As Nações Unidas apelaram ao Egito, Etiópia e Sudão para que “trabalhem em conjunto” na resolução do diferendo sobre a construção da barragem do Nilo, na Etiópia, que deverá ser analisado pelo Conselho de Segurança.
“Instamos o Egito, a Etiópia e o Sudão a trabalharem em conjunto para intensificar os esforços no sentido de resolver pacificamente os conflitos em curso”, afirmou o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, no ‘briefing’ diário.
O porta-voz recordou “a importância da declaração de princípios de 2015 sobre a barragem” que sublinha a necessidade de uma cooperação baseada na boa-fé, no Direito internacional e no objetivo do benefício mútuo.
A pedido do Egito, o Conselho de Segurança da ONU marcou uma reunião informal por videoconferência sobre o conflito entre os três países, com participação dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Liga Árabe.
Segundo uma fonte diplomática, não se espera qualquer decisão nesta sessão.
Conflito
Anteontem (21), o Sudão tinha advertido para a escalada do conflito após o fracasso das negociações sobre um acordo para o enchimento do reservatório e a entrada em funcionamento da Grande Barragem do Renascimento, localizada na Etiópia.
A Etiópia quer começar a encher o reservatório já em julho, com ou sem o acordo dos outros dois países.
O Egito, que considera este projeto uma ameaça “existencial”, tinha apelado à intervenção do Conselho de Segurança das Nações Unidas, citando a atitude “negativa” da Etiópia e a sua “insistência em querer encher a barragem unilateralmente”.
Enquanto a Etiópia considera que a barragem de 145 metros de altura é essencial para o seu desenvolvimento e eletrificação, o Sudão e o Egito receiam ver limitado o seu acesso à água.
O Egito argumenta que um enchimento demasiado rápido pode reduzir a quantidade de água que chega ao país e da qual depende quase inteiramente.
O Sudão poderá, no entanto, recolher alguns benefícios, como o fornecimento de eletricidade e a regulação das cheias do rio.
Grande Barragem do Renascimento
A Grande Barragem do Renascimento, que a Etiópia está a construir no Nilo Azul – que se junta ao Nilo Branco no Sudão para formar o Nilo, que abastece o Egito, – deverá tornar-se na maior central hidroelétrica em África e tem sido uma fonte de tensão entre Adis Abeba e o Cairo desde 2011.
Após nove anos de impasse nas negociações, os Estados Unidos e o Banco Mundial têm vindo a promover, desde novembro de 2019, discussões destinadas a chegar a um acordo entre os três países.
O Nilo, que percorre cerca de 6.000 quilômetros, é uma fonte vital de abastecimento de água e eletricidade para pelo menos 10 países da África Oriental.
A barragem, orçamentada em 4,6 milhões de dólares, cerca de 4,2 milhões de euros, tem como objetivo garantir eletricidade a mais de 70 milhões de etíopes.