A vereadora de Niterói Verônica Lima (PT) recebeu hoje, quinta-feira (8), declarações de apoio de vereadores de Niterói e Rio de Janeiro, além de deputados, ativistas e do prefeito Axel Grael, após a agressão verbal feita ontem (7) pelo vereador Paulo Eduardo Gomes (PSOL), na reunião do Colégio de Líderes na Câmara Municipal.
Durante uma discussão, Paulo Eduardo disse à petista: “Quer ser homem? Então vou te tratar como homem!”. A frase foi dita com o dedo em riste em direção à parlamentar, quando o psolista avançou em direção a ela, precisando ser contido pelos demais vereadores. Após o fato, Verônica registrou queixa pela violência na 76ª DP (Centro) e irá abrir uma representação oficial na Casa por quebra de decoro parlamentar. Ela é lésbica assumida.
Verônica Lima fez registro de ocorrência. Foto: Divulgação
A petista fez um desabafo nas suas redes sociais lembrando que não foi a primeira vez que Paulo Eduardo a agride verbalmente. Eis alguns trechos: “Infelizmente, o desrespeito direcionado a mim pelo parlamentar não começou agora e está se intensificando cada vez mais. Os ataques e a perseguição de Paulo Eduardo Gomes contra mim são constantes nesta Casa Legislativa. O ocorrido hoje é mais um episódio escancarado de violência política contra mulheres LGBTQIA+. Somos constantemente constrangidas, desrespeitadas e intimidadas, mas não recuaremos! É importante se atentar para o fato de que essas formas de opressão ainda são muito recorrentes. (...) Quando Paulo Eduardo questionou se "eu queria ser homem" e disse que ia "me tratar como homem", quis me constranger pela minha orientação sexual. Não quero ser homem! Sou uma parlamentar com diversas produções legislativas que dispõem sobre a violência contra as mulheres e o combate às opressões.
Quero poder viver com dignidade e liberdade sendo mulher, e desejo que todas nós possamos ter nossos direitos assegurados. Atitudes machistas, lesbofóbicas e intimidatórias como a de Paulo Eduardo têm que ser devidamente responsabilizadas. Não faço isso apenas por mim, mas por todas as mulheres e LGBTQIA+. Tenho orgulho de ser quem sou e exijo respeito!”.
Após o desabafo, a petista recebeu manifestações de apoio de outros vereadores da Casa. “Toda a minha solidariedade, apoio e respeito a você, Verônica Lima”, escreveu o vereador Renato Cariello (PDT), presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara de Niterói. “Não podemos tolerar qualquer tipo de opressão. Nosso partido está ciente da situação e tomará as providências cabíveis”, declarou o Professor Túlio (PSOL). A primeira vereadora trans de Niterói, Benny Briolly, também da bancada psolista, se manifestou: “não vamos tolerar machismo e lesbofobia em nossas fileiras. Em nome das mulheres do PSOL, ontem me posicionei no plenário contra a atitude do vereador Paulo Eduardo Gomes. Nós, mulheres e LGBTQIA+ do PSOL, estamos dando tratamento ao caso”, disse. “Não à violência política, a lesbofobia e ao machismo. Solidariedade das mulheres do PC do B à vereadora Verônica Lima (PT)”, disse Walkíria Nictheroy (PC do B).
O prefeito Axel Grael (PDT) usou suas redes sociais para manifestar apoio à petista. “Minha solideariedade à vereadora Verônica Lima, que sofreu ataques machistas e lesbofóbicos. É preciso combater o ódio, o retrocesso e a violência. Verônica é uma representante do povo e sempre lutou pelos direitos das mulheres. Merece respeito e liberdade para exercer o seu mandato”, declarou.
Dos deputados estaduais do Leste Fluminense, Zeidan e Waldeck Carneiro (ambos do PT), manifestaram solidariedade à Verônica. “Em suas ofensas, o vereador usou o fato de Verônica ser lésbica para justificar a violência. Além de agir de forma machista, o vereador praticou lesbofobia, crime previsto pelo STF desde 2019. Mulheres na política não podem ser discriminadas e ofendidas, fomos eleitas pelo povo e temos que ser respeitadas”, declarou Zeidan. “Não se pode mais fazer política sem as mulheres negras, sem as mulheres lésbicas, sem as mulheres trans! Orientação sexual, qualquer que seja, não tem que ser questionada, ironizada nem muito menos ser motivo para violência. Cabe apenas respeitá-la. Nada mais!”, defendeu Waldeck.
