Cemitérios ofereceram homenagens a vítimas da Covid-19 no Dia dos Pais

A bióloga Márcia Procópio de Oliveira, de 52 anos, passou o Dia dos Pais distante de quem ela tanto ama. O seu pai, o militar Walter Procópio de Oliveira, não resistiu à Covid-19 e teve a sua morte anunciada pelos médicos no dia 13 de julho. Assim como tantas outras famílias que vivenciaram o mesmo drama, Márcia vai deixar a sua mensagem no painel de flores de 4m² fixado ao lado do columbário do Crematório e Cemitério da Penitência, no bairro do Caju, onde se encontram as cinzas de diversas vítimas do novo coronavírus.

"Foi muito bacana essa ação, pois pudemos homenagear os nossos entes queridos, de quem não nos despedimos com mais tranquilidade nesse momento de pandemia", desabafou a bióloga. No nicho alugado pela família de Márcia estão duas urnas e um caso enigmático. A mãe da bióloga, Nair Lussana de Oliveira, também morreu após contrair a Covid-19, no mesmo dia e apenas cinco minutos antes do seu companheiro por 55 anos de casamento. "Ela estava muito triste com a internação do meu pai. De repente, começou a apresentar sinais da doença e também precisou ser internada. Não resistiu. Quando o médico me ligou para dar a notícia do falecimento do meu pai, perguntei logo pela minha mãe e ele respondeu que ela havia morrido cinco minutos antes do meu pai. Foi um choque", contou Márcia.

Para a assistente social Márcia Torres, as homenagens aos pais esse ano tiveram um sentido muito mais marcante e sublime. "Essas perdas pela Covid não tiveram concretude e nem despedida. O filho não beijou seu pai, nem olhou. A dor é grande, porque eles sabem que seus pais morreram solitários em um hospital", ressaltou a especialista, que é coordenadora do projeto A Vida Não Para, de apoio ao luto existente da Penitência.

A direção do Cemitério da Penitência, que registrou esse ano uma alta de 93% no volume de cremação e de 21% no de sepultamento, programou uma missa realizada na capela histórica, que reuniu as famílias que perderam entes queridos nesse período de pandemia. No final da celebração, foram distribuídos cravos vermelhos, para simbolizar respeito, amor e paixão. Pelas redes sociais, os internautas mandaram fotos de momentos felizes com os seus pais que fizeram parte de um vídeo-homenagem. Atividades interativas também ficaram à disposição nas redes sociais do cemitério, especialmente para os visitantes que preferiram fazer as suas homenagens sem sair da quarentena.