A cultura dos homens americanos é considerada conservadora. Um relatório da Organização Pan-Americana da Saúde, derivada da Organização Mundial da Saúde, aponta que um em cada cinco homens da região morre antes dos 50 anos. Muitas dessas mortes estão relacionadas ao que chamamos de "masculinidade tóxica", que tem a ver com as expectativas sociais dos "machos".
Parte do sexo masculino ainda é provedor do lar; ainda são considerados sexualmente dominantes; e não discutem/demonstram suas emoções ou procuram ajuda. Além disso, a América Latina registrou mais de três mil feminicídios em 2019. Isso representa um aumento de 8% em relação ao ano anterior, segundo o Observatório de Igualdade de Gênero da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe.
O comportamento da masculinidade tóxica de muitos homens torna-se um tormento inclusive em diversos relacionamentos, causando o fim de muitos casamentos. "É um termo que se refere a comportamentos, características e formas de olhar o masculino e o que se espera dele, é um estereotipo atribuído aos homens. São comportamentos nocivos tanto para o indivíduo como para aqueles que convivem com ele. A masculinidade tóxica apoia e incentiva comportamentos vistos como "de homem"", explica Rosangela Matos, especialista em relacionamentos, neurocoach e proprietária do instagram "Descomplicando Relações".
Rosangela Matos: "masculinidade tóxica apoia e incentiva comportamentos vistos como "de homem""
Comportamentos nocivos
Com a masculinidade tóxica, alguns pensamentos antigos e enraizados na sociedade tornam-se "normais" na atualidade e até esperados. "Termos usados no cotidiano, como "homem não chora", "homens usam azul e não podem gostar de bonecas", "homem não faz serviço doméstico, isso é papel da mulher", "homem manda dentro de casa", "homem sensível é gay" e "se ele traiu estava faltando em casa", são típicos desse comportamento", avalia Rosangela.
Homem não chora?
De acordo com a especialista, homens com masculinidade tóxica, além de repetirem frases como as acima, têm comportamentos de acordo com elas. "Não falam de suas emoções, desmerecem as mulheres e toda forma de sensibilidade, se recusam a ver a criação dos filhos e divisão de afazeres domésticos como parte de uma relação saudável, estimulam a violência e a praticam de diversas formas, diminuem amigos quando estes não têm os mesmos pensamentos, tentam afastar amigas que são consideradas vadias por se comportarem como homens, rotulam mulheres e se colocam sempre como mais fortes e poderosos que a parceira", enumera.
Sem romantizar
"Não podemos romantizar comportamentos tóxicos! Quando uma mulher percebe que o parceiro tem essa masculinidade tóxica, é importante que ela tenha clareza de que não tem o poder de mudar sozinha os pensamentos e comportamentos dele", afirma Rosangela. Segundo ela, o "peso" do parceiro pode trazer consequências graves para a outra metade da relação, como depressão e baixa autoestima. "Por outro lado, a parceira pode abrir espaço para uma conversa sobre o universo masculino, sentimentos, pressão da sociedade e falar sobre comportamentos tóxicos do parceiro e reforçar que ele pode manter sua masculinidade e ainda assim ser vulnerável. Além disso, pedir a ele que procure ajuda psicológica, grupos de apoio presenciais e online que ajudam homens com este tipo de comportamento", observa a neurocoach.
Comportamento tóxico do homem pode causar depressão na parceira
A especialista explica que essa decisão do parceiro não é fácil e pode não ocorrer imediatamente. "Talvez ele não aceite em um primeiro momento, mas é o caminho para uma mudança efetiva de mentalidade com relação a masculinidade saudável e a tóxica. É uma mudança que acontece de dentro para fora e que só é possível com informação, apoio, acompanhamento de profissionais capacitados e vontade", finaliza.