Pelo menos uma a cada dez pessoas no mundo é obesa, segundo um estudo publicado na revista New England Journal of Medicine. O aumento do número de obesos no Brasil é expressivo. Dados do Ministério da Saúde mostram que, nos últimos dez anos, a prevalência da obesidade no Brasil aumentou em 60%. Somente entre jovens, com idades entre 18 e 24 anos, saltou de 4,4% para 8,5%, praticamente o dobro.
A cirurgia bariátrica é uma ferramenta para o emagrecimento. Mas é essencial estar ciente sobre as técnicas do procedimento e as mudanças no estilo de vida que ela acarreta. A falta de disciplina, de acompanhamento médico, de apoio psicológico e de nutricionista são alguns dos grandes motivos para o reganho de peso e para depressões. Os tipos de cirurgias mais realizadas são dois: o Capella (ou by pass), que consiste no grampeamento do estômago, reduzindo sua capacidade de armazenamento e com desvio do intestino; e a gastrectomia vertical ou (Sleeve), que transforma o estômago em um tubo vertical bem fino.
Era para ser uma exceção mas tem se tornado uma opção
O médico endocrinologista, metabologista e ortobiomolecular Alvaro Afonso acredita que o procedimento só deveria ser feito em casos mórbidos e após a pessoa fracassar em tratamentos normais de emagrecimento. Segundo ele, uma avaliação sobre as causas da obesidade através de exames e tentativas sérias de emagrecimento através de reeducação alimentar e exercícios físicos tem que ser o primeiro caminho. "As pessoas querem solução mágica e não têm muita determinação nem informação de qualidade", afirma o médico, que já atendeu pacientes querendo engordar para chegar no patamar do IMC indicado para a bariátrica. "O que era para ser uma exceção tem se tornado uma opção de emagrecimento na nossa sociedade", atesta. "Recebo pacientes que já fizeram a bariátrica, têm reclamações mas não têm condições financeiras de adquirir as medicações, vitaminas e suplementações necessárias para minimizar os efeitos colaterais, e eu sofro com a situação", diz o médico, que garante que a maioria das cirurgias realizadas atualmente são indicadas incorretamente.
Antigamente, só operavam os pacientes com obesidade mórbida, ou seja, com IMC maior ou igual a 40kg/m². Hoje, de acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), recomenda-se a cirurgia para quem tem IMC maior ou igual a 35, associado a pelo menos uma das 21 comorbidades, que vão desde apneia do sono até hérnia de disco; quem tem IMC maior ou igual a 30, associado à síndrome metabólica; e quem tem mais de cinco anos de obesidade, doenças associadas e dois anos de tratamento clínico sem sucesso.
A obesidade é uma inflamação das células
A obesidade é uma doença inflamatória do corpo inteiro, uma doença das células do código genético que raramente é causada por uma falha do organismo, e sim pela falta de adaptação ao ambiente em que vivemos. Os hormônios que estimulam o circuito do cérebro são movimentados pelas bactérias e fungos que estão pelo sistema digestório, portanto, conforme estudos médicos, quando se mexe nesse sistema em função da bariátrica, o cérebro sofre reflexos. Se o operado não repõe no organismo os suplementos necessários e todas as diferentes vitaminas, os efeitos colaterais podem incomodar. Muitos passam a ter problemas de absorção de nutrientes, a ter cada vez menos músculos e menos vontade de fazer exercícios físicos, e podem começar a ganhar peso. "O corpo humano é um sistema, e a bariátrica altera a engrenagem", afirma o Dr. Alvaro Afonso.
Reeducação alimentar com muitas limitações
Para a nutricionista fitoterápica Sandra Bastos, é de extrema importância que o paciente tente perder peso antes da cirurgia bariátrica, pois o risco cirúrgico é menor, especialmente para os pacientes que têm IMC acima de 40Kg/m².
"Na primeira consulta eu sempre mostro todos os prós e contras da cirurgia, digo que a cirurgia bariátrica nada mais é do que uma reeducação alimentar forçada, com muitas limitações", diz a nutricionista.
Quando o paciente pós-operado entra na fase da dieta dos alimentos sólidos, é preciso dar muita atenção à sua capacidade gástrica, pois é quando corre riscos de ganhar peso e de desenvolver hipoglicemia e a síndrome de dumping, que é uma passagem muito rápida dos alimentos do estômago para o intestino.
"Pacientes pós-bariátricos precisam sempre fazer uma dieta hipocalórica com restrição de gorduras, doces e ricas em vegetais folhosos (fibras); proteínas magras e grelhadas; carboidratos de lenta absorção, que não contribuam para o aumento de glicose e ganho de peso, como doce, por exemplo", afirma ela.
Neide Ramos, 50, fez a cirurgia bariátrica há três anos com 130 quilos e diz que mudou de vida, de aparência e de pensamentos. "Até hoje faço terapia, exercício e controlo a minha alimentação, pois tenho o anel by pass em torno do estômago e preciso comer pouca quantidade várias vezes ao dia, senão a comida volta", relata ela, reiterando que, para uma boa recuperação, é importante ter apoio nos cuidados pós-operatórios, além de disciplina e autocontrole.
"A bariátrica foi um marco na vida por ter elevado minha autoestima, mas depois da cirurgia, meu cabelo mudou muito e faço tratamento para alopécia (queda de cabelo). De carne, só consigo comer o músculo e a carne moída, verduras cruas não consigo ingerir, doce me dá umas tonturinhas e gordura de jeito nenhum", afirmou Regina C. O., 71 anos, que perdeu 46 quilos com a cirurgia.