é incapaz de solucionar o problema da violência urbana. É o que aponta o estudo divulgado pelo Observatório das Favelas sobre o perfil dos jovens que entram para o tráfico muitos deles aos 13 anos com o objetivo principal de ajudar no orçamento familiar por um breve período. A organização sugere mudanças no tratamento do assunto pelo conjunto da sociedade.
O estudo "Novas configurações das redes criminosas após a implantação das UPPs" apresentado em 31 de julho foi realizado pelo eixo de Segurança Pública e Direito à Vida do Observatório de Favelas, com apoio da Open Society Foundations. A pesquisa pretende oferecer subsídios para a construção de políticas e ações públicas que visem a superação da lógica da "guerra às drogas".
A diretora do Observatório de Favelas, Raquel Willadino, uma das coordenadoras do estudo, ressalta que as ações promovidas nos últimos dez anos não foram suficientes para reduzir o tráfico. "Eles vão para o tráfico por falta de opção de trabalho. Precisam contribuir com o sustento da família", disse.
A coordenadora também destaca que poucos desses jovens consomem drogas e que 40,2% deles já se afastaram do tráfico espontaneamente e conseguiram um emprego formal.
Perfil dos jovens do tráfico
A questão étnica também é destacada no estudo. Entre os jovens do tráfico, 72% são negros e pardos. Os homens são 96,2%. Jailson explica que é difícil determinar a quantidade de jovens que atuam no sistema.
A maioria dos jovens ganha no tráfico entre R$ 1.000 e R$ 3.000. Muitos trabalham 12 horas por dia, mas há aqueles que atuam apenas nos finais de semana e contam com outra atividade remunerada.
Raquel destaca o papel da mulher na criação desses jovens. As mães são chefes de família em mais da metade dos entrevistados. A influência de mães e esposas também é fundamental para a saída do jovem do ambiente de tráfico. A responsabilidade do nascimento de um filho, por exemplo, é um dos motivos para a mudança de vida.
O diretor e criador da ONG Observatório de Favelas, Jailson de Souza e Silva, critica a política de combate às drogas adotada no Brasil nos últimos 30 anos:
"Nós temos um país racista marcado por uma grande desigualdade. A Guerra aos jovens empregados do tráfico de droga dura 30 anos. Não houve diminuição do movimento de drogas, nem aumentou o preço da cocaína em termos de valor. Houve aumento do uso de armas, aumento da insegurança, aumento de mortos houve um aumento de violência em todos os âmbitos".
Jailson diz que 700 mil jovens estão encarcerados e 62 mil são mortos por ano. "Na Guerra do Vietnã, em 10 anos, morreram 58 soldados americanos. Nós fazemos isso todos os anos".
Conclusões
A ONG propõe entre outras medidas a criação de alternativas para jovens inseridos na rede de tráfico de drogas no varejo; medidas no campo da saúde, tanto de jovens do tráfico quanto de profissionais que atendem aos moradores das favelas; políticas de segurança pública que evitem a militarização e o confronto.
"A gente precisa efetivamente levar em conta que muitos desses jovens querem sair do tráfico de drogas e não tem alternativa. Então, gerar alternativa econômica é fundamental", conclui Jailson.
Para realizar o estudo, foram entrevistados 261 jovens de 13 a 30 anos. 150 jovens inseridos na rede do tráfico de drogas no varejo em favelas do Rio de Janeiro e 111 adolescentes no Departamento Geral de Ações Socioeducativas (DEGASE). As entrevistas foram realizadas entre maio de 2017 e abril de 2018.
Saiba mais sobre a pesquisa neste link abaixo:
Pesquisa traça perfil de traficantes de drogas que atuam no Rio de Janeiro