Diante do aumento do número de casos de trombose ligados às vacinas Astrazeneca (Oxford) e Janssen (da Johnson & Johnson), somado às divulgações sobre uma baixa eficácia da Coronavac, diversos países vêm enfrentando dificuldades para avançar na vacinação em massa. Nos EUA foi registrado um aumento de rejeição à vacina e consequente baixa na procura nos postos, depois que oito casos de uma forma rara de coagulação do sangue cerebral foram diagnosticados após administração do imunizante da Johnson & Johnson, na semana passada. Pelo mesmo tipo de reação, a aplicação da Astrazeneca, que nem chegou a ser liberada nos EUA, foi interrompida em diversos países da Europa como Dinamarca, Áustria, Lituânia e Luxemburgo. Especialistas garantem que os casos são efeitos raros e que os benefícios da vacinação em massa são maiores que os riscos.
Além disso, estudos mostram que os riscos de trombose são maiores com a própria infecção da Covid-19 do que com qualquer vacina disponível. Para aqueles que temem uma reação, mesmo diante de dados que comprovam as vantagens de se vacinar, a boa notícia é que já existem exames para avaliar os riscos e para monitorar as reações e eficácia da vacina.
De acordo com os dados recentes, seis casos de trombose são registrados a cada milhão de vacinados, contra 1,5 mil mortes por Covid a cada milhão de habitantes. Nos EUA, por exemplo, depois que a imunização atingiu pouco mais de 40% da população, o número de casos diários caiu de 250 mil para 61 mil e de mortes despencou de 4 mil por dia para menos de 800. “O Brasil não tem muitas opções de imunizantes no momento e, além disso, os eventos são raros, portanto não há motivo para suspender a vacinação por aqui”, afirma a especialista em Imunohematologia pela UFRJ, Bárbara Pereira. “Quem tem receio, não deve se privar da vacinação. Os riscos devem ser avaliados de forma individual e isso é possível por meio de exames de sangue que devem ser feitos antes e depois da aplicação da vacina”, explica a biomédica, que também é responsável pelo setor de análises clínicas do Lach, laboratório e clínica.
No perfil de exames para avaliar a segurança na administração da vacina, estão alguns testes genéticos usados no diagnóstico da trombofilia, condição genética que aumenta a predisposição a eventos trombóticos, além da avaliação da dosagem de D-dímero, uma proteína envolvida com a formação do coágulo que quando em alta concentração indica a possibilidade de trombose venosa profunda ou tromboembolismo pulmonar. “Na dúvida, é importante consultar um médico para avaliar os resultados desses exames e decidir qual a melhor conduta”, ressalta Bárbara. “Após a vacina, é possível avaliar se há alguma alteração nos índices de coagulação sanguínea que também podem ser detectadas com exames simples como hemograma, agregação plaquetária e, novamente, o D-dímero”, explica a especialista, acrescentando que os exames também podem servir para monitorar o risco de trombose em pacientes acometidos pela Covid-19 e devem ser repetidos a cada semana ou a critério médico.
“EFICÁCIA A PARTIR DE 50% JÁ SALVA MUITAS VIDAS”
Há ainda quem rejeite a vacina, citando casos recentes de pessoas que acabaram se infectando mesmo após tomar a primeira dose. Especialistas alertam que a total eficácia dos imunizantes só é atingida cerca de 20 dias depois da última dose e que, portanto, as pessoas não devem relaxar nos cuidados de prevenção após a primeira aplicação. “Nenhuma vacina tem 100% de eficácia. As da gripe, por exemplo, garantem entre 60 e 70%, a da catapora, entre 80 e 90%. Até porque a imunidade vai sempre depender da saúde de cada paciente”, explica a alergista e imunologista Roberta Audi Hammen. “Mas é importante ressaltar que mesmo vacinas com eficácia em torno de 50% salvam muitas vidas, pois evitam as formas graves das doenças. E o mesmo ocorre com as vacinas para o Sars-Cov-2. É uma forma de trabalhar a redução do impacto da doença”, completa a especialista.
TESTE VERIFICA SE IMUNIZANTE FUNCIONOU
Entre as vacinas já em uso contra a covid-19, a da Pfizer-Biontech apresentou eficácia de 95%; a da Moderna, de 94,5%; e a da AstraZeneca-Oxford, de 70%. Nos testes clínicos com a Coronavac realizados na Indonésia, foi anunciada uma eficácia de 65,3%, com base em dados preliminares. Número que, segundo especialistas, deve ser alcançado no Brasil depois da aplicação da segunda dose. Para saber se o imunizante funcionou, há dois exames disponíveis no mercado: IGG neutralizante e o Quantivac. ”Ambos verificam a produção de anticorpos. Sendo que o primeiro identifica também anticorpos pós-cura. Já o quantivac verifica os anticorpos vacinais concentrados”, explica Bárbara, ressaltando que mesmo as pessoas já imunizadas precisam cuidar da saúde de forma preventiva. “Algumas doenças crônicas comuns da população brasileira são comorbidades para Covid-19 como obesidade, hipertensão e diabetes. São problemas que muitas vezes só são descobertos quando o paciente é acometido de outra doença e que, uma vez descontrolados, podem comprometer o sistema imune mesmo de pessoas vacinadas e diminuir ainda mais a eficácia da imunização", conclui.