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Quadrilha de Beira-Mar constrói sede de OSCIP em favela de Duque de Caxias

Investigação da Polícia Federal aponta lavagem de dinheiro e ações políticas

Por Mario Hugo Monken em 23/09/2018 às 11:09:32

Beira-Mar lavava dinheiro através da organização social (Foro: Brunno Dantas/TJ-RJ)

A quadrilha do narcotraficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar tinha um grande projeto: construir uma sede de uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). A sede da OSCIP é  construída em um terreno de propriedade de Beira-Mar na Favela Parque das Missões, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, As obras foram iniciadas em 2016 e são custeadas pela quadrilha. As intervenções continuam em andamento.

Segundo a Polícia Federal, a OSCIP já existia no papel e tinha como finalidade fornecer serviços aparentemente lícitos (lavagem de dinheiro) e funcionaria também como braço político da organização comandada pelo bandido, que está preso na Penitenciária Federal de Mossoró (RN).

Os serviços desta OSCIP, que se chamava Instituto Forças do Bem, já estavam sendo oferecidos nas comunidades dominadas pelo bando como venda de água, gás, bebidas e fornecimento de TV a cabo e internet que, além de dar aparência de legalidade aos proveitos obtidos com o tráfico de drogas, trazia elevados lucros para o grupo criminosos.

O modus operandi da organização criminosa, no que concerne ao fornecimento de 'serviços', era semelhante a atuação das 'milícias' que exploram comunidades de baixa renda, sob o fundamento de combater o narcotráfico. A diferença é que o grupo de Beira-Mar, além de explorar as localidades com o fornecimento de diversos 'produtos/serviços', também atua dentro dos mesmos lugares distribuindo drogas.

Um empresário cedeu o seu nome para a OSCIP em troca de parte do lucro da exploração dos serviços e venda dos produtos oferecidos pela organização. A OSCIP  foi utilizada para a compra de um veículo para o filho de Beira-Mar, Luan Medeiros da Costa, no valor de R$ 47,4 mil pago em espécie.

OSCIP é um título fornecido pelo  Ministério da Justiça, cuja finalidade é facilitar o aparecimento de parcerias e convênios com todos os níveis de governo e órgãos públicos (federal, estadual e municipal) e permite que doações realizadas por empresas possam ser descontadas no imposto de renda.

Outros empreendimentos

Segundo investigações da Polícia Federal, a quadrilha de Fernandinho Beira-Mar contava com dois empreendimentos para lavar o dinheiro obtido com o tráfico de drogas: um estabelecimento comercial Balada 25 Boate Bar e uma casa de shows denominada de Villa Show. Os negócios eram chamados pelos codinomes de "faculdade" e "colégio" O Balada 25 custou R$ 1,3 milhão  Já o Villa Show, R$ 3 milhões;

Houve também a abertura de uma outra empresa, a I Follow Produções para promover eventos.

Há indícios de que a quadrilha teria vários apartamentos, casas, terrenos e pelo menos uma fazenda, bens esses que ainda estão em fase de identificação e individualização por parte da Polícia Federal, além de empresas (lava jato e firmas de carga e descarga).

A organização criminosa de Beira-Mar é formada por filhos, sobrinhos, irmãos e esposa do traficante, além de advogados. Conta também com a colaboração de antigos parceiros. Trata-se de um grupo transnacional, com ramificações na Bolívia, no Paraguai e no Peru.

Apesar de o comando ficar com Fernandinho, ele criou um grupo de sete conselheiros para auxiliá-lo na administração dos negócios ilícitos e na execução de suas principais ordens. Esses conselheiros são pessoas de extrema confiança do traficante e são identificados por codinomes

Os advogados aproveitavam-se das visitas ao parlatório para receber e transmitir mensagens. Fora do presídio, eles prestam auxilio material variado ao grupo. Beira-Mar repassava ordens e recebia informações nas visitas sociais e íntimas, bem como nos banhos de sol.

Troca de drogas por armas na África

A quadrilha era proprietária de um hidroavião com o objetivo de levar dinheiro e produtos químicos para a Bolívia.

Na Bolívia, o responsável pelos negócios da organização era o traficante Marcos Marinho dos Santos, o Chapolin, chamado por Beira-Mar de "Dr Roberto". No país vizinho, o filho de Beira-Mar, Marcelo Fernando de Sá Costa, identificado pela alcunha de "Lopes" é suspeito de homicídios.

Trechos de bilhetes revelam que o bando comprava cocaína pura no Peru, pretendia abrir uma empresa no Suriname para aquisição de armas a baixo custo  e negociava drogas por armas na Nigéria. "Eu mandei a mercadoria no navio por cada quilo de pó eu pegava quatro bicos (fuzis)". Era pretensão de Beira-Mar comprar 108 armas do país africano.

Em outro trecho de bilhete, Beira-Mar diz que uma pessoa trazia ecstasy para ele da Holanda.

As armas utilizadas pelos membros da organização criminosa eram importadas clandestinamente da Bolívia, Paraguai e Peru. Há bilhetes que fazem menção a compra de fuzis Para- Fal, metralhadora ponto 40 e pistolas 9 mm.

Identificou-se, também que a organização criminosa tem atuação no campo político. Foram colhidos elementos que indicam que membros do grupo (parentes do traficante) foram nomeados para exercer cargos na Câmara Municipal de Duque de Caxias
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