"No início da jornada, eu sequer poderia imaginar que alcançaríamos um resultado tão expressivo", afirma Robson Machado, jornalista com enorme paixão pelas causas humanitárias. A frase do profissional retrata a doação, com apoio da Ação da Cidadania - que forneceu os donativos - de cestas básicas a todas as oito aldeias indígenas localizadas no estado do Rio de Janeiro. Robson e seu filho, o fotógrafo Israel Machado distribuíram 400 cestas básicas, 200 kits de higiene, máscaras, roupas e álcool gel nas aldeias.
Todas as famílias que vivem nas oito aldeias localizadas no Estado do Rio de Janeiro foram contempladas. Um total de 1.019 índios foram alcançados pela ação. Além das aldeias, 70 famílias que vivem no Quilombo do Campinho, em Paraty, cidade na região da Costa Verde do Rio, também receberam as cestas básicas.
"Me lembro que, na última páscoa, quando já estávamos no isolamento social por conta da pandemia, fiz uma oração agradecendo a Deus por estar diante de um almoço de páscoa tão farto. Mas depois da oração, chorei. Lembrei das muitas famílias brasileiras, naquele mesmo momento, que não tinham o que comer. Me senti um privilegiado, mas também na obrigação de fazer alguma coisa. Dias depois, com recursos próprios, levei cestas básicas para algumas famílias da comunidade onde nasci. Há muitos anos eu não aparecia por lá. Foram pouquíssimas cestas. Daí surgiu a ideia de também ajudar os índios da Aldeia Sapukai, em Angra dos Reis. Foi quando recorri à Ação da Cidadania, que de imediato me forneceu os donativos. No dia 8 de agosto, eu e o meu filho viajamos para Angra dos Reis levando 100 cestas básicas, 100 kits de higiene, 100 máscaras e uma caixa de roupas. No final desta primeira etapa da expedição, voltei para casa tão feliz que parecia que eu é que estava recebendo a ajuda. Acho que esse é o significado de "mais bem-aventurado é o que dá do que o que recebe", conta Robson.
Foto: Israel Machado
Todas as aldeias em menos de um mês
Vinte e cinco dias depois da ação realizada na Aldeia Sapukai, Robson e Israel já haviam alcançado todas as aldeias indígenas localizadas no estado do Rio de Janeiro. "Nas aldeias, encontramos um cenário muito preocupante. Na maioria delas, a principal fonte de renda dos índios é a produção e venda de artesanatos. Com a pandemia, essa atividade econômica foi totalmente paralisada. Os índios entenderam a necessidade de se isolar para se proteger. Mesmo assim, na Sapukai, uma das lideranças me contou que muitos índios haviam sido contaminados pela covid-19. Em 21 de julho, o cacique Domingos, líder dos guaranis da Sapaukai, morreu, vítima do coronavírus", desabafa Robson.
Mas a expedição também rendeu momentos emocionantes. "Quando chegamos à aldeia Iriri, localizada na cidade de Paraty, região da Costa Verde do estado, fomos muito bem recepcionados pelo povo pataxó. Vestidos com trajes típicos, eles fizeram uma cerimônia de agradecimento pelos donativos que estavam recebendo. A oca central da aldeia estava linda. No final da apresentação, os índios me deram uma lança de presente. Me explicaram que a lança era a arma utilizada pelos antigos para garantir o sustento. Fiquei extremante emocionado com o presente", diz Robson.
Foto: Israel Machado
1000 quilômetros percorridos
Num intervalo de 25 dias, pai e filho percorreram mais de 1000 quilômetros para que alimentos e outros donativos chegassem às oito aldeias indígenas existentes no estado do Rio de Janeiro. "Depois que alcançamos as aldeias de Angra dos Reis e de Paraty, além da Aldeia Vertical, localizada na região central do Rio, fui informado de que faltavam apenas duas aldeias para que a nossa ação contemplasse todas as do estado. Daí, recorri novamente à Ação da Cidadania, que já havia me fornecido todos os donativos entregues às outras aldeias. O pessoal de lá não pensou duas vezes em me fornecer o materialpara as faltantes. As duas ficam em Maricá, município da região metropolitana do Rio (ou, para alguns, na região dos lagos)", explicou Robson.
Filho do jornalista, o fotógrafo Israel Machado foi também o fiel escudeiro do pai durante toda a expedição. "Eu também tenho essa inclinação pelas questões humanitárias. Herdei isso dele (o pai). Acho que isso é uma herança genética. O DNA explica muita coisa! (risos)", conta Israel. O jovem fotógrafo está entusiasmado com a possibilidade de uma exposição dos registros que fez nas aldeias. "Nunca foi esse o nosso objetivo. Aliás, lá no começo, nem imaginávamos que iríamos tão longe. Mas seria muito legal compartilhar com o mundo o que vi através das lentes", conclui o fotógrafo.
A ação contemplou as aldeias Araponga, Itaxim Paratymirim, Rio Pequeno e Iriri, essas quatro em Paraty. Aldeia Sapukai, em Angra dos Reis, aldeias Ara Hovy e Mata Verde Bonita, em Maricá, e a Aldeia Vertical, localizada no bairro do Estácio, região central do Rio de Janeiro. Todas as famílias de todas as aldeias receberam, ao menos, uma cesta básica.
A ação humanitária nas aldeias cariocas foi registrada pelas lentes do fotógrafo Israel Machado. Vídeos também foram produzidos durante a expedição. A ideia agora é transformar todo esse material numa exposição de fotos e num documentário.
Sobre o jornalista Robson Machado
Robson Machado é jornalista, com forte inclinação para questões humanitárias. Em 2015, duas de suas reportagens foram contempladas com dois dos mais importantes prêmios do cenário jornalístico nacional. Com "Rosas Despedaçadas", série de reportagens especiais sobre violência doméstica, o jornalista conquistou o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo. Com "A Doce Ação", série de reportagens especiais sobre o processo de adoção de crianças no Brasil, o jornalista conquistou o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos (menção honrosa). As duas conquistas foram na categoria Rádio.
Sobre o fotógrafo Israel Machado
Israel Machado é um jovem fotógrafo que vem se especializando em registrar pessoas em momentos únicos. Recentemente, passou a acompanhar o pai jornalista em alguns trabalhos.