A Polícia Civil, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) desencadearam hoje (23) a Operação Magnatas com o objetivo de prender integrantes da maior quadrilha de clonagem de veículos de luxo no estado. Na ação, quatro pessoas foram presas e três conduzidas para esclarecimentos, um carro clonado foi apreendido e um desmanche interditado (oficina clandestina).
De acordo com as investigações, o grupo chegava a aceitar pedidos de carros por encomenda e roubava os veículos principalmente nas zonas Norte e Sul da cidade. Os carros roubados eram fornecidos em um grupo de conversa de aplicativo. Carros de luxo, que valiam mais de R$ 100 mil, eram negociados pela quadrilha por até R$ 8 mil.
A quadrilha tinha como base os morros do Turano e Paula Ramos, no Rio Comprido, zona Norte do Rio. Os integrantes possuíam funções específicas dentro da organização, como clonagem de veículos, venda, roubo, receptação, adulteração de sinal identificador de veículo automotor (clonagem), falsificação de documento, negociação ilegal de armas de fogo, entre outros. Os criminosos teriam praticado mais de 100 roubos de automóveis por ano num valor aproximado de R$ 5 milhões.
A apuração apontou que o esquema funcionava com parte do bando encomendando veículos aos responsáveis por praticarem roubos na região da grande Tijuca, Centro, Botafogo, além de outros bairros das zonas Norte e Sul. Após os roubos, os veículos eram totalmente adulterados, passando a ostentar placa, número de chassi, numeração do motor e até documento em papel original para dar mais veracidade a fraude.
Após a adulteração dos carros, os criminosos ofereciam os veículos por preços bem abaixo do mercado aos receptadores, inclusive para outros estados. Em alguns casos, o bando conseguia os compradores para um veículos específico que era encomendado aos roubadores e posteriormente clonado. Dentre os diversos veículos roubados e adulterados muitos eram considerados de luxo.
A polícia aponta Thiago Fernandes Virtuoso, o Comel, como o responsável por fornecer os carros roubados para serem vendidos.Ele está foragido e tem seis mandados de prisão em aberto e mais 40 anotações criminais.
Oficina clandestina
Depois do roubo, os veículos eram encaminhados a uma oficina clandestina no Morro do Turano, no Rio Comprido, onde eram preparados para as vendas. As investigações apontam que Thiago é o maior clonador de veículos do estado e que a quadrilha controlava o crime desde o roubo, até a clonagem.
"Eles tinham uma estrutura de clonagem de veículos, eles tinham estrutura de fazer os documentos dos carros e tinham uma pessoa responsável pela venda, que inclusive vendia pra outros estados do Brasil", explica o delegado Vinícius.
Quem recebia e negociava os carros já clonados, segundo a polícia, era Renan Gustavo Santana de Freitas, o Magnata. Ele é apontado como chefe da quadrilha e chegou a ser preso pela PRF no início de julho, quando dirigia um carro roubado e clonado na Avenida Brasil. Hoje, ele responde em liberdade.
Mensagens ajudaram polícia
Dentro do carro dirigido por Renan, a polícia encontrou um celular. A partir da quebra de sigilo telefônico, os investigadores encontraram as mensagens trocadas entre os criminosos e descobriram como a quadrilha operava.
Em áudios, Renan fala sobre alguns carros já roubados e explica como funcionavam as encomendas:
"Pegou a visão? O jipe tá aqui na frente, o cruiser tá aqui, XJ, tá aqui. Entendeu? São meus, meus, pegou a visão? Aí, você escolhe. Qual o que tu quer, vem, confere e paga. Na hora. Entendeu? Agora, se você quiser agora, se você quiser carrinho por encomenda, aí, eu tenho que mandar os pitt bull ir pra rua, filho", escreveu Renan.
De acordo com a polícia, 'pitbull' é como a quadrilha chama os ladrões que roubam carros na rua. Alguns deles são menores de idade.
"Quando os menores chegar, voltar com o carro, tenho que pagar os carros pro menor. Os menor já volta fissurado, cheio de adrenalina, eu tenho que pagar. Entendeu? Não adianta. Aí, eu não posso tirar do meu bolso, pagar um carro pra você, uma encomenda tua. Entendeu? Não dá, fica ruim", explica.
Segundo as investigações, a quadrilha tinha acesso inclusive a dados do Departamento Estadual de Trânsito do RJ (Detran) para confeccionar placas de veículos a serem roubados a pedidos dos clientes:
"Faço, titio, faço. Faço doc. de carro sim. Fala pra mim... da onde o carro? É o que que você quer, entendeu? Não tem como dar o preço de uma coisa que eu não sei o que que você quer. Você quer o que? Recibo? Você quer o "verdinho" pra rodar? Qual estado? Tem que ver se eu tenho aqui", escreve Renan na mensagem.
Quem compra carros clonados é indiciado
O delegado responsável pela investigação diz que quem compra carros roubados por encomenda por ser indiciado por envolvimento nos crimes praticados pela quadrilha.
"Eles não estão só participando da receptação do veículo. Eles podem ser enquadrados inclusive na participação pelo roubo, porque eles estão escolhendo o modelo. Então, o ladrão vai para rua para roubar o carro que foi encomendado por aquele destinatário final", conclui.