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Alalaô sem plumas e paetês

Podcast-Artigo de André Barroso

Por Portal Eu, Rio! em 08/02/2021 às 16:22:05

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

O Carnaval de 2021 não será igual aos Carnavais passados. Nesta mesma época, já estaríamos afrouxando as gravatas e caindo no ritmo retumbante, mesmo no clima de mais de 40º que fez no Rio de Janeiro nos últimos tempos, aproveitando para cantar: Mas que calor, ô ô ô ô ô ô! Duas semanas antes, já estaríamos chegando tarde a casa, vendo o bloco passar. A tradicional e tão carioca festa da carne, não acontecerá, assim como a maior festa anual do mundo: o desfile de escolas de samba.

Somente outro vírus seria capaz de frear o Carnaval em tempos remotos: a gripe espanhola. Mas o período de disseminação desta gripe foi de alguns meses perto do final do ano de 1918. O consolo é que após a gripe, o Rio de janeiro teve um dos maiores Carnavais já vistos, em 1919. O jornalista Mário Filho, que hoje dá o nome do nosso querido Maracanã, tinha obsessão pelo Carnaval de 1919. Parece que foi algo extraordinário, tanto que Carlos Heitor Cony dizia que criou certa tara por um Carnaval que não viveu, assim como a batalha de Salmina, à morte de César e a invasão Otomana na península Ibérica. Ruy Castro disse que foi uma espécie de desforra contra a peste que dizimou a cidade. A Gazeta de Noticias estampou na manchete: Um Carnaval triumphante! Tão incrível que uma notinha miúda no Jornal do Brasil da época dizia que a menor Carmen da Silva enlouqueceu durante o Carnaval e foi parar no Hospício Nacional.

A gripe espanhola contaminou mais da metade da população do Rio de Janeiro. Os tempos eram outros, e a população média muito menor, mas com a contaminação alta, a Covid teve tempo maior de infecção e fake news que colaborou com essa disseminação. No Rio, cidade mais atingida, já existiam os relatos de superlotações de cemitérios e nos poucos hospitais, a situação era alarmante. A Santa Casa da Misericórdia, vivia lotada, sem leitos suficientes, sem remédios, sem alimentação e desprovida de condições de higiene, lembram que se passaram mais de 100 anos e vivenciamos o mesmo caos na saúde, tendo fechamento de hospitais de campanha que abriram apenas para superfaturar equipamentos e ser fechado antes do surto terminar por completo.

Se o samba que fez sucesso em 1918 foi o Malhador, de Donga; o de 1919, no chamado Carnaval do fim do mundo, tem o trecho: "quem não morreu da hespanhola, quem della pôde escapar, não dá mais tratos à bola, toca a rir, toca a brincar... A quadra não é de prantos! Tragam nos labios sorrisos pois já por todos os cantos se ouve a musica dos guisos". O Chá da Meia-Noite , um bloco criado em Honório Gurgel, teve seus versos: "Estão lembrados senhores Desse chá famigerado? Isso foi no anno passado, Num mez de grandes horrores...A Santa Casa da Miséria e Corda Poz muita gente do sepulchro à borda..."O chá da meia noite" Foi caminho mais curto pra morte Do pobre desgraçado, dos "sem sorte" O chá marcou a época tristonha E o ZÉ POVINHO mesmo ardendo em basa Queimado pela febre má, bisonha, Escomungou, de vez, a Santa Casa!"

Em 1918 tiveram quarentena, superlotação em hospitais, negacionismo, escolas com aprovações imediatas, todo cenário que conhecemos pois não evoluímos, mas inventaram a caipirinha. O que poderia ser feito hoje para superar esse ponto fora da curva? Tudo leva a crer que teremos um Carnaval em 2022 como merecemos, com início de duas semanas antes (Na Bahia, um mês antes), blocos irados e musicas na boca do povo sobre o "Coronga". Mas como estamos atrasados na vacinação, sem plano de imunização, sem vacinas suficientes e até agora com menos de 2% da população vacinada, corremos o risco de termos nosso Carnaval incrível em 2023 ou 2024.

Por Portal Eu, Rio!
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