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WhatsApp ganha sistema de robô para evitar fake news

Ferramenta iniciou atendendo apenas casos de boatos relacionados à pandemia do novo coronavírus

Por Portal Eu, Rio! em 05/08/2020 às 12:35:18

WhatsApp. Imagem: Reprodução

Depois de ter se tornado uma plataforma repleta de desinformação, o WhatsApp ganhou ontem (4) mais uma ferramenta para perder a má fama. O aplicativo de mensagens agora conta com um chatbot —um robô de conversas, em bom português— para checar se aquela "notícia" que chegou no grupo da família, ou do trabalho, é falsa ou enganosa.

O recurso é produzido desde o começo de maio pela IFCN (Rede Internacional de Checagem de Fatos, da sigla em inglês) e estava disponível em mais de 70 países em inglês, espanhol e hindi. Agora é a estreia da versão em português, em parceria com o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio).


Ferramenta contra fake news. Imagem: Divulgação

Por enquanto, a ferramenta atende apenas casos de boatos relacionados à pandemia do novo coronavírus. A proposta da IFCN é que no futuro o robô atenda outros tipos de dúvidas. "Esse chatbot chega dia 4 de agosto e vai durar até a covid-19 acabar. De cara vai cruzar com eleições. Evidentemente tudo o que for de eleição, política, que cruze com covid vai aparecer no robô", afirma Cristina Tardáguila, diretora-adjunta da IFCN.

"Ali vai ser uma fonte para identificar candidatos que desinformarem sobre o coronavírus." Para usar o serviço, que é gratuito, você precisa antes de tudo gravar o número +1 (727) 291 2606 na agenda do celular —ou clicar aqui. Isto feito, basta mandar um "oi" que o chatbot inicia uma conversa em português. Ele sugerirá, principalmente:

* A busca por uma checagem específica;

* A apresentação das checagens mais recentes;

* Dicas de como combater a desinformação.

Há também outras opções para obter informações sobre a própria IFCN, a privacidade do serviço e uma maneira de alterar o idioma do robô. Para ativar as funções, você deve selecionar o número indicado. No caso da busca por uma checagem específica, é necessário apenas escrever "1".

O chatbot vai explicar como fazer a busca, que pode ser feita a partir de uma simples palavra-chave ou de perguntas. Testamos o que viria de resposta ao digitar apenas "cloroquina" e, como resultado, vieram dois conteúdos classificados como falsos:

* Que os ingredientes ativos da cloroquina e ivermectina também são encontrados nas cascas de limão e laranja;

* Que, de acordo com Olavo de Carvalho, três ministros do governo francês estavam sob investigação por conta de erros de regulamentação em relação à cloroquina.

O primeiro caso veio com uma explicação da agência Aos Fatos, enquanto o segundo foi checado pelo Estadão Verifica. Cada mensagem trouxe a notícia original, carimbada como falsa e acompanhada de uma explanação do porquê a informação não era procedente. O texto também traz a data em que foi feita a verificação dos fatos.

Ao escrever "2" o sistema forneceu as checagens mais recentes. Primeiro veio o boato sobre os ministros da França, seguido de outra notícia classificada como falsa: que o tratamento domiciliar à base de ivermectina, cloroquina, azitromicina e vitaminas pode curar a infecção causada pelo novo coronavírus.

Segundo Tardáguila, o robô chega com exatas 2.260 checagens em português. Este material foi produzido por 24 organizações que fazem parte da rede internacional de verificadores de fatos, sendo quatro delas brasileiras e duas portuguesas. Conteúdos feitos por entidades de países de língua espanhola, mas relevantes para seus vizinhos que falam português, também foram traduzidos para aumentar o banco de informações.

Robô em ação:

Reprodução YouTube

Uma questão apontada por especialistas é que serviços como Facebook, Twitter, Instagram e WhatsApp não consomem a franquia dos planos de dados oferecidos pelas operadoras de telefonia. Para eles, este fator facilita a disseminação de desinformação.

Enquanto o uso destes apps é gratuito no plano de celular, checar no navegador se a informação divulgada no grupo de "Zap" da família é verdadeira consome a franquia de dados. Daí o problema se forma: a informação que chega pelo aplicativo muitas vezes é a única que o usuário tem acesso.

O chatbot da IFCN quebra essa lógica ao apresentar os fatos verificados direto como mensagem. Em vez de simplesmente dar o link para uma notícia, o sistema traz o boato, indica o grau de veracidade do mesmo e dá a explicação dos problemas daquele conteúdo.

Tardáguila afirma que esta é uma tentativa de "inundar a sociedade com informações de qualidade", oferecidas de uma maneira fácil — e gratuita — no WhatsApp. A base de dados de checagens sobre o coronavírus começou a ser montada em janeiro e a demora para uma versão em português do robô teve relação com as particularidades regionais.

"Não adianta dar apenas um link. Vai demorar, gastar dados. O camarada não vai abrir. Precisava que cada checagem trouxesse a frase, a etiqueta — todas com graus de falso — e um microrresumo. Se ele quiser informações, ele pode clicar", diz.

Neste processo, as empresas que fazem a checagem de fatos e as disponibilizam online abrem mão dos cliques, importantes para o modelo de negócios do jornalismo na internet.

O robô funciona no WhatsApp, mas é da IFCN. Entretanto, o desenvolvimento do chatbot está ligado à relação entre a empresa e a organização.

Em março, a pandemia começou a atingir com força países além da China. De acordo com Tardáguila, este período ficou marcado por um pico de checagens sobre desinformação relacionada à pandemia, o que fez com que Facebook e WhatsApp (que pertence à rede social) procurassem a IFCN em busca de soluções para mitigar os danos dos boatos que se espalhavam em suas plataformas.

O WhatsApp, então, fez um aporte de US$ 1 milhão na IFCN, que usou estes recursos para pagar o desenvolvimento dos robôs em inglês, espanhol, hindi e português, além de bancar o trabalho de acadêmicos que avaliaram a base de dados levantada desde janeiro pela rede.

A IFCN pretende melhorar sua ferramenta para além da identificação de mensagens de texto. A ideia é que o robô consiga receber foto e até vídeo dos usuários para buscar por checagens sobre esses conteúdos. Por enquanto, Tardáguila sugere que a busca seja feita por palavras-chave que descrevam as imagens ou vídeos.

A diretora-adjunta do IFCN acredita, no entanto, que novas maneiras de enganar surgirão com o tempo —cada uma com sua particularidade. Com a covid-19, vieram falsos PDFs que fingiam ser trabalhos acadêmicos; nas eleições, Tardáguila acredita que áudios de WhatsApp com imitações de candidatos serão a nova moda dos desinformadores.

A solução? "Tem que virar hábito consultar o checador. Chega de manhã, abre o menu das duas últimas checagens. Para já ir pro Facebook e Twitter com sua blindagem", conclui.

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