"Nunca corri para ganhar a primeira colocação ou para subir ao pódio. O objetivo é fazer tremular a bandeira do autismo. Por isso participo de inúmeras competições e, inclusive, ano passado nos tornamos embaixadores da Maratoninha do Rio", explica o vendedor autônomo, ultramaratonista e morador de Mesquita Narbal Fernandes, de 38 anos.
Pai da menina autista Alícia Fernandes, de seis anos, ele conta que logo após a definição do diagnóstico sobre autismo da filha, percebeu que a falta de informação gerava muito preconceito. Segundo o ultramaratonista Fernandes, no final de 2016 a decisão de fazer alguma coisa para combater o comportamento preconceituoso da sociedade pulsou forte em seu coração. "Como sempre fui corredor de maratonas, escolhi mudar a categoria do esporte e encarar as ultramaratonas, sempre visando chamar atenção à conscientização do autismo", frisa.
Ele destaca que o esporte é a melhor ferramenta para a inclusão. Perguntado sobre a importância da visibilidade para o autismo, Fernandes diz que a falta de informação gera muito preconceito. "Precisamos falar, conscientizar, lutar pela inclusão e principalmente contra o preconceito contra pessoas com deficiência de uma forma em geral. A batalha apenas começou. Eu enfrento essa luta correndo,despertando a atenção, porque precisamos de mais campanhas, de mais estudos, de mais palestras e mais eventos sobre autismo", afirma.
Mas o que efetivamente pode se fazer para que a criança autista seja incluída de verdade na escola e na sociedade? Para Fernandes, a inclusão social é uma grande barreira para a plena vivência das crianças com deficiência. "O conceito de inclusão tem a noção de pertencimento. Para ser incluída, uma pessoa precisa fazer parte dos grupos familiar, social e escolar. Praticar a inclusão é aceitar e incentivar a diversidade. Daí a importância das campanhas de inclusão e conscientização", avalia.
A entrega para despertar o interesse para a questão da inclusão de Fernandes e da esposa dele, Aletha Fernandes, também atleta, mas afastada do esporte por conta da atenção aos cuidados com a Alícia e com a mãe, diagnosticada com Alzheimer, ganhou um impulso marcante. É que no ano passado, em abril, mês dedicado à conscientização do autismo, Alicia foi convidada pela diretoria do Flamengo para entrar em campo com os jogadores, representando a criança autista. "Foi num Fla x Flu. Estávamos nervosos antes do jogo, pois não sabíamos como ela iria se comportar, mas graças a Deus deu tudo certo. Foi um momento mágico. Alícia brincou, curtiu, conheceu todos os jogadores do Flamengo. Ela entrou em campo no colo do Bruno Henrique", diz o pai flamenguista, contendo as lágrimas.
Alícia no colo do Jogador Bruno Henrique do Flamengo.
Sobre a relevância da presença do pai na vida de uma criança autista, Fernandes é enfático. "Sinto orgulho em ser um pai mais que presente para minha filha e ajudar a minha esposa em tudo. Falo isso como obrigação de um homem numa relação, não querendo ganhar um troféu ou ser reconhecido por isso. Só faço o meu papel de pai", define o ultramaratonista que antes da pandemia acordava antes das 5 da manhã para treinar, porém com a pandemia, que mexeu com a rotina da família, não está conseguindo manter os treinos.
O tempo para Fernandes é precioso. Pai presente em todos os momentos da educação da filha e dos cuidados com a sogra, ele ainda consegue pensar nas pessoas que têm crianças com alguma deficiência e precisam de auxílio para enfrentar a pandemia sem emprego, sem renda. "Desde o início da pandemia, o que eu tenho feito são doações, principalmente para famílias de crianças com deficiência. Já preparei 100 quentinhas em casa, já distribui kit lanches, cestas básicas e agora na última semana, fiz a distribuição de alimentos que consegui promovendo uma Live do Grupo Molejo", finaliza.