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Voto oculto: ninguém sabe quem são os suplentes a senador

Por Portal Eu, Rio! em 11/09/2018 às 12:02:06

Foto: Agência Brasil

Uma eleição marcada pela dificuldade em escolher um vice - a sombra do impeachment e da ascensão de Michel Temer parece ter impactado os candidatos à Presidência, que decidiram nos últimos dias antes das convenções os nomes de seus acompanhantes. Se a escolha dos vices foi feita com critério cirúrgico, e com ampla divulgação de seus nomes e expectativa em torno das escolhas, o mesmo não pode ser dito em relação aos nomes dos suplentes ao Senado. No Rio de Janeiro, estado que já teve senadores suplentes duas vezes nos últimos dois mandatos, os candidatos seguem mantendo seus suplentes à sombra. 

Mesmo chapas de políticos profissionais, como a de Cesar Maia (DEM), que conta com dois ex-parlamentares como suplentes - Alice Tamborindeguy e Sérgio Zveiter - têm deixado estes nomes sem divulgação. O máximo de transparência é o determinado por lei, ou seja, a citação dos indicados em materiais de propaganda impressos, muitas vezes na mesma proporção dada para a composição das coligações e outras informações, como o CNPJ da campanha e a tiragem do material confeccionado.

De acordo com o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, o sistema eleitoral brasileiro garante uma configuração híbrida para a eleição para o Senado: apesar de ser um cargo legislativo, ele é escolhido com voto majoritário, ou seja, entra quem tem mais votos. A exceção fica por conta de ser uma escolha em um único turno. “Deputado, por exemplo, não tem suplente. Caso ele saia, quem entra em seu lugar é quem está em seguida na fila, não alguém que tenha relações com ele”, explica. Segundo ele, quando ainda era possível arrecadar dinheiro para campanhas junto a empresas, muitas vezes o suplente era escolhido junto aos financiadores das campanhas. “Para o senador que se elege este é um cargo muito cômodo, pois como o mandato é de oito anos ele pode, com conforto, concorrer a outras três eleições, duas municipais e uma estadual, sem perder o cargo. Então ser suplente de alguém nestas condições também é um bom negócio”, acrescenta. 

Para ele, é preciso aumentar a transparência e a fiscalização. “Este ano, por exemplo, temos muitas suplentes mulheres, e muitos partidos estão usando este artifício para burlar a cota de 30% para candidaturas femininas. Os candidatos são obrigados a mostrar os nomes dos suplentes, mas não se dá destaque”, lamenta. O cientista acredita que a Justiça eleitoral deveria agir com mais rigor. “Já que não se pode fazer uma reforma, em que entre o próximo mais votado em caso de vacância do cargo, que se deixe bem claro em quem se está votando. O eleitor merece saber quem pode vir a ocupar o cargo de senador no lugar daquele que foi eleito”, frisa.

O Rio de Janeiro conta com senadores-tampões já não é de hoje. Eleita em 1994 para o Senado, a petista Benedita da Silva só exerceu seu mandato por quatro anos, já que em 1998 foi eleita vice-governadora na chapa de Anthony Garotinho. Em seu lugar, assumiu seu suplente, Geraldo Cândido. O ex-governador Sérgio Cabral também teve uma trajetória semelhante: eleito para o Senado em 2002, ele exerceu o mandato somente até 2006, quando foi eleito governador do Rio de Janeiro. O caso de Cabral foi ainda mais longe: ao assumir como chefe do Executivo, chamou seu primeiro suplente, Regis Fichtner, para secretário - quem acabou exercendo o mandato de senador foi seu segundo suplente, Paulo Duque.

Marcelo Crivella também abriu mão do mandato de senador ao ser eleito para outro cargo, desta vez para prefeito do Rio de Janeiro. Em seu lugar, assumiu seu suplente, Eduardo Lopes, que hoje concorre à reeleição. Por fim, caso seja eleito governador do Rio, será a vez de Romário passar a vaga de senador para seu suplente, o metalúrgico e presidente do PCdoB João Batista Lemos. O último senador do Rio que exerceu seu mandato por completo foi Lindbergh Faria, eleito em 2010, cujo mandato termina este ano. 

Exceção - Candidato à Presidência da República em 2014, o presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo, segue na contra-mão nesta questão dos suplentes. Hoje candidato ao Senado, sua chapa conta com um candidato à suplente que fez questão de sair ao sol. Donizeti  Pereira, primeiro suplente da coligação Mudando o Rio com Juízo, é dono de transportadora e vice-presidente licenciado do Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Cargas e Logística do Rio de Janeiro (Sindcargas-RJ). Aos 50 anos, Donizeti vem mantendo uma rotina de cabeça de chapa: percorre o estado e ouve a população; posa para fotos quando solicitado, conversa com o potencial eleitorado, como lojistas e ambulantes, organiza reuniões.  

A estratégia é, segundo Donizeti, trazer mais votos, de forma diversificada ao Pastor Everaldo, cujo público é mais voltado ao trabalho religioso. O foco do candidato a suplente é atingir principalmente empresários, que, segundo ele, ficam à margem do processo decisório e que sofrem com crimes como roubos de carga, além da alta carga tributária do estado e do país. “Meu objetivo é esse, fazer com que estes temas tenham relevância. As pessoas não conseguem enxergar que o mal que a violência urbana traz está fazendo com que o estado perca postos de trabalho, o empresário não quer investir em um local que não oferece o mínimo de segurança. Assumi o papel de pedir votos por acreditar na candidatura do pastor Everaldo, e por crer que ele será um senador de luta pelo Rio de Janeiro”, afirma.

O nome de Donizeti foi escolhido por seu bom trânsito entre empresários do setor de transportes, principalmente durante a greve dos caminhoneiros e a decisão, tomada pela Prefeitura, em 2016, de restringir o tráfego de caminhões pela Avenida Brasil. À época, um áudio contra a restrição trouxe o posicionamento do empresário e viralizou nas redes sociais. O tema ganhou fôlego e fez com que o setor ganhasse relevância, tanto no Congresso quanto junto ao Executivo estadual - na última greve de caminhoneiros, as transportadoras conseguiram que o Governo do estado diminuísse em quatro pontos a alíquota de ICMS cobrada sobre o diesel. 

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