O presidente Jair Bolsonaro anunciou que promoverá um churrasco para 30 convidados hoje (09), no Palácio da Alvorada. Bolsonaro ainda fez piada ao ser perguntado sobre a confraternização, sem deixar claro se ela será realizada ou não. Se for confirmada, a festa acontecerá na data que provavelmente será lembrada pela triste marca de mais de 10 mil mortes causadas pelo novo coronavírus no Brasil — de acordo com o último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, ontem (08), foram registrados 751 óbitos nas últimas 24 horas, chegando a um total de 9.897, além de 145.328 casos confirmados.
Bolsonaro evitou responder questionamentos de repórteres se o churrasco não representaria um mau exemplo em função da necessidade de isolamento social e disse, em tom de ironia, que 1.300 pessoas já estavam confirmadas.
"Churrasco, eu só estou convidando a imprensa. Já tem 180 convidados", afirmou Bolsonaro, diante de apoiadores que riam, iniciando uma escalada de ironias sobre o número de convidados para o evento: "Duzentos e dez já tem. Tem 210 chefes de família, deve dar 500 pessoas no churrasco".
Pouco depois, o presidente deu sequência às ironias e disse que o número de confirmados tinha acabado de subir:
"Tá todo mundo convidado aqui, 800 pessoas no churrasco. Tem mais um pessoal de Águas Lindas, serão 900 pessoas confirmadas. Tem mais um pessoal de Taguatinga, 1.100. Vai estar todo mundo aqui amanhã? 1.300 pessoas no churrasco", disse.
"Estou cometendo um crime"
Na quinta-feira (07), quando falou pela primeira vez sobre o churrasco de hoje (09), Bolsonaro disse que cometeria um "crime", ironizando as recomendações de autoridades de saúde para evitar aglomerações:
"Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha, alguns ministros, alguns servidores mais humildes".
O vice-presidente Hamilton Mourão disse ontem (08) que não foi convidado para o churrasco. Depois de participar de um evento ao lado de Bolsonaro, no Ministério da Defesa, Mourão comentou, rindo, que a taxa para participar da confraternização no Alvorada, de R$ 70 por pessoa, está muito cara.
"O presidente ainda não falou comigo sobre o churrasco. E R$ 70 está muito caro", riu.
"O que ele vai comemorar? Será que o Ramagem vai hoje no churras?", ironiza Alexandre Frota
Houve muitas críticas à decisão de Jair Bolsonaro de promover um churrasco em plena pandemia do novo coronavírus, quando a maioria dos brasileiros está evitando confraternizações — inclusive amanhã (10), no Dia das Mães, várias famílias passarão a data separadas por precaução. Antigo aliado do presidente, o deputado federal Alexandre Frota escreveu no Twitter: "Vamos chegar a 10 mil mortos no Brasil. E o Bolsonaro vai fazer um churrasco. O que ele vai comemorar? Será que o Ramagem vai hoje no churras?".
O senador Randolfe Rodrigues também citou a triste marca que o país deverá atingir neste sábado: "O Brasil não tem presidente! Quem marca churrasco diante de 10 mil mortes, com milhares de famílias sentindo a dor da Covid-19 na pele, não é um chefe de Estado! É um irresponsável. Não há precedentes no mundo para isso".
A deputada e ex-líder do governo Bolsonaro no Congresso, Joice Hasselmann, também usou a rede social para criticar o presidente: "Enquanto o PR (presidente da República) vai confraternizar em churrasco com 30 pessoas, hospitais do estado dele, o RJ, estão em colapso. Mais de MIL pessoas à espera de leito na capital. Ontem (quinta-feira) foram 155 mortes. Nenhuma palavra de conforto, nenhuma ação, nenhuma visita. Mas e daí, né @jairbolsonaro?".
Fernando Haddad, candidato do PT derrotado por Bolsonaro no segundo turno da eleição de 2018, fez um apelo pelo cancelamento da confraternização: "Bolsonaro, hoje (ontem) tivemos um novo recorde de mortos. Provavelmente, não são seus conhecidos. São brasileiros que sequer serão velados. Não faça esse churrasco. É agressivo demais. Não há o que celebrar!".
Frases infelizes
A declaração sobre o churrasco se junta a uma série de frases infelizes de Bolsonaro em meio à pandemia do novo coronavírus. No dia 19 de março, quando algumas cidades do Brasil já tinham tomado medidas restritivas para conter o contágio, Bolsonaro afirmou que faria uma festa familiar no Alvorada para comemorar o aniversário dele e o da primeira-dama. A festa não aconteceu.
No fim de março, ele afirmou que o país não chegaria a um número alto de mortes pela doença porque "o brasileiro tem que ser estudado. O cara não pega nada. Eu vi um cara ali pulando no esgoto, sai, mergulha... Tá certo?! E não acontece nada com ele". Bolsonaro já chamou a Covid de "gripezinha", disse não ser coveiro quando foi perguntado sobre o aumento das mortes e indagou "e daí?" quando o país passou a China em número de óbitos por coronavírus.