"Um ano sem respostas para um crime praticado pelo Estado. João Pedro, 14 anos." A frase está na faixa de dez metros que a ONG Rio de Paz em parceria com a Change.org, plataforma de petições online, estenderá nesta terça-feira (18) na Lagoa, próximo a curva do Calombo, Zona Sul do Rio, a partir das 7h.
O ato, além de lembrar um ano da morte do adolescente, assassinado em ação da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), a elite da Polícia Civil, e da Polícia Federal enquanto brincava com primos dentro da casa dos tios, no Salgueiro, em São Gonçalo, vai cobrar respostas sobre o crime que até agora não foram dadas.
A manifestação será no painel que a ONG mantém na Lagoa com nomes de crianças e adolescentes mortas por balas perdidas no estado do Rio. Desde 2007, o Rio de Paz contabiliza esses casos. Até agora já são 82 crianças e adolescentes vítimas de armas de fogo, a maioria por balas perdidas. O caso de João Pedro é o de 71. Depois dele, 11 crianças já foram assassinadas a tiros. Só esse ano já foram 4.
Estatística
Na tarde desta segunda-feira (17), véspera de completar um ano do crime, o Rio de Paz esteve no local onde João Pedro Mattos foi morto e estendeu uma faixa com a frase "Aqui foi assassinado um inocente. João, Pedro, 14 anos". A casa ainda tem as marcas dos tiros. São mais de 60. A família do menino que estava no local devido à pandemia, deixou a residência depois do crime e quase não vai mais lá.
"Há um ano visitamos a casa do João Pedro em ocasião do seu assassinato em uma trágica operação policial. As marcas de destruição que observamos na casa revelavam o terror que crianças viveram durante a operação. Retornar ao local um ano, ver as mesmas marcas e saber que a família que perdeu seu filho assassinado ainda não viu esse crime elucidado é extremamente revoltante. Alem disso, nada mudou no cenário de segurança pública, outras 1' crianças morreram vítimas de armas de fogo no estado do Rio de Janeiro. É urgente a pressão da sociedade civil", alerta o coordenador de projetos da ONG Rio de Paz, Lucas Louback.
Repercussão internacional
O caso de João Pedro chamou a atenção da atriz americana Viola Davis com o link de um abaixo assinado da Change.org ( Change.org/JusticaJoaoPedro), que teve mais de 3 milhões de assinaturas pedindo justiça para o adolescente. A comoção do assassinato de João Pedro fez com que o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), três meses depois proibisse a realização de operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro durante a pandemia do coronavírus, com exceção de situações consideradas gravíssimas e aprovadas pelo Órgão.
"Esse um ano sem qualquer avanço ou solução sobre a morte do menino João Pedro escancara o racismo e abismo social em que vivemos. A dor de uma mãe e a vida de jovem negro simplesmente não é considerada por esse Estado”, disse a diretora executiva da Change.org. Monica Souza.