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Tiroteio no Vidigal traz prejuízo a instituição social e deixa morador ferido

ONG que atende socialmente a 126 crianças e 45 mulheres foi atingida por disparos de armas de fogo

Por Portal Eu, Rio! em 31/07/2020 às 23:38:24

Fotos: Linn Falcão

O tiroteio ocorrido no Vidigal, na noite de anteontem (28) deixou um morador ferido e uma instituição social alvejada. O Largo do Santinho, área de concentração do comércio local, foi o palco do confronto entre policiais e traficantes. Ali está localizada a ONG Grupo de Ação Social Comunitária (GASCO), que presta ajuda humanitária durante a pandemia.


A instituição, que tem atendido 170 famílias vidigalenses com distribuição de cestas básicas e ajuda psicológica, estava vazia. Embora nenhuma vida tenha sido ceifada, sonhos foram comprometidos. O prédio que abriga a ONG foi atingido por diversos disparos. Os tiros atingiram o portão, as janelas, o telhado, o muro externo, o espelho da sala de balé e até a van estacionada no pátio. O veículo, que antes da pandemia transportava crianças para a escola e para os eventos culturais ofertados pela instituição, atualmente estava destinado ao transporte das doações de cestas básicas.


Atendimento a 126 crianças e 45 mulheres
Bernadete Soares Pereira, presidente da instituição, levou um susto ao ver os estragos, na manhã do dia seguinte. O prejuízo contabilizado comprometerá o retorno do funcionamento institucional quando a pandemia for superada. A GASCO atendia, antes da pandemia, 126 crianças com aulas de balé clássico, judô, reforço escolar, beach tênis, dança contemporânea e passeios culturais. Além disso, 45 mulheres adultas e idosas praticavam aulas de zumba, artesanato e fazem curso de tranças e penteados afros na instituição.


Prejuízos materiais
A líder comunitária demostra indignação e reclama quem irá arcar com os prejuízos. "Só um espelho daquele é R$ 800. Cada janela daquela é de R$ 70 a 80 para trocar aquele vidro. Quem vai reparar esse dano? A instituição não está tendo atividade por causa da quarentena, mas nós estamos lá todos os dias para entregar cestas básicas, para não deixar faltar o leite para as crianças, para não deixar faltar o arroz e o feijão. Se não é o projeto social dentro da comunidade, não só na nossa, mas em outras também, a população ia passar fome. A gente está sempre com esse olhar de ver quem tá precisando e ajudar. O nosso trabalho é esse. Ficamos um tempo ali cuidando, trabalhando, para depois ver tudo metralhado. Quem é o culpado?", indaga.


Registro de ocorrência
Bernadete fez registro de ocorrência e pediu uma perícia no local. "Alguém tem que ajudar a gente a reconstruir o que destruíram. Eu não sei que treinamento é esse, eles atiram a esmo. Não sei se ficam nervosos, o que acontece. A gente quer fazer um trabalho bacana e acontece isso: começa um tiroteio louco e desvairado. A gente não sabe o porquê e nem se é necessário". Segunda ela, os serviços prestados são importantes no Vidigal. "Afinal, o pandemônio vivenciado na favela não faz quarentena. A solidariedade e o espírito comunitário são ferramentas de sobrevivência, independente da pandemia. As ações sociais em territórios periféricos minimizam mazelas ignoradas pelo poder público. Instituições como a GASCO ensinam esperança a crianças, mostram um lado bom da vida", afirma.

Proibição de ações policiais em favelas

Desde 5 de junho, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, proibiu ações policiais em favelas durante a pandemia. O texto, inclusive, prevê responsabilização civil e criminal em caso de descumprimento. Porém, o governo do Rio de Janeiro recorreu da decisão. Os julgamentos no plenário virtual durarão até terça-feira (4), prazo para que os ministros apresentem seus votos. Até agora, além do próprio relator, três dos onze ministros confirmaram a liminar de relatoria de Fachin (Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski e Rosa Weber). Dos votos declarados, apenas o ministro Antônio de Moraes é contra à suspensão das operações policiais durante o período pandêmico. Ao defender sua posição, Moraes se colocou: "a ausência de atuação policial durante período indeterminado gerará riscos à segurança pública de toda a sociedade do Rio de Janeiro, com consequências imprevisíveis".

Vakinha virtual

Ocorre que tais ações policiais, além de colocarem a vida dos moradores de favelas em risco, impedem outros serviços públicos e sociais. Quando ocorrem tiroteios, o posto de saúde é fechado, o serviço de coleta de lixo é interrompido e o abastecimento de energia é afetado por disparos que costumam atingir a rede elétrica. Além disso, as instituições sociais são impedidas de funcionar ou têm seu patrimônio danificado, como foi o caso da GASCO. Uma ajuda humanitária interrompida à bala. Além dos prejuízos para a retomada das atividades após a pandemia, a instituição não poderá contar com a van que faz o transporte dos alimentos distribuídos às 176 famílias atendidas pela instituição durante esse período. A fim de custear os prejuízos causados pelo confronto, a GASCO está realizando uma vakinha virtual. Quem quiser contribuir, basta acessar a página da instituição no Facebook e clicar na campanha.

Mototaxista baleado
O mototaxista baleado no confronto, Lindemberg Ferreira, de 42 anos, conhecido como Berg, foi socorrido por moradores e levado para o hospital Miguel Couto. A vítima foi operada e permanece internada. Moradores reclamam que a polícia não prestou atendimento. Já, segundo a PM, policiais lotados na UPP do Vidigal foram atacados por criminosos durante um patrulhamento. De acordo a Assessoria de Imprensa da Polícia Militar do Estado do Rio, "os policiais foram informados que uma pessoa havia sido ferida. A equipe conseguiu chegar ao local, ainda ocorrendo disparo na região, no entanto não conseguiu fazer o socorro".
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