O olhar firme de uma idosa para uma mesma árvore do Campo de São Bento, em Niterói, chamou a atenção do biólogo Alexandre Moraes, da Secretaria de Conservação e Serviços Públicos (Seconser) que acompanhou o novo paisagismo da principal área de lazer da Zona Sul de Niterói. Ele abordou Dona Jutta, de 82 anos, que estava sentada próximo aos novos canteiros floridos, e indagou o motivo pelo qual ela olhava com tanta atenção para uma mesma espécie, em meio a milhares de árvores. Com seus olhos vivos e azuis, Dona Jutta contou que foi ela, há mais de 40 anos, que doou a muda de Chichá (Sterculia striata), também conhecida como amendoim de macaco, para plantio no Campo de São Bento, onde ela brincava na sua infância em Icaraí.
- Dona Jutta contou com orgulho a saga de sua Chichá, hoje imponente, que nos dá corações em forma de sementes – comentou o biólogo, emocionado com o depoimento da moradora, que também elogiou o paisagismo dos canteiros.
Dona Jutta, com o biólogo Alexandre de Moraes, doou a muda de Chichá há mais de 40 anos ao Campo de São Bento. Foto: Divulgação
Uma ilha verde no coração da Zona Sul de Niterói, o Campo de São Bento foi revitalizado nos últimos seis meses. Não recebeu a tradicional decoração de Natal para evitar aglomeração durante a pandemia do coronavírus. Segundo Alexandre Moraes, o paisagismo dos canteiros teve que cumprir todos os trâmites legais porque o Campo de São Bento é tombado desde 1990. Com a revitalização, o local também ganhou um novo parque infantil, com brinquedos novos e coloridos.
- O local virou um ponto de relaxamento da quarentena. O bom é andar, mesmo de máscara, para respirar a liberdade. O trabalho consistiu numa grande forração paisagística formando ilhas com espécies adequadas, além de recuperar espaços onde a grama foi perdida. As gambazinhas, indiferentes aos jardineiros, vinham a toda hora ver se estava ficando bom – brincou o biólogo.
Secretária municipal de Conservação, Dayse Monassa lembrou que o nome oficial do Campo de São Bento, que tem 112 anos, é Parque Prefeito Ferraz. O novo paisagismo, segundo ela, foi um desafio para que transformou o lugar mais querido da cidade sem perder sua origem:
- Um paisagismo construído com a participação de muitos. Do Conselho de Cultura, do Departamento de Patrimônio e Cultura, do projetista que captou o desejo de poder ter uma visão ampla dos jardins, limpa e sem obstáculos. Há de destacar também a especial dedicação dos trabalhadores que executaram o paisagismo – elogiou a secretária.
A chichá (termo Indígena que significa "fruto semelhante a mão ou punho fechado") plantada por Dona Jutta floresce de maio a junho, mas os frutos ficam maduros de outubro a dezembro. É uma espécie de nível médio a grande porte, podendo chegar a 18 metros de altura. Os frutos maduros são frágeis devido ao crescimento rápido e caule pouco resistente. Sementes serão colocadas à disposição do público na administração do parque.