Como era de se esperar, a greve dos caminhoneiros, em maio deste ano, acabou prejudicando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro semestre deste ano, com o desabastecimento dos postos de combustíveis e das centrais de abastecimento, como a Ceasa, o que provocou alta incomum dos preços dos produtos alimentícios. Outros fatores também contribuíram, como a proximidade das eleições presidenciais e a piora no cenário econômico internacional, com as ‘guerras comerciais’ entre os EUA contra a União Européia e a China, e a desaceleração da economia. Tal análise foi divulgada esta sexta-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O instituto divulgou o documento ‘Atividade econômica: desempenho do PIB’, com base nas contas nacionais divulgadas também nesta sexta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), informando que o PIB avançou apenas 0,2% no segundo trimestre deste ano. De acordo com o Ipea, o crescimento poderia ter sido maior, não fosse a greve dos caminhoneiros e o quadro de incertezas do país.
“Em síntese, a greve dos caminhoneiros teve efeitos diretos sobre o PIB e indiretos, por meio da piora das expectativas. Adicionalmente, a piora da economia internacional e a proximidade das eleições no Brasil contribuíram para formar um quadro de elevado nível de incertezas, que prejudicou a retomada da economia no primeiro semestre do ano”, diz o texto, produzido pelo Grupo de Conjuntura do Instituto.
De acordo com o Ipea, houve apenas um crescimento de 0,1% em relação ao 1º trimestre, quando a projeção inicial era de 0,4%. Caso permaneça estagnado ao longo dos próximos dois trimestres, o PIB fechará o ano com alta de somente 0,7%, de acordo com o órgão. A previsão inicial era de que fosse de 1%.
O documento informa ainda que o PIB da indústria foi o segmento mais afetado e recuou 0,6% no 2º semestre, com queda na construção civil e nos segmentos da transformação (queda de 0,8%). A formação bruta do capital fixo (FBCF) recuou 1,8% na margem, interrompendo quatro meses de crescimento. Por sua vez, a agropecuária permaneceu estagnada, Na comparação interanual, o mau desempenho de produtos com safras relevantes no período ajuda a explicar a queda de 0,4% em relação ao segundo trimestre de 2017. Contribuíram negativamente as culturas milho em grão (-16,7%), arroz em casca (-7,3%) e mandioca (-3,2%).
O PIB de serviços foi o destaque positivo, com alta de 0,3% no período. Crescimento na margem foi disseminado, com destaque para os segmentos atividades imobiliárias e informação e comunicação, em que ambas avançaram 1,2%. Destaques negativos ficaram por conta dos serviços ligados ao comércio e aos transportes, ambos afetados negativamente pela paralisação dos caminhoneiros.
Os investimentos recuaram 1,8%, interrompendo quatro trimestres de crescimento. O resultado negativo foi explicado pelo mau desempenho dos investimentos em construção e pela piora das expectativas dos empresários. Além do acúmulo de estoques, o resultado do PIB no 2º trimestre foi influenciado negativamente pelas exportações líquidas, afetadas pela queda na produção de milho.
Na parte do consumo das famílias, este desacelerou no segundo semestre, registrando pequeno avanço de 0,1% na margem. O crescimento de 1,7% na comparação interanual foi a quinta variação seguida. Em relação ao mesmo período do ano passado, a taxa de poupança aumentou de 15,7% para 16,4%.