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Vacinação em São Gonçalo é alvo de críticas; prefeitura rebate

Governos apresentam suas justificativas, mas campanha de imunização não decola na RMRJ

Por Marcello Sigwalt em 07/04/2021 às 18:01:19

Maior grupo de risco, idosos se aglomeram à espera da vacina (Foto divulgação site O Globo)

Em descompasso com o avanço da pandemia no país, São Gonçalo – segundo município mais populoso do Estado – enfrenta hoje uma situação preocupante, explosiva e sem solução, pelo menos, à primeira vista. No cerne da polêmica, supostas dificuldades da prefeitura local de ministrar as doses numa velocidade compatível com o cronograma de imunização planejado, a tempo de deter o alastramento da doença e, sobretudo, poupar vidas.

Em contraponto a esse cenário ‘caótico’, o subsecretário de Comunicação da Prefeitura de São Gonçalo, Alexandre Coutinho sustenta que “não há atrasos; o público-alvo atendido no momento segue o que vem sendo imunizado nos municípios vizinhos da região metropolitana, na mesma faixa etária”. Nesse sentido, ele acrescenta que “desde o início da campanha de vacinação contra o covid-19, o município de São Gonçalo vem cumprindo o que determina o Plano Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde, tanto na utilização e reserva das vacinas, quanto no atendimento aos grupos prioritários”.

Em reportagem publicada em seu site, no final de março último, a Casa Fluminense criticou a demora no atendimento da população, pois “apenas 9.261 de seus 999 mil moradores (dados da instituição) teriam sido efetivamente vacinados, apesar de São Gonçalo ter sido o município que mais recebeu doses no Estado, depois do Rio de Janeiro. De acordo com informações da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (SVS/MS), a despeito de a cidade ter recebido cerca de 170 mil doses, sua aplicação é considerada a pior de toda a Região Metropolitana do Rio (RMRJ). Para a nutricionista sanitarista Amanda Oliveira – que contribuiu com a montagem da agenda local – a confusão no processo começou pela forma que foi anunciado o cronograma de vacinação dos grupos prioritários, o que teria provocado filas quilométricas, sem surtir proveito algum.

“O início do processo de vacinação foi muito prejudicado pela forma que a prefeitura anunciava os grupos prioritários. Muita gente foi para aquelas filas quilométricas achando que tinha direito, mas não se encaixava nos critérios”, conta Amanda, ao acrescentar que esse fato fez com que “a cidade ficasse sem doses por algum período”.

‘Situação alarmante’

Como se não bastasse a situação alarmante, o secretário de Saúde de São Gonçalo, André Vargas, também médico, teria afirmado que não pretendia se vacinar, declaração negada por Coutinho, segundo o qual Vargas, “havia priorizado a vacinação de idosos, já que naquele momento a oferta era pouca”, o que abriu espaço para uma interpretação errônea". Embora concentre 70% da população do estado, a região metropolitana havia vacinado, até poucos dias atrás, somente 5,3% da população, percentual que baixa a menos de 1% para alguns municípios que a integram, como São Gonçalo, Seropédica e Cachoeiras de Macacu.

O subsecretário municipal de Comunicação refuta esses questionamentos, ao afirmar que o município atualmente oferece nove pontos de vacinação, três em sistema de drive-thru, além de 330 técnicos de enfermagem e enfermeiros. Segundo ele, já nas últimas segunda e terça-feiras (5 e 6), a vacinação atendeu pessoas a partir de 69 anos, assim como profissionais de Saúde acima dos 60 anos que trabalham em hospitais da cidade ou de outros municípios, que ‘atuam na ‘linha de frente’ da pandemia.

Outro grupo da Saúde, a partir de 50 anos, também será priorizado. Conforme o calendário municipal, hoje (7) e amanhã (8), foram reservados aos idosos acima de 68 anos para receberem a dose, enquanto a sexta-feira (9) e sábado se destinam aqueles com idade acima de 67 anos. Já na próxima segunda (9) e terça-feiras (13) será a vez dos idosos a partir de 65 anos, ficando a sexta (16) e sábado (17) aos acima de 64 anos.

