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Processo judicial revela que traficantes pagavam propinas a policiais em Angra

Em reportagem EXCLUSIVA, detalhamos a denúncia do MPRJ

Por Mario Hugo Monken em 16/09/2018 às 10:49:43

Foto: Jorge Hely

Uma investigação feita pelo Ministério Público Estadual iniciada em 2016 revela um conluio entre policiais militares do 33º BPM e traficantes que atuam em Angra dos Reis, na Região Costa Verde Fluminense. Segundo processo que tramita na 2ª Vara Criminal de Resende, os PMs receberiam propinas para não coibir o tráfico de drogas em favelas do município e que entregariam cargas de drogas para os bandidos. "No transcorrer das interceptações telefônicas, ficou claramente demonstrado o envolvimento de terceiros que auxiliam os criminosos e de policiais militares nas atividades criminosas do grupo, com destaque para acertos de propinas, e diversos policiais tiveram seus nomes citados, o que indica uma provável relação com essas práticas", dizem os autos.

Trechos do processo disponíveis no site do Tribunal de Justiça mostram os nomes e endereços de ao menos cinco policiais em mandados de busca e apreensão de armas de fogo e munições, coisas obtidas por meios criminosos e instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso, como drogas e petrechos relacionados ao tráfico, para descobrir objetos necessários à prova de infração penal e colher qualquer elemento de convicção.

Os autos indicam que as buscas seriam feitas inclusivenos veículos enos armários privativos dos policiais no 33º BPM. Apesar de terem seus nomes mencionados, os PMs não são réus no processo.

Procurada pelo Portal Eu Rio para falar sobre o suposto envolvimento de policiais com os traficantes, a PM enviou a seguinte nota: "Durante o cumprimento dos mandados de buscas nos endereços dos citados na demanda, com a participação de nosso órgão correcional, somente na casa do policial militar Átila Ribeiro Chaves foram encontradas irregularidades, e por esse fato ele responde a Procedimento Administrativo junto a Corregedoria da Polícia Militar"

Mencionado nos autos o policial Antônio Claudiano Moreira da Silva, respondeu a outro processo na Justiça por tráfico, posse ou uso de entorpecente, chegou a ser preso mas foi absolvido. Um outro PM também citado, Marlon da Cunha Macário, foi expulso da corporação. Ele foi réu em um processo por indução, Instigação ou auxílio ao uso de drogas e posse ou porte Ilegal de arma de fogo de uso restrito e foi condenado.

Duas células criminosas

A denúncia do Ministério Público tem 34 acusados vinculados à facção criminosa Comando Vermelho (CV)pelosdelitos de associação ao tráfico de drogas, tráfico de drogas, organização criminosa armada), roubo majorado, latrocínio, incêndio, explosão, corrupção de menores, receptação e disparo de arma de fogo.

O procedimento investigatório criminal originou-se de um assalto ocorrido em Resende, no Sul Fluminense, no dia 02/08/2016, no qual ao menos cincosuspeitos subtraíram, mediante grave ameaça exercida com emprego de armas de fogo e explosivos, valores contidos em dois caixas eletrônicos instalados na Man - Latin America (Volkswagen), além de telefones celulares dos vigilantes da empresa.

Iniciadas as diligências, inclusive com quebras de sigilo de dados telefônicos e interceptações telefônicas, e com o desenvolvimento das investigações, verificou-se a existência de duas células criminosas, a primeira uma organização criminosa focada na prática de roubos a caixas eletrônicos e a segunda uma associação para o tráfico de drogas.

Apurou-se que, depois do crime em Resende, sucederam roubos com estouros a caixas eletrônicos em Porto Real, Itatiaia (Penedo), Rio Claro (Lídice), Valença e Angra dos Reis, e ao menos dois assaltos a estabelecimentos empresariais situados em Angra dos Reais, sendo os crimes praticados de forma extremamente violenta, com diversas armas de grosso calibre, inclusive fuzis, além de explosivos, e trocas de tiros com policiais. O grupo arrecadou cerca de R$ 2 milhões com as ações criminosas.O bandocontava com grande estrutura logística, inclusive lanchas para viabilizar a fuga pelo mar em alguns episódios

Alguns dosdenunciados, quando presos,chegaram a oferecer metade do que arrecadassem com novosroubos a caixas eletrônicos (estimados em R$ 300 mil) caso fossem liberados para a sua execução.

No início das investigações também foi observada a prática do crime de tráfico de drogas, especialmente em Angra dos Reis, com traficantes atuando fortemente armados, no interior de presídios e em outros Estados da Federação, sendo a violência um traço marcante da associação.

Segundo os autos, a quadrilha atua na preparação, produção, aquisição, venda, transporte, guarda, entrega a consumo e fornecimento de drogas, sobretudo cocaína, maconha e preparados à base de clorofórmio e éter - cheirinho da loló, em diversas localidades de Angra dos Reis, bem como em municípios da região Sul Fluminense, da Baixada Fluminense e na própria capital, com ramificações em outros Estados.

Um dos membros da quadrilha e réu no processo é o traficante Willemsen Luiz da Silva, de vulgo Vidigal ou Pai. No final de semana passado, a Polícia Militar interrompeu a festa de aniversário do bandido na comunidade de Camorim Grande, em Angra, que resultou na prisão de 20 pessoas. Vidigal escapou da prisão. O Disque-Denúncia oferece uma recompensa de R$ 2 mil para quem ajudar com informações que levem a captura do bandido e do comparsa conhecido como Juninho Nazaré.

Em uma conversa gravada, Vidigalnegocia com um comparsaa aquisição de 1.000 munições de fuzil.


Os bandidos são acusados também de assaltar uma joalheria e de presentear mulheres com o produto do roubo.Eles castigavam as pessoas que descumpriam os comandos da associação.

Interceptações telefônicas também revelaram um plano do grupo para resgatar comparsas presos em um hospital. E foi articulada ainda tentativa de suborno depoliciais para liberarem os custodiados mediante o pagamento de vantagens ilícitas.
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