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Exposição celebra 30 anos da Casa França-Brasil com obras de 10 artistas

Evento híbrido reúne trabalhos convidados para a reabertura do centro cultural fechado há quase um ano

Por Portal Eu, Rio! em 27/02/2021 às 09:00:00

Foto: Divulgação

Nesta quarta-feira (3), a Casa França-Brasil, que completou 30 anos, recebe a mostra "Casa Aberta: Passagens". Em tempos de pandemia, quando a cultura teve seu espaço reduzido ao ambiente virtual, 10 artistas foram convidados a propor trabalhos que celebrem a reabertura de um dos mais importantes espaços culturais do país, estimulando novas vivências, mas acima de tudo gerando reflexões sobre todo o percurso do lugar.

Participam da exposição os artistas Adriano Machado (BA), Arlindo Oliveira (RJ), Claudia Hersz (RJ), Efrain Almeida(CE/RJ), Emerson Uýra (AM), Ivan Grillo (SP), Leonardo Lobão (RJ), Marcela Bonfim (SP/RO), Panmela Castro (RJ) e Patrícia Ruth (PA/RJ).

“Uma viagem para dentro das almas, dos corpos e do edifício da Casa França Brasil, pois foram várias as respostas dos artistas convidados que pensaram o tempo em que vivem. Quando apresentamos o título da exposição, cada um trouxe uma leitura da palavra 'Passagens'. Pode ser um caminho, uma estrada, uma tenda persa, uma revoada de pássaros migratórios que repousam no chão. 'Passagens' pode ser apenas a fração do tempo”, destaca Ricardo Resende, um dos curadores do evento.

Patrocinada pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal, por meio da Lei Aldir Blanc, além das referências aos diversos usos do local – Praça do Comércio, alfândega, arquivo, centro cultural – a exposição também dialoga com os fatos históricos e políticos do país, como a escravidão e a ditadura militar. Daí vem a inspiração para o nome, 'Casa Aberta: Passagens', em referência ao local em si, mas também aos fatos e ao tempo.

“A mostra rememora os 200 anos deste importante monumento arquitetônico do Brasil com um convite aos artistas a dialogarem com a História, investigando o tempo e a Casa, não como um espaço estático, mas como um lugar de permanentes transformações e atravessamentos, de passagens e ressignificações”, conta Diego Martins, curador da mostra.

Construção neoclássica: de alfândega a centro cultural

O edifício da Casa França-Brasil, projetado por Grandjean de Montigny, arquiteto da Missão Artística Francesa, foi encomendado em 1819 por D. João VI. Inaugurado em 13 de maio de 1820, o primeiro da arquitetura neoclássica registrado no Brasil, contribuiu para dar à cidade do Rio de Janeiro uma atmosfera cosmopolita à moda europeia naquela época, e foi a primeira Praça do Comércio do Rio de Janeiro, então cidade sede do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Em 1824, foi transformado em Alfândega, por onde passavam mercadorias e negros trazidos da África como escravos. A construção foi tombada pelo Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, atual IPHAN, transformada inicialmente em depósito para os arquivos do Banco Ítalo-Germânico e depois em sede do II Tribunal do Júri. Em 1990, a secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro restaurou a construção, resgatou as linhas arquitetônicas originais projetadas por Montigny e inaugurou a Casa França-Brasil.

A diretora da Casa França-Brasil, Helena Severo, ressalta a importância do evento como marco de reabertura da instituição cultural. “Casa Aberta reúne dez artistas contemporâneos que tomaram como inspiração a relação da Casa com a cidade do Rio de Janeiro", diz.

ARTISTAS E OBRAS

Adriano Machado faz um convite para vigiar silenciosamente. Como o trânsito das pessoas pode ser confundido com o trânsito das coisas? Trinta instrumentos de ferro e madeira dispostos sobre uma mesa nos conduz a caminhos utópicos entre identidade, memória e espaço. Adriano propõe olhar para a Casa no detalhe, com o imaginário visual das próprias memórias museológicas. Para a construção das peças, o artista teve a contribuição do pai, o artista Albertino Ribeiro Machado, na oficina de solda à beira da BR-324, em Feira de Santana, na Bahia.

Arlindo Oliveira, artista que vive na Colônia Juliano Moreira e é contemporâneo de Arthur Bispo do Rosario, gostava de construir objetos com a sucata que encontrava pelas ruas dos arredores de onde vivia. Fotografando, iniciou em sua trajetória na arte e, hoje, experimenta uma série de linguagens artísticas, em especial a escultura. Suas assemblages e instalações feitas a partir de elementos como madeira, luzes, objetos utilitários e brinquedos coletados no território onde vive e trabalha são transformados em barcos e navios festivos, cheios de cor e luzes. As naus que vagueiam pelo mundo, pelos rios e pelos mares, adentraram a Casa França-Brasil em busca das suas múltiplas passagens.


Arlindo Oliveira e seu trabalho. Foto: Divulgação

Claudia Hersz pesquisa a etimologia da palavra Alfândega, que tem sua origem no árabe: se transliterado, seria al-fundaq, que significa uma hospedaria ou estalagem. Em suma, um lugar de acolhimento passageiro. Claudia cria então uma tenda árabe, cujo chão é forrado de tapetes. Suas paredes translúcidas, em tecido creme convergem de forma fantasmagórica com a arquitetura da Casa, emulando um certo passado do edifício. Sobre o piso, uma máscara no estilo covidiano em grande escala, do mesmo tecido do tapete. Uma alusão literal ao momento atual repleto de metáforas às relações cada vez mais distanciadas entre pessoas, ideias e países.


