Desde o início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, o número de profissionais de saúde infectados só aumentou. De acordo com dados do Cofen (Conselho Federal de Enfermagem), até o último dia 15 de abril, quatro mil profissionais estavam afastados pela doença, 552 confirmados e 3,5 mil em investigação. Esses trabalhadores, além de estarem na linha de frente e no cuidado direto dos pacientes, também vivem sob alto estresse e com o iminente risco de serem contaminados.
Na última sexta-feira (17), um levantamento realizado pelo Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren-RJ), baseado em fiscalizações diárias e em um roteiro de denúncias das condições de trabalho, irregularidades sanitárias e ausência de EPIs, revelou diversas deficiências nos hospitais do estado fluminense. A entidade fiscaliza as categorias de enfermeiros, obstetrizes, técnicos e auxiliares.
Os dados da pesquisa do Coren-RJ foram coletados em 298 instituições. Segundo o Conselho, em 72 unidades havia falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Desse total, 29 não disponibilizavam pias para lavagem das mãos nos setores com pacientes de Covid-19. Além disso, 11 não possuíam sabonete líquido e 15 não tinham papel toalha.
O Coren-RJ também constatou que 18 hospitais não ofereciam álcool a 70%. Entre as 298 unidades, 14 não possuíam máscara cirúrgica, o que deixava 786 profissionais expostos. Outros 23 locais de atendimento aos pacientes com coronavírus não disponibilizavam máscara N95, expondo 283 profissionais de enfermagem em assistência direta a procedimentos invasivos e recomendados pela Nota Técnica 004. O órgão também divulgou que 29 instituições não possuíam capotes.
Ao portal Eu,Rio!, a enfermeira Nice Carvalho fez alguns relatos sobre as dificuldades e os desafios encontrados no cotidiano dentro das unidades de saúde. Ela ainda falou das mortes de alguns colegas e do compromisso assumido por aqueles que vivem a triste realidade na área da saúde. Até o momento, o Coren-RJ identificou 548 profissionais afastados, 31 testados e 19 confirmados, assim como 13 óbitos.
"A medida em que perdemos nossos colegas da área de saúde, também sofremos a cada perda com um pensamento único: quando será a nossa vez? Juramos cuidados perante a ética profissional, juramos respeito, entrega, mas não lembro de ter jurado a morte", lamentou Nice.
A enfermeira falou que acredita que a pandemia está sendo uma catástrofe, mas ainda assim, uma parte da população continua nas ruas, sem o entendimento adequado do que está acontecendo. Ela ressaltou que isso pode agravar a situação de quem está trabalhando diretamente com os doentes. Ignorar as regras de distanciamento põe em risco toda população.