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Com isolamento abaixo de 70% e líder em mortes na Baixada, Caxias reabre comércio na segunda

Prefeito, aliado de Bolsonaro, foi último da Baixada a fechar lojas não-essenciais e entrou na Justiça para manter loterias e igrejas abertas

Por Portal Eu, Rio! em 22/05/2020 às 11:36:17

Principal apoiador de Jair Bolsonaro na Baixada Fluminense, Washington Reis foi último prefeito a decretar isolamento social e pode tornar Caxias a primeira cidade a retomar atividades Foto Agência Br

A Prefeitura de Duque de Caxias adotará, a partir da próxima segunda-feira (25), um novo protocolo para circulação de pessoas no município. As atividades comerciais da cidade poderão voltar a funcionar, desde que sigam normas de higienização contra o novo Coronavírus. Os comerciantes deverão seguir uma série de determinações da Prefeitura, entre elas, exigir dos clientes o uso de proteção facial e fornecer os equipamentos aos funcionários, disponibilizar álcool em gel, além de limitar o atendimento ao público a 30% (trinta por cento) da capacidade de lotação.

A Prefeitura atribui a nova determinação ao aumento do número de leitos na cidade e da queda do número de atendimentos de pessoas com sintomas da Covid-19 nas unidades de saúde do município. O decreto contendo essas determinações será publicado nos próximos dias. A norma trará, ainda, efeitos para a circulação dos ônibus municipais. As empresas deverão manter 50% da frota na rua para atender os cidadãos.

A cidade é a segunda em número de mortes pela Covid-19 (167, em 1.171 casos confirmados), uma taxa de letalidade da ordem de 14%, mais que o dobro da média do País. Isso sendo apenas a terceira em população no Estado, atrás da capital e de São Gonçalo, também na Região Metropolitana do Rio (919.596 habitantes em 2019, pela estimativa do IBGE.

O prefeito Washington Reis foi o último da Baixada Fluminense a adotar medidas de distanciamento social, chegando a recorrer na Justiça contra o fechamento de igrejas e casas lotéricas. No início da pandemia, Reis gravou vídeos em cultos minimizando a ameaça do novo coronavírus, mudando de postura somente depois de terminar internado num hospital privado de alto padrão, o Pró-Cardíaco, em Botafogo, a 27 km da cidade que governa.

A adesão ao distanciamento social em Caxias variou de 38% na primeira semana do decreto estadual, de 16 a 20 de março, a 51% na quarta semana, sem jamais alcançar o mínimo preconizado pela Organização Mundial da Saúde, de 70%.

Cidade é a pior entre as 20 maiores do Brasil, na oferta de leitos de UTI e respiradores artificiais

Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, também obteve o pior resultado na pesquisa sobre a disponibilidade de Unidades de Terapia Intensiva: 0,3 leitos para cada 10 mil pessoas, um terço do recomendado em situação normal pela Organização Mundial da Saúde. O levantamento foi coordenado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base nas 20 cidades mais populosas do País. Coordenador da pesquisa, Rafael Pereira destacou o desafio adicional representado pela pandemia da Covid-19 e necessidade de combater as desigualdades, em entrevista à Agência Brasil:

"A gente tem uma grande variedade de situações de municípios, como Caxias, que estão em situação grave. Há outros em situação mais confortável, mas a gente não sabe se isso vai ser suficiente. Mesmo em Belo Horizonte, que tem um bom número de leitos por habitantes, haverá um estrangulamento nas próximas semanas", observou.

O levantamento revelou que 1,6 milhão de pessoas de baixa renda moram a uma distância maior do que 5 quilômetros de uma unidade de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) capaz de receber pacientes que desenvolvam síndrome respiratória aguda grave (SRAG) - a manifestação mais severa de covid-19. Essa parcela da população está na faixa acima de 50 anos e pertence ao grupo dos 50% mais pobres.

O número corresponde a 41% da população vulnerável em grandes centros urbanos. O levantamento - realizado nas 20 maiores cidades do Brasil - mostra também que há cerca de 230 mil brasileiros que levariam mais de 30 minutos para chegar a um hospital em casos de emergência. Essas pessoas teriam dificuldade de acessar uma unidade de saúde capaz de fazer triagem ou encaminhar casos graves de covid-19 para internação.

De acordo com o pesquisador, no caso de Duque de Caxias, apesar de ter um número grande de pacientes que chegam de fora, também ocorre a situação de moradores do município que buscam atendimento em outras cidades. "No caso de Caxias, uma coisa compensa a outra. Fica elas por elas". Pereira lembrou que o próprio prefeito de Caxias, Washington Reis (MDB-RJ), foi internado com o novo coronavírus em um hospital privado de Botafogo, na zona sul do Rio.

A pesquisa mostrou que, na cidade do Rio de Janeiro, todos os pacientes se internam no próprio município, mas há uma procura externa que equivale a 30% da demanda interna. "É como se houvesse 100 pessoas que moram no Rio internadas no hospital, com mais 30 de outros municípios procurando leitos", explicou.

