Quem nunca mascou um chiclete quando estava sem tempo de escovar os dentes que atire o primeiro fio dental. A prática pode até ser comum para quem vive uma rotina bastante agitada, mas exige cuidado! O Sérgio Brossi Botta, presidente da Câmara Técnica de Dentística do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), explica o porquê.
Para descobrir se o chiclete é um aliado ou um vilão, entenda primeiro o que acontece na boca após as refeições. “Depois de comermos, os resíduos alimentares que ficam na superfície dental são metabolizados pelas bactérias orais, reduzindo o pH da placa bacteriana e transformando-se em ácido durante um período de tempo. É esse ácido que promove a desmineralização das estruturas rígidas dentais, ou seja, podem causar lesões de cárie nos dentes”, detalha o cirurgião-dentista.
O chiclete pode então assumir dois desafios neste momento para auxiliar na prevenção da cárie. São eles: a remoção mecânica das partículas dos alimentos das superfícies dos dentes; e o estímulo à produção de saliva. “Sabe-se que, ao mascar uma goma sem açúcar, o fluxo salivar é aumentado em até 10 vezes, em resposta aos estímulos gustativos do sabor e mecânico da mastigação. Essa saliva estimulada possui maior potencial remineralizante, pois é rica em bicarbonato, cálcio e fosfato”, explica Botta.
Mas, atenção! Essas vantagens só se aplicam aos chicletes sem açúcar. “Deve-se sempre utilizar as opções sem açúcar fermentável. Uma alternativa são os que têm xilitol”, indica. Outro ponto de atenção é a frequência com que se usa o chiclete como recurso para ajudar na limpeza oral. O consumo excessivo pode causar problemas na articulação temporomandibular (ATM) e alterações da forma da mandíbula, além de hipertrofia da musculatura mastigatória. Mesmo que seja benéfica para a boca até certo ponto, a mastigação estimula a produção de ácidos estomacais, podendo levar também à gastrite.
O mais importante para não transformar o chiclete em vilão é lembrar que mascar a goma não substitui a escovação completa e com fio dental. “Uma higiene bucal eficiente é feita pelo conjunto da escovação mecânica com creme dental fluoretado e o fio dental. As cerdas da escova fazem a remoção das sujidades e placa bacteriana, enquanto o fio dental limpa as regiões mais próximas dos dentes. O creme dental auxilia ainda na redução do pH crítico de desmineralização do esmalte e dentina”, orienta.
E o enxaguante bucal?
Muitas vezes, após o almoço, a escolha mais prática é um enxaguante disponibilizado ali no próprio restaurante ou um bochecho com água. Ambas as opções oferecem a desejada sensação de limpeza, mas não devem substituir a escovação completa, como explica Botta. “Enxaguar a boca apenas com água pode reduzir a acidez, aumentando um pouco o pH e removendo parte da sujidade dos dentes, mas a limpeza não é totalmente efetiva, pois depende do que foi ingerido. Fazer o bochecho com colutório (antissépticos bucais), em compensação, também ajuda porque elimina a sujeira, equilibra o pH da boca e é uma opção ainda melhor que a água pela presença do flúor. Mas, não existe nenhuma alternativa que substitua a eficácia da escovação. Portanto, escovar os dentes após as refeições é sempre o mais recomendado”, define.