O presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, confirmou o envio de dois milhões de doses de hidroxicloroquina ao Brasil. Trump renovou a promessa ao ser questionado pela repórter Raquel Krakenbuhl, correspondente da GloboNews em Washington. Momentos antes, a FDA (Food And Drug Administration), toda-poderosa agência de vigilância sanitária dos Estados Unidos da América, revogara a a autorização excepcional para o uso de substâncias com base em cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus.
A decisão foi anunciada na tarde desta segunda-feira, 15 de junho, no site oficial do CDC (Coronavirus Disease Control), o comitê responsável pela política oficial de combate à pandemia nos EUA.
Trump argumentou que havia tomado a substância e estava bem de saúde. (Não tenho do que reclamar. Tomei por duas semanas e estou aqui. Muita gente diz que (a cloroquina) salvou muitas vidas,! argumentou. O presidente americano não testou positivo para Covid-19. Trump chegou a admitir para a repórter brasileira não saber da decisão tomada pela principal agência de saúde do país que preside. Os Estados Unidos registram o maior número de mortes pela doença em todo o planeta, pouco menos de 116 mil, e o maior contingente de casos confirmados.
A mudança foi decidida com base na revisão contínua das evidências científicas disponíveis para o sulfato de hidroxicloroquina (HCQ) e fosfato de cloroquina (CQ) no tratamento da Covid-19. A FDA, agência que controla remédios e alimentos nos Estados Unidos da América, determinou que os critérios para o uso nos EUA, descritos no artigo 564 (c) (2) da Lei de Alimentos, Medicamentos e Cosméticos, não são mais atendidos.
Especificamente, a FDA concluiu com base nos estudos disponíveis que é improvável que o CQ e o HCQ sejam eficazes no tratamento do COVID-19 para os usos autorizados nos EUA. Além disso, à luz dos eventos adversos cardíacos graves e outros efeitos colaterais graves, os benefícios conhecidos e potenciais de CQ e HCQ não superam os riscos conhecidos e potenciais para o uso autorizado. Isso garante a revogação de hidroxicloroquina e cloroquina para o tratamento da Covid-19 em território norte-americano.
Até esta segunda-feira, valia uma autorização excepcional, que não corresponde à licença plena para medicamentos nos Estados Unidos. Em certos tipos de emergências, o Secretário do HHS (Human en Health Services, sigla em inglêns par o Departamento de Serviços de Saúde Humana dos EUA) pode emitir uma determinação e declaração sob a Lei de Medicamentos e Alimentos, que permite ao FDA emitir autorizações de uso de emergência para facilitar o acesso a contramedidas médicas (medicamentos, produtos biológicos, vacinas e dispositivos) para diagnosticar, tratar ou prevenir uma doença ou condição grave em uma emergência de saúde pública.
Os produtos autorizados para uso dessa maneira podem não ser aprovados pelo FDA para qualquer uso ou podem ser aprovados para outros usos, mas não para uso emergencial. A FDA decide se o uso do produto provavelmente será mais útil do que prejudicial para o uso emergencial; ou seja, a agência determina que os benefícios conhecidos e potenciais dos produtos médicos para os usos pretendidos superam seus riscos conhecidos e potenciais. Esta autorização é reservada para situações de emergência e NÃO é a mesma que a aprovação ou licenciamento da FDA.
Esta autorização de emergência (EUA - Emergency Use Authorization) permitia a administração de fosfato de cloroquina e sulfato de hidroxicloroquina, doados ao Estoque Nacional Estratégico (SNS) e distribuídos aos estados, por prestadores de serviços de saúde licenciados para tratar adultos e adolescentes hospitalizados com COVID-19 que pesassem mais de 50 kg (110 libras). Os medicamentos devem ser utilizados quando a participação em um ensaio clínico não for possível e se o profissional de saúde sentir que o benefício potencial para o paciente supera o risco potencial.
O fosfato de cloroquina ou o sulfato de hidroxicloroquina não eram e não são aprovados pelo FDA para tratar a Covid-19 de forma regular. O sulfato de hidroxicloroquina e algumas versões do fosfato de cloroquina são aprovados pelo FDA para o tratamento da malária. O sulfato de hidroxicloroquina também é aprovado pela FDA para tratar lúpus e artrite reumatóide.
Ainda de acordo com o site da FDA, na pergunta do Q & A (Questions &Answers, formulários de dúvidas mais comuns) quanto à existência de dados mostrando se o fosfato de cloroquina ou o sulfato de hidroxicloroquina podem beneficiar pacientes com Covid-19, a resposta é cautelosa e inconclusive. Isto desde antes da revogação da autorização excepcional de uso, anunciada esta segunda-feira (15/6).
"No laboratório, esses medicamentos demonstraram impedir o crescimento do vírus que causa o COVID-19. Existem alguns relatos de pacientes com COVID-19 que receberam esses medicamentos e melhoraram,' admite o texto. Logo em seguida, o documento do FDA adverte que alguns são relatos de grupos de pacientes, dos quais todos receberam o medicamento, mas não se tem provas de que a cloroquinha e a hidroxicloorquina, e não outros fatores, que provocaram a melhora desses pacientes.
No início do mês, Trump citara Brasil e Suécia como exemplos de fracasso no enfrentamento da pandemia
Não é o primeiro desencontro entre os dois aliados, principais governantes a combater o isolamento social e defender a cloroquina como principál arma para combater a pandemia. A Deutsche Welle, com base na Reuters, lembra que durante numa coletiva de imprensa na Casa Branca, Trump afirmou que o "fechamento" adotado pelos EUA foi responsável por salvar milhões de vidas e que caso o país tivesse seguido a estratégia de imunidade de rebanho – deixando simplesmente o patógeno se espalhar para que a população adquira imunidade à doença – o número de mortos poderia ser "pelo menos dez vezes maior" do que o balanço atual. Na época da entrevista, no início do mês, os mortos nos EUA somavam 108.664.
Essa estratégia de "imunidade de rebanho" é defendida pelo presidente Jair Bolsonaro e integrantes de seu governo. No país, as quarentenas realizadas partiram até o momento de governos estaduais e municipais.
O presidente americano citou então o Brasil e a Suécia como exemplos de países onde a imunidade de rebanho não deu certo. "Se você olha para o Brasil, eles estão num momento bem difícil. E, falando disso, continuam falando da Suécia. A coisa voltou para assombrar a Suécia. A Suécia também está passando por dificuldades terríveis. Se tivéssemos agido assim, teríamos perdido 1 milhão, 1,5 milhão, talvez 2,5 milhões ou até mais", disse Trump.