Trabalho de Claudia Hersz. Foto: Divulgação

Efrain Almeida ocupa a parte central da Casa França-Brasil com 150 passarinhos em tamanho natural feitos de bronze que povoam essa área de confluência das portas de entrada e saída e as asas laterais do edifício. Formam linhas que se cruzam e, no seu centro, simbolicamente, são ocupados por esses pássaros pousados no chão. As memórias de Efrain são poéticas, carregadas de lembranças e imagens guardadas da sua infância passada no interior do Ceará. Estarão no terreiro central da casa, na confluência das portas.


Trabalho de Efrain Almeida. Foto: Divulgação

Emerson Uýra, artista visual, indígena manauara, apresenta em sua obra o confronto do tempo, mas também a vigilância para a luta. Comendo si o quintal: ela diz no vídeo, para trocando saberes, tecnologias e estratégias, atravessar a desgraça colonial sem abandonar o seu sagrado com a Terra. Ao fundo, a música Nenufar, nomeada pelo compositor e cantor Henry Alibert como a Marcha Oficial da Exposição Colonial. A versão apresentada por Uýra é executada de trás para frente – provoca, mas principalmente, dilui a narrativa original, ressignificando, demarcando uma ancestralidade.


Trabalho de Emerson Uýra. Foto: Divulgação/Selma Maia

Ivan Grilo trata suas criações como poemas visuais, _a gente só chama de casa quando e _chão e água e casa e ponte, ambos de 2021, são títulos dos trabalhos apresentados na exposição Casa Aberta: Passagens, que dão a dimensão de sua poética. As datas se afastam no tempo na conclusão das instalações. Os registros fotográficos captados em 2013, durante viagem pelos rios amazônicos, verdadeiros mares de água doce, se perdem na vista do horizonte. Não sabia, mas fotografava para 2020. Na ocasião, Ivan vestia uma camiseta branca que manteve guardada até hoje como índice da experiência vivenciada naquela passagem pelo rio.


Trabalho de Ivan Grilo. Foto: Divulgação

Leonardo Lobão, artista nascido no Rio de Janeiro, é integrante do Atelier Gaia, do Museu Bispo do Rosario, e pintor de traços marcantes e expressivos, por excelência. Com figuras humanas de traços angulosos carregados no semblante de expressão conturbada, Lobão nos conta com certa dose de melancolia o tempo que passou internado na Colônia Juliano Moreira. Trata em sua pintura, mais conhecida da memória dessa passagem pelo abrigo não-abrigo, a casa não-casa, a moradia indesejada. O artista durante muitos anos viveu confinado compulsoriamente. Serve a ele como uma janela, emprestada momentaneamente uma das salas da Casa França-Brasil.

Marcela Bonfim, natural de Jaú, interior paulista, vive e trabalha em Porto Velho. Pesquisa a diáspora negra que chegou a Rondônia no início do século XX, com os barbadianos, tradicionais famílias negras da região, cuja primeira geração, vinda de Barbados, ajudou na construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, entre 1907 e 1912. “Reconhecendo a Amazônia Negra”, projeto de Marcela Bonfim, aborda de forma poética a vida desses resistentes imigrantes de origem caribenha que, assim como ela, impõem dignidade, força e beleza. Através das imagens realizadas em Porto Velho, Marcela nos convida a olhar para nossas estruturas sistêmicas racistas e colonizadoras.


Trabalho de Marcela Bonfim. Foto: Divulgação

Panmela Castro, nascida no Rio de Janeiro, é destacada grafiteira brasileira. O grafite e a performance foram as formas que encontrou para se relacionar com uma sociedade machista, misógina e patriarcal. Como um grito estampado nas suas performances, nas suas fotos, nos seus vídeos, nos seus grafites espalhados pelos muros das cidades. Panmela Castro trata em suas obras das suas sagas de forma plástica e poética e denuncia o sofrimento das mulheres. A artista apresenta o vídeo-performance “Caminhar”, de 2017, uma performance pelas ruas do Rio como forma de denunciar o feminicídio. Calada, a artista caminha rua abaixo, chamando a atenção de quem passa diante da cena dramática plástica com a poética do horror.


Trabalho de Panmela Castro. Foto: Divulgação

Patricia Ruth guarda a sua memória em suas pinturas e desenhos. Hoje é artista do Ateliê Gaia, coletivo vinculado ao Museu Bispo do Rosario e que funciona há mais de 30 anos como espaço de arte, saúde, formação, convivência e liberdade e abarca artistas usuários da rede municipal de saúde mental. Para essa exposição, a artista multimídia foi provocada a pintar o seu processo migratório, verbalizado com frequência pela artista. Uma verdadeira saga ao deixar familiares só recentemente reencontrados. Sua pintura de grandes dimensões funciona como uma revisão de sua vida, ou melhor, de sua passagem pelo mundo. É a maneira que encontrou para nos contar da sua trajetória que a trouxe para a sua casa no Rio de Janeiro.

Serviço

Exposição Casa Aberta - Passagens

Período: 3 a 31 de março de 2021

Dias: Quarta a domingo

Horário: 12h às 18h

Entrada gratuita

Casa França-Brasil

Rua Visconde de Itaboraí, 98, Centro - Rio de Janeiro - RJ

(21) 2332 5275

[email protected]

Atenção: Permitidas a permanência de até 10 pessoas simultaneamente.

Agendamento de grupos pelo e-mail [email protected]


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