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Mal de Alzheimer, a mais comum das demências

50% da população hoje viva chegará aos 80 anos, e 45% destes novos octogenários desenvolverão Alzheimer

Por Ana Salazar em 11/09/2018 às 09:46:06

Médicos apontam que é possível prevenir e diminuir a incidência das demências em geral levando uma vida saudável, com controle adequado de doenças. (Imagem: Pixabay)

Maria do Rochelli é formada em Matemática, tem pós-graduação em Logística, trabalhou muitos anos na UFRJ; hoje, 69 anos, mora Barra da Tijuca, e tem a Doença de Alzheimer (DA). Ela, que sempre foi ativa, dirigia e saia muito, não pode mais ficar desacompanhada. O diagnóstico, inacreditável para ela e para sua família, veio após as confusões mentais e esquecimentos que a própria não entendia como e por que estava acontecendo.

A DA é uma enfermidade degenerativa, progressiva e sem cura, compromete as atividades cerebrais causando o declínio das funções cognitivas como a memória, a linguagem e a percepção, mudanças no comportamento, personalidade e humor, levando o paciente a dependência para atividades instrumentais e, no decorrer da evolução, para atividades básicas de vida diária. Os números são inquietantes: 50% da população hoje viva chegará aos 80 anos, e 45% destes novos octogenários desenvolverão Alzheimer. Ou seja, cerca de um em cada quatro de nós encontra-se hoje estatisticamente condenado. No mundo, cerca de 50 milhões de pessoas tem a doença.

Segundo a Alzheimer"s Disease International (ADI - Associação Internacional de Alzheimer), os países em desenvolvimento serão os responsáveis por mais de 2/3 dos enfermos até 2050. Os problemas relacionados a recursos para o tratamento de pacientes e familiares de portadores de Alzheimer são tão relevantes que até o Fórum Mundial de Economia, em 2017, chamou a doença de uma das principais agravantes à crise na esfera da saúde do século 21. "Quase 10 milhões de pessoas desenvolvem demência a cada ano, 6 milhões delas em países de baixa e média renda", afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde - OMS.

No Brasil, 7,1% das pessoas acima de 65 anos são acometidas

Por aqui, são cerca de 1,2 milhão, e projeções apontam que, em 20 anos, poderemos ter o dobro de pessoas com a doença, principalmente devido ao envelhecimento da população. Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), pelo menos 7,1% das pessoas acima de 65 anos apresentam algum tipo de demência no país, sendo a doença de Alzheimer responsável por mais de 50% desses casos. E a incidência vai mais que dobrar até 2030. O motivo para esse aumento é simples: a população brasileira está vivendo mais - e como um dos principais fatores de risco para o Alzheimer é a idade, a doença está cada vez mais comum.

Sergio Abramoff, mestre e doutor com especialização pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica, retornou de congresso sobre a doença de Alzheimer em Londres, em agosto de 2017, com uma certeza: "a prevenção e o diagnóstico precoce da doença são os únicos meios eficazes de frear uma epidemia em curso". Foi constatado que a doença tem início décadas antes das manifestações clínicas mais evidentes de déficit de memória, e da cognição como um todo. Hoje, já dispomos de exames genéticos, de imagem (pet scan) e do liquor (líquido da medula espinhal) que permitem definir com mais de 90% de segurança não só o diagnóstico muito precoce, mas também quais pacientes nesta fase pré-clinica têm maior probabilidade de desenvolver a doença de Alzheimer.

Como prevenir ou amenizar os efeitos, diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da Doença de Alzheimer é por exclusão. O rastreamento inicial deve incluir avaliação de depressão e exames de laboratório com ênfase especial na função da tireoide e nos níveis de vitamina B12 no sangue. Exames físicos e neurológicos cuidadosos acompanhados de avaliação do estado mental para identificar os déficits de memória, de linguagem, além de visoespaciais, que é a percepção de espaço. Vale ressaltar que o diagnóstico precoce é fundamental para possibilitar o alívio dos sintomas e a estabilização ou retardo da progressão da doença .

Alguns fatores de risco conhecidos para a Doença de Alzheimer são a idade e a história familiar - se a pessoa já teve um histórico na família de demência ou de algum problema vascular. Além disso, outro aspecto que aumenta o risco de desenvolver a doença de Alzheimer é a falta de estimulação cerebral, que aumenta o número de conexões criadas entre as células nervosas (neurônios).. Por isso, uma maneira de retardar o processo da doença é a estimulação cognitiva constante e diversificada ao longo da vida.

Apesar de não ter sido descoberta a cura para a doença, um tratamento e um cuidado adequado nos diversos pontos de atenção pode proporcionar uma maior sobrevida e uma melhor qualidade de vida às pessoas com a Doença de Alzheimer.

Segundo Marcio L. F. Balthazar, Coordenador do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva da Academia Brasileira de Neurologia, é possível prevenir e diminuir a incidência das demências em geral levando uma vida saudável, com controle adequado de fatores de risco cardiovasculares, como diabetes, hipertensão, dislipidemia, sedentarismo. "Programas de atividade física regular, aumento da escolaridade da população, assim como estímulos para a manutenção de uma vida ativa após a aposentadoria são outros fatores que devem ser levados em conta", informa ele. Uma dica importante é que os familiares mantenham a paciência , a leveza e o bom humor, oferecendo atenção e cuidados na busca de amenizar o sofrimento de todos. É indicado o cuidado de profissionais como o neuropsicólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo. A boa notícia é que os medicamentos sintomáticos específicos para tratamento da DA estão disponíveis nas farmácias do Sistema Único de Saúde. A memantina, indicada nas fases moderadas e avançada da doença, também foi incorporada no SUS em portaria de novembro de 2017.



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