A edição extraordinária do Diário Oficial do Estado nesta quarta-feira (3/6), estampou a exoneração do secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão. O agora ex-secretário foi citado nos relatórios do Ministério Público Federal (MPF) que deram origem à Operação Favorito. A Operação levou à prisão o empresário Mário Peixoto e o ex-sub-secretário executivo da Saúde, Gabriell Neves. O nome foi cunhado pela impressionante acumulação de contratos com o Poder Público de Mário Peixoto e as empresas a que se associava. Pode ser usado, contudo, para definir a força que um amigo de Peito, Lucas Tristão, contava no governo.
Menos de uma semana antes da exoneração desta quarta (30/6), Lucas Tristão dera uma prova de força política no governo estadual. Em meio ao cenário de preocupação jurídica e emergência sanitária, o governador exonerou na noite de quinta-feira, 28/5, os secretários André Moura, de Casa Civil, e Luiz Cláudio Rodrigues de Carvalho, da Fazenda. Ambos eram tidos como adversários internos do secretário de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão. Na esteira desse movimento, o líder do governo na Assembleia Legislativa, Márcio Pacheco (PSC), entregou o cargo.
Na manhã da mesma quinta, 28/5, longo dia encerrado com a demissão de dois dos mais fortes secretários do seu gabinete, Witzel O foi alvo de mandados de busca e apreensão no Palário Laranjeiras, residência oficial, em em sua casa no Grajaú. O governador, em operação anunciada por aliados do presidente Bolsonaro (como as deputadas Carla Zambelli e Bia Kicis) desde a semana anterior, teve três celulares e três computadores levados pela PF. A investigação apura a relação de Witzel com o esquema de corrupção na Saúde em meio à pandemia.
Na mesma data (28/5), o partido Republicanos, do Prefeito do Rio, Marcelo Crivella, e dos recém-filiados filhos do presidente Jair Bolsonaro (Eduardo, Flávio e Carlos) anunciou que deixa a base do Governo Witzel, diante dos indícios de corrupção na Secretaria de Estado de Saúde. A nota oficial do PR informava que o secretário de Trabalho e Renda, Jorge Gonçalves, apresentaria carta de renúncia ao governador. Fato confirmado no dia seguinte, 29/5.
No sábado, 30/5, foi a vez de Edmar Santos pedir exoneração do cargo de secretário extraordinário de Acompanhamento da Covid-19. Santos fora nomeado pelo governador Wilson Witzel após deixar o cargo de secretário de Estado da Saúde. Santos é investigado por desvios na construção de hospitais de campanha e na compra de respiradores para equipar as unidades de saúde. Com a decisão, Santos perdeu o foro privilegiado.
Como secretário extraordinário de Acompanhamento da Covid-19, Santos era responsável por gerir o conselho de notáveis, formado por especialistas e professores universitários e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que discutiam as ações de combate à pandemia no estado.
Titular da 6ª Vara de Fazenda Pública do Rio, a juíza Regina Chuquer determinara o afastamento de Edmar Santos do cargo de secretário extraordinário de Acompanhamento da Covid-19. O texto da decisão sustentava que apesar de responsabilidade e livre escolha do governador na nomeação de membros do secretariado, "essa discricionariedade não é um cheque em branco". A nomeação de Edmar Santos para outro cargos, após as denúncias de corrupção dentro da secretaria, não cumpre os princípios constitucionais de moralidade e probidade administrativas.
O governo do estado informara na sexta, 29/5, que cumpriria a determinação da Justiça, mas que recorreria da decisão. Disposição que terminou atropelada pelos fatos.
O governador Wilson Witzel, com a decisão, tenta melhorar as relações com a Assembleia Legislativa. A mesa diretora, que já rejeitou a abertura de uma CPI da Saúde, tem dez pedidos de impeachment do governador em mãos. Lucas era o pivô dos desentendimentos com parlamentares, como o presidente André Ceciliano, há mais de um ano.