A pandemia de Covid-19 comprometeu a principal estratégia adotada pelo País contra o câncer de mama: o diagnóstico precoce. "Neste período de pandemia, muitas mulheres notaram alterações em suas mamas em casa, mas não procuraram o serviço médico", comentou. "Há casos de pacientes que perceberam nódulos em janeiro e só agora procuraram ajuda médica." O medo de contrair o novo coronavírus se somou a outros que já acompanham boa parte das mulheres quando o assunto é câncer. "O receio do diagnóstico, de achar algum tumor. Ora, se uma doença existe, não é não procurar que vai ajudar a paciente", advertiu.
O atraso no diagnóstico, segundo a especialista, fez com que mais de 60% dos casos confirmados de câncer de mama no Sistema Único de Saude (SUS) já estejam em estágio avançado, quando a chance de cura é menor.Também oncologista, Ludmila Thommen destacou que, no período da pandemia, 62% das mulheres deixaram de fazer os exames de rotina. "Diante de qualquer sintoma, não devemos esperar para buscar um diagnóstico", alertou.
A senadora Leila Barros (PSB-DF), que mediou o painel sobre a saúde mental da mulher com câncer durante a pandemia, lembrou que o câncer de mama é o que mais mata brasileiras depois dos tumores de pele. "Além de ser mulher e de entender o quanto o Outubro Rosa é importante, eu senti na pele quando perdi minha mãe há 17 anos", disse a senadora. O ciclo de debates faz parte da campanha Outubro Rosa 2020: A Saúde a um Toque de Atenção.
Ansiedade e depressão, agravados pela pandemia, afetam crença no tratamento
Médico psiquiatra, Joel Rennó Junior observou que o cancelamento de consultas está diretamente relacionado ao aumento dos níveis de ansiedade e de pensamentos negativos por conta da pandemia. "Isso faz com que a percepção com o sucesso do tratamento seja alterada", disse.
"Pacientes com depressão tendem a não realizar consultas, aderem menos ao tratamento e estão mais suscetíveis a bebidas e a outras substâncias, como ansiolíticos, chamados de calmantes", completou Rennó Júnior. Segundo ele, é preciso garantir que os médicos da família deem a devida ênfase à avaliação do estado geral do paciente nos atendimentos. "Não podemos ficar focados na parte clínica do câncer. Pacientes com depressão têm uma sobrevida menor do que outros sem essa condição e com o mesmo diagnóstico", ponderou.
Mediadora do painel que analisou o papel do Poder Legislativo na causa oncológica, a deputada Silvia Cristina (PDT-RO) destacou a aprovação da Lei dos 30 dias, que assegura a todas as mulheres o direito ao diagnóstico precoce do câncer, em até 30 dias, e da Lei dos 60 dias, relacionada ao início do tratamento dentro desse prazo.
Ela ressaltou, no entanto, que é possível continuar avançando e sugeriu a aprovação, pela Câmara, do PL 6330/19, do Senado, que obriga os planos de saúde a oferecerem tratamento domiciliar de uso oral a pacientes com câncer tão logo o medicamento seja registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Isso nos ajudará, especialmente durante as epidemias, a assegurar o tratamento domiciliar, obviamente quando ele puder ser prescrito", argumentou a parlamentar.
O advogado Gabriel Johnson, da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama – entidade que reúne 70 ONGs distribuídas por 17 estados –, foi outro a destacar a importância do diagnóstico precoce e lembrou que, nesses casos, as chances de cura giram em torno de 95. "Devemos alertar todas as mulheres com três perguntas simples e que salvam vidas: 'Você tem observado suas mamas? Já marcou seus exames anuais? Conhece seus fatores de risco?'"
Mamografia ajuda detecção precoce, e médicos pedem exame anual a partir dos 40
Neste contexto, a mamografia entra como uma arma que pode auxiliar na detecção precoce da doença, quando realizada em mulheres assintomáticas, numa faixa etária em que haja um balanço favorável entre benefícios e riscos dessa prática. Dentre suas vantagens estão: a redução da mortalidade pela doença, diminuição dos traumas físicos (tratamento em fases mais precoces), maior sobrevida, arrefecimento dos traumas familiares e o menor custo para sociedade relacionado à perda de um indivíduo produtivo.
No Brasil, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) recomendam a mamografia anual para as mulheres a partir dos 40 anos de idade, visando ao diagnóstico precoce e a redução da mortalidade. Tal medida difere das recomendações atuais do Ministério da Saúde, que preconiza o rastreamento bianual, a partir dos 50 anos, excluindo dos programas de rastreamento uma faixa importante da população (mulheres entre 40-49 anos), responsável por cerca de 15-20% dos casos de câncer de mama.
O câncer de mama permanece como uma doença desafiadora, exigindo maiores avanços terapêuticos para melhoria das taxas de cura e mantendo-se como uma patologia que exige diagnóstico precoce. O exame clínico das mamas, associado à mamografia representa ainda a melhor estratégia a ser adotada. A detecção em um estagio inicial, permite um tratamento menos agressivo, determinando melhor qualidade de vida, com menos mutilação e menos efeitos colaterais, e aumentando as taxas de cura pela doença.
Fonte: Agência Câmara de Notícias