O estudo indicou desigualdades no atendimento de saúde em todas as 20 maiores cidades do Brasil. A região central das grandes capitais registra o maior número de hospitais, com mais oferta de leitos de tratamento intensivo e respiradores mecânicos, do que as regiões de periferia, onde há mais dificuldade de acesso ao sistema de saúde. "As populações de periferia que mais dependem do SUS e são mais vulneráveis de contágio de covid-19, onde se tem a pior condição de urbanização, de saneamento básico, são as que infelizmente têm a pior condição de saúde", apontou Pereira.

Técnico de planejamento e pesquisador da Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur) do Ipea, Rafael Pereira, que coordenou o estudo, informou que a terceira análise do projeto leva em consideração a disponibilidade de leitos e respiradores por habitantes. O coordenador informou que, na média para as 20 cidades analisadas, o SUS dispõe de 1,1 leito de UTI adulto com respirador para cada 10 mil habitantes - número que está próximo do que é indicado pelo Ministério da Saúde. No entanto, essa quantidade é recomendada em situação de normalidade, não para cenários em que casos de internação ou de problemas de respiração crescem em alta velocidade. "A gente não está em situação de normalidade. Então, aquela disponibilidade de 1,1 leito para cada 10 mil habitantes, muito provavelmente, não vai dar conta do estrangulamento que a gente vai enfrentar nas próximas semanas. Em alguns estados a gente já está passando por isso. Manaus, no Amazonas, já está em situação crítica."

Essas duas análises trazem informações que podem ser úteis às prefeituras, já que apontam no mapa os bairros dessas cidades onde as pessoas têm maior dificuldade de acessar o SUS. "Esses são os bairros que, de maneira mais prioritária, as prefeituras podem se concentrar em ações para fornecer atendimento pré-hospitalar, por exemplo, com serviços de ambulância ou mesmo com equipes de agentes comunitários de saúde para fazer o atendimento domiciliar", sugeriu Rafael Pereira. Ele apontou ainda que a pesquisa também pode orientar os locais para a construção de hospitais de campanha, para aumentar, de maneira mais eficaz, a capilaridade e o alcance da rede de saúde.

Segundo o pesquisador, nessa faixa de renda as pessoas são muito mais dependentes do SUS e, dificilmente, podem utilizar o sistema de saúde privado. "Em geral, as pessoas de baixa renda moram em regiões mais afastadas, com menos oferta dos serviços de transporte e de saúde. Vários estudos no Brasil e no exterior têm mostrado que, para pessoas acima de 50 anos, a manifestação do novo coronavírus tende a ser mais agressiva e a piorar para uma infecção mais grave", afirmou.

Decreto em preparação marca guinada muito rápida na orientação da Prefeitura, última a decretar isolamento social
Há menos de duas semanas, a prefeitura de Duque de Caxias publicara o Decreto Municipal n. 7.578, prorrogando até 31/5 a data de validade das medidas de prevenção e enfrentamento da propagação ao contágio decorrente do novo Corinavírus (Covid-19) na cidade. De acordo com o artigo 10° do decreto, seguiriam suspensas até o dia 31/05, as atividades comerciais como cinemas, shopping centers e estabelecimentos comerciais similares, além de bares e botecos. O documento também suspende pelo mesmo período a frequência da população a piscinas, rios e cachoeiras do município.

O decreto não se aplicava a supermercados, farmácias e serviços de saúde, como hospitais, clínicas, laboratórios e estabelecimentos congêneres, em funcionamento no interior de shopping centers, centro comerciais e estabelecimentos análogos. O objetivo da determinação do Governo Municipal é resguardar o interesse da coletividade na prevenção do contágio e no combate da propagação do COVID-19, diante do aumento de pessoas contaminadas. O documento também reconhecia a manutenção da situação de emergência no município por tempo indeterminado.


Rede de saúde ampliada é o trunfo da Prefeitura para retomar atividades sem gerar colapso nos hospitais

A principal aposta da prefeitura de Duque de Caxias para relaxar o distannciamento social é a inauguração, no dia 4 de maio, do Hospital Municipal São José, exclusivo para atender pacientes diagnosticados com o novo Coronavírus. A unidade de saúde tem disponíveis, atualmente, mais de 40 leitos com respiradores. A Prefeitura se prepara, ainda, para entregar à população, pelo menos, 56 leitos de CTI com a abertura do 4º andar do Hospital Municipal Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo. Outros leitos para tratamento da Covid-19 poderão ser utilizados também na nova Policlínica, no Centro, e na abertura da Maternidade de Santa Cruz da Serra.

Link do decreto: https://drive.google.com/file/d/1NPQVeWGSarqcQtYA3ckFzFh2gkZiOUP1/view

Fonte: Agência Brasil e site da Prefeitura de Duque de Caxias

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