O presidente Jair Bolsonaro disse hoje (07) que a Polícia Federal (PF) deveria ter investigado com profundidade o caso do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) após menções ao seu nome. Questionado na portaria do Palácio da Alvorada sobre o motivo de pressionar por uma troca no comando da superintendência da PF no Rio de Janeiro, ele respondeu: "O Rio é o meu Estado, o Rio é o meu Estado (...) Eu fui acusado de tentar matar a Marielle, quer algo mais grave? Quem quer que seja [assassinado], o presidente da República ser acusado? A Polícia Federal tem que investigar, porque não investigou com profundidade?", reclamou.
Ele disse que "querem colocar na conta" dele e de seus filhos Carlos (vereador/RJ) e Flávio (senador) o assassinato de Marielle, sendo que eles não são investigados pela PF. Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes foram mortos a tiros em uma emboscada em 14 de março de 2018.
Bolsonaro também afirmou que não tem cabimento a narrativa de que o superintendente da PF no Rio é seu desafeto, pois teria sido convidado para ser secretário-executivo pelo novo diretor-geral da PF, Rolando de Souza.
Bolsonaro foi questionado outras vezes sobre o depoimento do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, concedido após ele pedir demissão acusando Bolsonaro de tentar interferir politicamente na PF.
Ele não quis entrar em detalhes, sob pretexto de que ainda não leu a íntegra do depoimento de Moro, mas afirmou que "em nenhum momento" o ex-ministro disse que o presidente cometeu um crime.
Bolsonaro afirmou que Moro recebia relatórios confidenciais e sugeriu que o conteúdo pode ter sido repassado à imprensa, o que, segundo ele, poderia ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional.
"Eu confiava nele, tanto que passava extratos de informações de chefes de estado e inteligência de fora do Brasil".
Ele também negou que tenha pedido informações de inquéritos em andamento na Polícia Federal. "Em nenhum momento eu pedi relatórios de inquéritos, isso é mentira deslavada".
Em outro momento da declaração à imprensa, em que não permitia interrupções, mostrou em seu celular um trecho da conversa com o ex-ministro Moro, em que Bolsonaro compartilhou uma notícia sobre investigação de deputados bolsonaristas. Moro havia apresentado um trecho da conversa ao Jornal Nacional. Bolsonaro mostrou o conteúdo anterior à reclamação dele ao ministro, em que Moro teria escrito: "Isso eh fofoca. Tem um dpf atuando por requisição, no inquérito da FakeNews, que foi requisitado pelo ministro Alexandre [de Moraes]. Não tem como negar o atendimento ah requisição do STF".
Bolsonaro ampliou a declaração à imprensa ao saber que TVs estavam transmitindo ao vivo, afirmou que "o pior já passou" sobre casos e mortes de coronavírus no país. Afirmou ainda que nunca tomou medidas contra a mídia e negou que alguém tenha falado em sua frente sobre fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal no ato do último domingo.
Coronavírus
Pouco antes do boletim diário de mortes e infectados pelo novo coronavírus (covid-19) ser divulgado Bolsonaro declarou que, se os números mostrassem queda, seria pelo sexto dia consecutivo, o que representaria um sinal de que o pior já passou.
"Lamentavelmente, veio o vírus. Todo mundo tá sofrendo, o mundo tá sofrendo. Nós estamos sofrendo com mortes aqui, mas nós temos que enfrentar isso aí. Eu não sei se hoje caiu o número de mortes, foi menor do que ontem, eu não sei ainda, mas se foi, vai ser o sexto dia, se não me engano, consecutivo de queda no número de mortes. É um sinal de que o pior já passou", disse.
No entanto, o número de mortes subiu 8,2% de ontem para hoje, de 7.321 para 7.921. Foram 600 registros de novos óbitos em 24 horas, uma expansão de 102,7% em relação às 296 novas mortes registradas na véspera. Os casos confirmados da covid-19 saltaram de 107.780 para 114.715. Foram mais 6.935 casos em 24 horas, um acréscimo de 6% — ontem, a alta havia sido de 7%.
Após a entrevista, chegaram ao Alvorada para uma reunião com ele o ministro da Justiça e Segurança, André Mendonça, e o advogado-geral da União, José Levi. Bolsonaro disse que a AGU o defenderá no caso, pois não tem recursos para pagar um advogado que já atuou na Lava-Jato, em referência indireta ao defensor contratado por Moro.