‘Sem entraves logísticos’

A alegação de que entraves logísticos estariam emperrando a cobertura vacinal é rechaçada por Coutinho, além de receber aplausos do assessor de imprensa do governo do Rio, Raphael Vaz Pereira, para quem “a logística que o Estado tem implementado tem sido elogiada no país, em que a distribuição (das doses) em todo seu território tem ocorrido de maneira igualitária e rápida”. Pereira explica, ainda, que “esse é o principal papel dos estados numa campanha de vacinação, já que a aplicação é de competência dos municípios e a entrega, do MS (Ministério da Saúde)". O assessor arremata, afirmando que o Estado igualmente disponibilizou pontos de vacinação em unidades do Corpo de Bombeiros. Ao todo, Vaz Pereira estima terem sido entregues, até o início dessa semana, cerca de 890 mil doses.

Após semanas de embates declaratórios, envolvendo prefeitos e os governos estadual e federal, o governador fluminense anunciou um calendário unificado de vacinação para todos os municípios, sob o argumento de que a medida foi solicitada pelos próprios prefeitos, a fim de tornar mais eficiente a aplicação das vacinas, além de reduzir o trânsito de pessoas entre os municípios, a fim de evitar aglomerações, fator de disseminação da doença.

Casa Fluminense: análise posterior

Ao ser solicitada a comentar os acertos ou erros da vacinação no Estado, a Casa Fluminense – por meio de sua assessora Cláudia Cruz – admitiu não ter “propriedade para analisar o contexto da atual gestão de São Gonçalo com este nível de especificidade. Começamos no esforço de monitorar a campanha de vacinação na RMRJ recentemente, mas ainda será necessário mais tempo para conseguirmos fazer algumas análises e consultar as bases mais vezes ao longo da série histórica também”. Por fim, Cláudia cita a médica e professora do Instituto de Saúde Coletiva da UFRJ, Lígia Bahia, segundo a qual “o descompasso na vacinação é um problema global, em que o Brasil também está patinando em sua política de imunização, o que se reflete nos municípios como um todo, infelizmente”.

'Pelo menos, o triplo'

Menos ameno, o vice-diretor da Faculdade de Enfermagem da UERJ, Ricardo Mattos, entende que o “Rio deveria ter vacinado ao menos o triplo desse número”. Ao mesmo tempo, Mattos – que atua na linha de frente da vacinação – reconhece que “esse processo de escoamento das doses, que passa pelas mãos do governo federal, estadual e municipal, não é um procedimento nada simples”. Na sua avaliação “essa entrega não é algo tão ágil quanto a gente imagina, mesmo com o apoio de helicópteros nessa distribuição” e que “a pandemia alertou sobre a importância da unificação do Sistema de Saúde”.

Por enquanto, persiste a dúvida quanto à eficiência da vacinação, a julgar pela informação de que das 12 mil doses recebidas pelo município de Seropédica, apenas 180 teriam sido aplicadas, na semana passada. Problema idêntico ocorreu em Duque de Caxias, que recebeu 116 mil doses, das quais, somente 24 mil teriam ocorrido. Na lista dos profissionais de Saúde que podem se vacinar com a primeira dose estão: técnico em radiologia, enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem, médico, fisioterapeuta, nutricionista, odontólogo, fonoaudiólogo, psicólogo, biólogo, farmacêutico, assistente social, biomédico e auxiliar e técnico de saúde bucal.

Para facilitar o cadastramento de idosos acamados (e de seus parentes) ou com mobilidade reduzida, com mais de 79 anos, a Secretaria de Saúde de São Gonçalo disponibilizou o e-mail ([email protected]), para que estes recebam o imunizante em sua própria residência.

Locais de vacinação, de segunda a sábado, das 8h às 17h

– Polo Sanitário Dr. Washington Luiz, Zé Garoto

– Ginásio do Clube Mauá, Centro

– Umpa Nova Cidade

– Clínica Gonçalense do Mutondo

– Polo Sanitário Dr. Hélio Cruz, Alcântara

– Clínica da Família Dr. Zerbini, Arsenal

– Polo Sanitário Rio do Ouro

– PAM Coelho

Pontos com drive-thru

– Campo do Clube Mauá, Centro

– Centro de Tradições Nordestinas, Neves (somente drive thru)

– Umpa Nova Cidade

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