Mesmo em tempos de pandemia de covid-19, gerada pela propagação do coronavírus, os traficantes de facções rivais não dão trégua para a 'quarentena' quando o assunto é a disputa por territórios na região. O foco agora engloba áreas do Barro Vermelho e do Pita, em São Gonçalo, controladas pelo Comando Vermelho (CV). E quem tenta invadir os territórios são traficantes do Terceiro Comado Puro (TCP).
Quadrilhas do CV e do TCP lutam para ocupar territórios rivais e, assim, expandir ainda mais os 'negócios', que incluem não apenas o tráfico de drogas, mas também a arrecadação de dinheiro para a exploração de mototaxistas, motoristas de aplicativos e de canais de TV a cabo clandestinos conhecidos como 'Gatonet'. Traficantes do TCP, logo após a morte de Thomas Jayson Vieira Gomes, o 3N, em novembro do ano passado, durante operação policial em Cabuçu, Itaboraí, decidiram se associar a milicianos para tentar fazer frente ao CV na disputa. A disputa, que se intensificou em Itaboraí, com um 'racha' entre dois grupos paramilitares, no mês passado, agora começa a se intensificar em São Gonçalo.
Na cidade, o território em disputa abrange os bairros do Barro Vermelho e o Pita, áreas de grande concentração de moradores, com proximidade a pontos importantes do poder público em São Gonçalo, como o Fórum de Santa Catarina, em região vizinha. Há duas semanas, Traficantes do TCP reiniciaram os confrontos, com tentativas de invasão de áreas dominadas pelo CV nas comunidades conhecidas como Rua da Feira e Coreia. Segundo investigações da polícia, o TCP montou uma 'base' no Complexo da Alma, no Coelho, para receber criminosos do Complexo da Maré é, dessa forma, formar 'bondes' armados, para atacar a quadrilha do CV nesses locais. Pelo lado dessa facção, quem comanda as ações é um criminoso identificado pela polícia apenas como "Jogador", acusado de gerenciar áreas do Engenho Pequeno, junto com o comparsa Chapolim.
Eles têm ordens expressas das lideranças da facção de retomar os territórios que ficaram durante semanas com o TCP, em meados do ano passado, mas acabaram voltando para o o grupo de Leilson Ferreira Fernandes, de 33 anos, o "Pivete", integrante da terceira geração da 'Família Passarinho', que há anos têm membros com ligação na criminalidade no Barro Vermelho e no Pita. Com oito mandados de prisão em aberto, ele só conseguiu voltar ao poder com ajuda de pessoas que estão dentro de presídios, orquestrada, segundo a polícia, por Walace Batista Soalheiro, o Pixote, que foi alçado a uma das principais liderança do CV, em SG, com a morte de Luiz Carlos Gomes Jardim, o Luiz Queimado, em junho do ano passado, na Bahia, em decorrência de câncer nos ossos.
Pixote, líder do Complexo da Coruja, em Neves, e de ouros pontos de venda em SG, como o Campo Novo e a Rua dos Eucaliptos, na região de Maria Paula, tem mandado reforços da primeira comunidade a Pivete. No início do mês, a justiça negou um habeas corpus para que Pixote pudesse cumprir a pena em regime semiaberto. Os advogados do traficante alegavam que ele poderia ser contaminado pelo novo coronavírus. Pixote permanece preso em uma unidade do Rio de Janeiro.
Pixote. Divulgação: PCRJ
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Segundo levantamentos de setores de Inteligência da Polícia, o TCP retomou o interesse em expandir seus domínios não apenas em São Gonçalo, mas também em Niterói e Itaboraí. Na primeira cidade, já mantém 'bases' nos Morros do Santo Cristo e na Palmeira, na Zona Norte da cidade.
Itaboraí
Já em Itaboraí, quem está financiando a associação entre o grupo dissidente de milicianos é o traficantes Álvaro Malaquias Rosa, o Peixão, apontado como o responsável pelo comando do tráfico de drogas nas comunidades de Parada de Lucas e Cidade Alta, no Rio. Tudo que está fazendo, segundo as investigações policiais, tem comum acordo com outras lideranças do TCP, que ao contrário da quadrilha que age no Complexo da Maré, são favoráveis à união com membros de grupos paramilitares.
A polícia descobriu que, após a megaoperação que praticamente desarticulou a milícia em Itaboraí, em agosto do ano passado, grupo paramilitar liderado, de dentro de um presídio, por Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando de Curicica, 'rachou'. De um lado, está a ala liderada por uma mulher, Rosane Moreira da Silva, a "Tia", que é sogra de um homem identificado como Eduardo Negão. Do outro, milicianos comandados por Renato Nascimento Santos, o Renatinho Problema, ou Natan, 'pupilo' de Curicica, que também está preso. Informações dão conta que para tentar fortalecer seu grupo, Renatinho abriu espaço para os criminosos do TCP. Mesmo encarcerado, encontrou no grupo de Peixão o apoio necessário para brigar pelas áreas do Centro, Nancilândia, Visconde e Porto das Caixas.
O São Gonçalo