Inquérito sorológico feito pelo Ministério da Saúde em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) estima que o número de brasileiros infectados pelo coronavírus seja seis vezes maior do que as estatísticas oficiais. A importância destes inquéritos, que são pesquisas que mapeiam a concentração de pessoas atingidas pela doença a partir de testagem aleatória, foi salientada pelos debatedores que participaram nesta quarta-feira (8) de audiência pública da Comissão Externa da Câmara que acompanha as medidas de combate à Covid-19.
Os primeiros resultados do inquérito do Ministério da Saúde, que envolveu 90 mil pessoas em todo o país, mostram uma média de 4% da população contaminada. O reitor da UFPEL, Pedro Hallal, coordenador da pesquisa chamada Epi-Covid, deu outros detalhes: indígenas que vivem nas cidades têm cinco vezes mais chances de se infectar do que a média; crianças são contaminadas com a mesma intensidade, mas com gravidade menor. Além disso, a doença reflete as desigualdades sociais do país.
Novo coronavírus chegou de avião, pelos ricos, mas desde maio pobres são maioria dos casos de Covid-19
“Em cada fase do Epi-Covid, os grupos mais pobres da população tiveram pelo menos o dobro do risco de terem infecção do que os grupos mais ricos, e esse resultado, ele é marcante especialmente por sabermos que se trata de uma doença que chegou no Brasil de avião, pelos grupos mais ricos da população, mas já a partir do meio de maio, quando começamos a fazer o Epi-Covid, já é uma doença mais frequente entre os grupos mais pobres da população”, observou Hallal. Pedro Hallal pediu prioridade para que esse monitoramento continue, mas os representantes do Ministério da Saúde na audiência pública não se pronunciaram sobre a garantia de manutenção dos estudos.
São Paulo, onde primeiro caso foi registrado, teria nove vezes mais infectados do que os dados oficiais apontam
Durante a audiência, foram apresentados resultados de outros inquéritos sorológicos. Em Fernando de Noronha, depois de 900 habitantes serem testados, ficou comprovado que não existe transmissão comunitária e a doença está controlada na ilha. Apesar disso, protocolos de entrada de trabalhadores de serviços essenciais e de moradores foram modificados.
Na cidade de São Paulo, a projeção feita a partir do inquérito demonstra a presença de anticorpos do coronavírus em 9,5% da população. Seriam 1 milhão e 160 mil pessoas, bem mais do que os 156 mil infectados confirmados pelos números oficiais citados pelo secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, que deu exemplo da utilidade prática desses resultados.
“Uma pessoa testada, em uma Unidade (nossa) Básica de Saúde por PCR e sendo testada positivo, nós imediatamente vamos fazer a testagem de cinco membros da família desta pessoa, vamos dar um atestado para que estas pessoas fiquem 10 dias em casa – que é o período que elas poderiam eventualmente, assintomáticas, transmitir a doença – e, com isso, tentar fazer um controle, um monitoramento mais acentuado no território”, disse.
Mapear as rotas de transmissão do vírus, mesmo passado o pico, é essencial na busca de vacina eficaz
O representante da Fundação Oswaldo Cruz, Rivaldo da Cunha, ressaltou a importância das pesquisas para mapear as rotas de transmissão do vírus e sugeriu que os inquéritos continuem por pelo menos mais dois anos, para subsidiar inclusive a busca de uma vacina eficaz.
Autor do requerimento para a realização da audiência pública, o deputado Alexandre Padilha (PT-SP) salientou a variedade e a relevância dos inquéritos sorológicos que estão sendo feitos atualmente no país. “Nós temos inquéritos coordenados por universidades federais, por prefeituras, por uma Agência Nacional de Águas junto com uma universidade federal, por um governo do estado junto com universidade federal, ou seja, a importância de instituições públicas sólidas, que tenham continuidade nos seus quadros, na sua capacidade técnica, inclusive trazer evidências científicas para a tomada de decisão nas políticas públicas”, observou Padilha.
O representante da Agência Nacional de Águas, Sérgio Ayrimoraes, apresentou resultados de uma pesquisa que detecta a presença do coronavírus no esgoto de Belo Horizonte e Contagem, em Minas Gerais. Os resultados mostraram um aumento na estimativa de infectados de 20 mil para 50 mil pessoas em quatro semanas de coleta.
Fonte: Agência Câmara de Notícias