Ex-ministro José Dirceu, em entrevista à TV 247, do site Brasil 247, garantiu que Jair Bolsonaro, caso chegue ao segundo turno da eleição presidencial em 2022, será derrotado na segunda etapa do pleito. Para ele, resta saber qual setor superará Bolsonaro, que tende a perder, segundo o ex-ministro, ainda mais aprovação entre o povo brasileiro.
Dirceu pontuou, porém, que não é possível apenas se agarrar aos números e acreditar que a má gestão do Brasil durante a pandemia e o fim do auxílio emergencial serão capazes de jogar a pá de cal sobre o bolsonarismo. Faz-se necessário investir na luta política. "Ele estará no segundo turno, tudo indica. Agora, ele não vencerá no segundo turno, na minha avaliação. A questão é saber quem o derrotará, se uma ampla aliança das forças de centro-esquerda ou a centro-direita, que busca se consolidar como opção. A tarefa principal é a luta popular de oposição ao governo Bolsonaro para a defesa da vida e uma semente de algo novo que unifique e apresente para o país um sonho, uma esperança, um caminho para os próximos dez anos. Não vejo como uma luta curta que vai se resolver em 2022 no Brasil".
"O Bolsonaro não tem apoio de dois terços do país, ele não vencerá a eleição no segundo turno. Vamos fazer a leitura das pesquisas como elas são. Evidente que está ficando insuportável para o país, para as elites empresariais, culturais, conviver com o Bolsonaro. Cada dia mais o governo é militar, e os militares estão virando uma casta, e os gastos militares também. Nós temos problemas graves. Há uma luta política para ser feita. Isso não quer dizer que espontaneamente o Bolsonaro vai perder apoio por causa da pandemia e do fim do auxílio emergencial. Não existe isso. Haverá luta", completou.
Mobilização na pandemia
Questionado sobre como mobilizar os setores populares contra o bolsonarismo durante a pandemia, já que as regras sanitárias impedem aglomerações, Dirceu afirmou que "basta ter criatividade".
"Há maneiras de fazer a luta política, mesmo na pandemia. Os partidos podem fazer manifestações simbólicas no Brasil inteiro no mesmo dia, durante uma semana, de várias formas e várias maneiras. O Greenpeace ensina isso, o MST ensina, a juventude ensina toda hora para nós. Há um problema de unidade, de pauta comum, de agenda comum, de planos de luta que as esquerdas precisam fazer, e de baixo para cima. Nós já fizemos a experiência da Frente Brasil Popular, que foi muito importante, da Frente Povo Sem Medo. Nós temos que fazer de baixo para cima".
ex-ministro ainda disse que, antes de pensar em 2022 e no pleito presidencial, há questões a serem resolvidas em 2021, como a construção da unidade de esquerda, por exemplo, que se fez ausente nas eleições municipais de 2020. "Nós temos que enfrentar 2021, nos debruçarmos sobre o resultados das eleições de 2020 e tirarmos lições. A principal tarefa das oposições, no caso da esquerda, ou de centro-esquerda, é fazer oposição ao Bolsonaro em 2021, oposição popular, fazer um giro na luta popular. É verdade que nós temos a pandemia, mas os bolsonaristas estão nas ruas e fizeram campanha, com pandemia ou sem pandemia. Nós temos que enfrentar o problema da vacina universal, enfrentar a luta em defesa da vida, é preciso também uma proposta de um plano mínimo de medidas para retomar o crescimento e o emprego. A segunda tarefa é a unidade política das esquerdas e da centro-esquerda, nós não podemos continuar como estamos, e 2020 foi um exemplo disso".
Presidência da Câmara
Dirceu se colocou contra uma candidatura do PT paraca presidência da Câmara dos Deputados dizendo que o partido "precisa tomar posição e não pode ficar fora da mesa". Para ele, "a opção na eleição da presidência da Câmara será o candidato que atenda mais os partidos de esquerda. Se for o candidato apresentado pela centro-direita, indicado por Rodrigo Maia, tudo bem, se for o Arthur Lira, tudo bem. O que eu não concordo é que o PT lance candidatura própria".
Suspeição de Sérgio Moro
José Dirceu também comentou sobre a suspeição do ex-juiz Sergio Moro nos processos contra o ex-presidente Lula. Segundo o ex-ministro, a suspeição de Moro é clara e é uma questão a ser reconhecida por todos os democratas, apesar de o Supremo Tribunal Federal (STF) protelar o julgamento sobre o tema há mais de dois anos. "A suspeição do Moro é pública e notória, quase dispensa provas, mas há provas. Acredito que essa é uma questão democrática, não é do PT, das esquerdas, é democrática. Todos os democratas devem apoiar a devolução dos direitos políticos do Lula".
O ex-presidente, para Dirceu, "tem um papel fundamental na construção da unidade das esquerdas, e tenho certeza que o fará, o desempenhará. É um questão de tempo".