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O Rio perde Cristina Chacel, jornalista e escritora, 61 anos

Com passagem pelas principais redações, abordou em livros os contrastes e desafios do Rio, em parceria com fotógrafos como Rogério Reis e o marido Custódio Coimbra

Por Portal Eu, Rio! em 28/07/2020 às 22:51:10

Ao lado do parceiro de vida e rabalho Custódio Coimbra, Cristina Chacel registrou o cotidiano do Rio e os contrastes da vida brasileira em livros, reportagens e postagens nas redes sociais, como a que

Morreu nesta terça-feira, 28/7, a jornalista e escritora carioca Cristina Chacel, 61 anos. O obituário publicado pela Associação Brasileira de Imprensa destaca a longa trajetória profissional e política de Cristina, filha do economista Julian Chacel, da Fundação Getúlio Vargas. Cristina, lembra o perfil publicado pela ABI, tinha apenas nove anos, em dezembro de 1968, quando foi decretado o AI-5 no país, mas já no final da década de 1970 integrava as grandes redações, cobrindo a greve e fome dos presos políticos em favor da anistia irrestrita e a volta dos exilados ao país, em 1979.



A família informou nas redes sociais de jornalistas que o velório de Cristina será na quarta-feira, 29/7, a partir da 9 horas, no Memorial do Carmo, no Caju. A cerimônia é aberta a todos, com máscaras, e entrarão grupos de cinco ou dez pessoas de cada vez, dependendo do tamanho da capela. A cremação será ao meio-dia, fechada para a família.

Cristina Chacel passou pela Última Hora, Radio Jornal do Brasil, Jornal do Brasil e O Globo. Atuou como repórter, redatora, subeditora e colunista e, na maior parte do tempo, na área de economia e finanças, trabalhando ainda com estratégia e planejamento de comunicação, marketing político e criação editorial. Cristina foi também Diretora de Comunicação da SEDES – Secretaria Especial de Desenvolvimento Econômico Solidário – antes de se dedicar à criação de textos institucionais.

O último livro, de 2012, merece um capítulo à parte, pelo mergulho doloroso, mas necessário, em passagens da História brasileira. 'Seu Amigo Esteve Aqui' narra a história do desaparecido político Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto, assassinado durante a ditadura militar no Brasil na Casa da Morte, centro clandestino de tortura montado pelo Exército, em Petrópolis. Cristina começou a elaborar a história do desaparecimento do mineiro Carlos Alberto, em maio de 2009. Para arrolar os fatos que concluíram no assassinado do preso político, foram feitas cerca de 60 entrevistas coletadas por todo o Brasil e que acabaram por se transformar em depoimentos. As várias pessoas ouvidas haviam sido também vítimas.

Com o conhecimento das histórias, que inclui a da presidente Dilma Rousseff, amiga de Beto, a escritora levantou os fatos que tiveram início em 15 de fevereiro de 1971, quando Carlos Alberto foi preso no Rio de Janeiro e nunca mais visto. O depoimento na OAB da militante Inês Etienne Romeu, a única sobrevivente da Casa da Morte, sobre o assassinato dele, seu amigo desde Minas Gerais, e de outros presos foi fundamental para a realização do livro. E a cada testemunho, novos fatos e pistas iam surgindo, acabando por revelar que a Casa da Morte mantinha extensões com crematórios, que eliminavam as pistas. O corpo de Beto até hoje não foi encontrado.

O trabalho de Cristina ajudou a desvendar as trevas, mas também passeou com gosto pela luz. Entre outros livros, a carioca Cristina lançou Janelas Abertas, em coautoria com o fotógrafo Rogério Reis; Bairros do Rio (Neighborhoods) Centro, da Coleção Bairros do Rio, que revela a cidade para o seu morador e o turista, com detalhes da história, arquitetura, tendo mapas e fotografias da cidade; O tatu saia da toca- histórias da internacionalização da Petrobrás; Arte e Ousadia; Rio de Contos 1000, com fotos de Custódio Coimbra. E ainda vários livros publicados com temáticas em políticas públicas e projetos sociais e solidários do Rio de Janeiro.

Cristina Chacel, na descrição dos amigos jornalistas, era uma pessoa alegre, com muitos amigos e que enfrentou a doença de forma corajosa. Ela se preparava para uma viagem à Cuba onde tomaria uma vacina que pode conferir sobrevida de cinco a dez anos ao paciente de câncer, mas seu estado se agravou. Estava internada na Casa de Saúde São José onde faleceu. Era casada com o fotógrafo Custódio Coimbra, com quem teve a filha, Bárbara. Deixa ainda três enteados e três netos.

O marido e parceiro de trabalho, Custódio Coimbra, pai da única filha, destacou o força da companheira de vida no enfrentamento do inevitável, em sua página no Facebook:

" Custodio Coimbra

A tão amada Cristina Chacel passou para um outro mundo.


Poderosa, encarou 15 anos de luta contra o câncer, e nunca deixou assujeitar-se. Nesse tempo festejou muito, viajou, criou uma família linda de 4 filhos e 3 netos, colecionou amigos e semeou afeto e alegria por onde passou.

Lutou com garras e dentes pela vida. Obedeceu às regras, seguiu à risca os protocolos, buscou curas holísticas e se cercou de correntes de apoio.

Após muito padecimento, pegou seu destino nas mãos e escolheu a hora de parar o tratamento desumano. Foi sedada e partiu hoje, sem dor. Encarou a morte de frente, aceitando a natureza fazer o seu papel.


Corajosa e generosa. Inspirou em nós uma força que não sabíamos ser possuidores. Nos deixa ensinamentos de Fé, Política, Liberdade e Ética.

Nada melhor que as palavras dela:


"Esse negócio de morrer é coisa que sempre existiu.

Desde que o mundo é mundo, todo dia morre alguém. De perto ou longe, de raiva ou coração.

Mas o povo se surpreende. Não se acostuma. Desentende.

Analfabeto de vida sofre."

Cristina Chacel, Presente!


Por Portal Eu, Rio!
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