O Banco de Alimentos da Ceasa/RJ doou três toneladas de perecíveis para oito aldeias indígenas existentes no estado do Rio de Janeiro. Produtos como limão, laranja, goiaba, abóbora, chuchu e aipim chegaram para mais de mil índigenas, entre crianças, jovens e idosos, que estão isolados por conta da pandemia de coronavírus.
A entrega foi feita hoje (6) em cinco aldeias do litoral Sul fluminense, em Angra dos Reis e Paraty; amanhã (7/5), duas aldeias da Região dos Lagos, em Maricá, também receberão os produtos. A aldeia vertical Maracanã, no Estácio, região central da capital fluminense, também retirou frutas é verduras hoje (6), no Banco de Alimentos, em Irajá, Zona Norte do Rio.
Os produtos que serão doados foram comprados de agricultores familiares do estado do Rio de Janeiro através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). A verba do PAA é do governo federal e o gestor do programa no estado do Rio é a Ceasa.
"Os índios são cadastrados no PAA como vendedores. No estado do Rio, eles não têm excedente de produção. Então, propusemos ao Ministério da Cidadania a inclusão deles como beneficiários consumidores, por conta da vulnerabilidade social que apresentam, o que foi acatado", destacou o coordenador do PAA no estado do Rio, Thiago Nemésio.
Insegurança alimentar
Considerados grupo de risco pela baixa imunidade, essas populações indígenas enfrentam grandes dificuldades para se alimentar por conta da suspensão de sua principal fonte de renda, o artesanato.
Vice-presidente da Fundação Darcy Ribeiro, o indigenista Toni Lotar ressalta que esses povos precisam urgentemente de assistência porque as características geográficas dos locais onde vivem não permitem sua subsistência através da pesca e agricultura.
"A situação aqui em nosso estado não é como nas aldeias das regiões amazônicas, que possuem grandes rios e terra para plantar. As nossas comunidades são pobres do ponto de vista dos recursos. O que eles plantam e pescam é insuficiente para atender suas necessidades alimentares", afirmou.
Índios aldeados
Segundo Lotar, existem quatro aldeias em Paraty (duas da etnia Guarani Mbyá, uma Guarani Nhandeva e uma Pataxó); uma aldeia em Angra dos Reis, uma em Itaiupuaçu e uma em São José do Imbassaí (todas da etnia Guarani Mbyá); além de uma aldeia vertical multiétnica no Estácio, região central da capital fluminense. No total são 226 famílias e 1016 índios.
Ainda de acordo com Lotar, atualmente a única ajuda para essas famílias vem da sociedade civil. "Grupos de solidariedade já se formaram para atender essas populações, mas a dificuldade é muito grande porque as doações de alimentos e produtos de higiene devem ser contínuas, enquanto durar o período de isolamento social", destacou.
"Lata de óleo, por exemplo, nós não temos para doar e estamos articulando com o setor privado", completou o indigenista.
Políticas públicas
Toni Lotar também é integrante do Conselho Estadual dos Direitos Indígenas (Cedind), ligado à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro. Ele espera que os órgãos públicos se mobilizem para atender essas necessidades urgentes dos indígenas aldeados.
"O número de índios vivendo em aldeias no estado do Rio de Janeiro é ínfimo comparado ao que já foi no passado. Nós precisamos criar políticas públicas que assegurem a existência digna desses povos originários", categorizou.
População indígena
De acordo com o último censo do IBGE, o Rio de Janeiro possui 30 mil indígenas que vivem no ambiente urbano de 90 dos 92 municípios do estado. A metade desse número, 15 mil indígenas, vive em cidades do Grande Rio.
"Muitos desses vivem do artesanato, mas não tanto quanto os de aldeias, onde essa é a atividade principal. Alguns indígenas em contexto urbano mantem seus hábitos e cultura, mas têm aqueles de descendência remota, que não guardam suas origens", observou Toni Lotar.
O indigenista tem 65 anos e, por fazer parte de grupo de risco, trabalha de casa para ajudar os índios aldeados. Toni tem contato direto com os caciques das aldeias através de tecnologias como vídeochamadas. Ele relata que os indígenas estão muito assustados com o novo coronavírus.
"A situação é muito complexa. Eles entendem que a quarentena preserva a saúde deles, mas estão muito amedrontados e perplexos com essa questão da doença e do isolamento. Esses índios são poucos, mas são bons e fiéis amigos. É importante que eles se sintam acolhidos", concluiu Lotar.