Outros deputados também foram solidários à petista. “Ao proferir a frase "quer ser homem? Vou te tratar como homem", o parlamentar reproduziu a lesbofobia que vitima tantas mulheres lésbicas. É a partir de frases como essa que acontecem estupros corretivos, espancamentos e lesbocídios. Não vamos tolerar quaisquer violências contra mulheres. A violência política de gênero, a lesbofobia, o machismo e o racismo precisam ser amplamente debatidos e enfrentados no campo da esquerda, pois são essas opressões que expulsam as mulheres da política todos os dias”, afirmou a deputada estadual Mônica Francisco (PSOL). “Inadmissíveis os ataques sofridos pela vereadora de Niterói Veronica Lima (PT) pelo também vereador Paulo Eduardo Gomes (PSOL). O que aconteceu demonstra que o preconceito e a misoginia estão entranhadas até onde a gente menos imagina. Esperamos que o PSOL tenha uma reação à altura da gravidade do ocorrido”, declarou André Ceciliano (PT), presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
Os deputados federais Marcelo Freixo (ex-PSOL e atual PSB) e Benedita da Silva (PT) também se manifestaram. “Esse tipo de violência é inadmissível e tem que ser repudiada por todos nós”, disse o parlamentar. “Não podemos tolerar a violência e o preconceito”, disse Benedita.
Os vereadores cariocas Mônica Benício (PSOL) e Reimont (PT) também declararam apoio à colega de Niterói. “Não compactuo com lesbofobia, machismo e qualquer outra forma de violência de gênero! O PSOL vai tratar do caso nas instâncias competentes. Dentro da esquerda, a luta segue firme, inclusive contra a reprodução de todo tipo de violência e opressão. Nós, lésbicas, resistimos e não recuaremos!”, garantiu Benício. “Um absurdo que isso aconteça em qualquer espaço, especialmente em uma Casa Legislativa. A violência política de gênero não pode ter espaço, principalmente no local onde a democracia, a pluralidade e o respeito devem estar acima de tudo. Verônica é uma mulher negra e lésbica, democraticamente eleita, e que, assim como todas as mulheres, pode ocupar o espaço que quiser. Nesse sentido, qualquer tentativa de silenciamento e violência deve ser combatida”, disse Reimont.
A deputada estadual pelo PSOL do Rio Grande do Sul Luciana Genro, que em 2014 disputou a Presidência da República, também ofereceu apoio à petista. “A atitude do vereador Paulo Eduardo não representa o PSOL e os valores que defendemos”, declarou.
Ativistas também se manifestaram. “Nenhuma forma de machismo e LGBTIfobia deve prosperar! Toda minha solidariedade, companheira!”, disse o diretor do Museu de Arte Contemporânea (MAC), Victor de Wolf, um dos fundadores do Grupo Diversidade Niterói. “Quando uma mulher é eleita e exerce mandato parlamentar, ela fala representando milhares de outras junto a ela, essa legitimidade deve ser respeitada!”, disse Marcilene Souto, feminista e que já foi chefe da Coordenadoria de Políticas e Direitos das Mulheres (Codim) da Prefeitura de Niterói.
O presidente do PT-Niterói, Anderson Pipico, repudiou a agressão de Paulo Eduardo. “Passou de todos os limites do compreensível. Machismo, lesbofobia e agressividade não podem ser posturas admitidas em nenhum lugar, sobretudo em uma Casa Legislativa. Essa atitude é não somente contra a Verônica Lima, mas também contra todos que defendem uma sociedade, justa, fraterna e igualitária, sem machismo, homofobia ou quaisquer outro tipo de descriminação”, afirmou.
O PSOL de Niterói divulgou uma nota em solidariedade à Verônica e crítica à atitude de Paulo Eduardo. Eis alguns trechos: “O Partido Socialismo e Liberdade de Niterói, a partir de seu Diretório Municipal, vem a público se solidarizar com a Vereadora Verônica Lima, mulher negra, que foi agredida verbalmente, de forma machista e lesbofóbica, pelo Vereador Paulo Eduardo Gomes, de nosso partido (...). Não podemos concordar com atitudes como esta em nenhuma hipótese. (...) A razão da existência do PSOL é a luta por uma sociedade livre de toda forma de opressão e desigualdade, contudo sabemos que não estamos livres de reproduzir em nossa militância e em nossas representações opressões como machismo e LGBTfobia. Por isso também lamentamos e repudiamos a atitude de nosso companheiro, um militante histórico do nosso partido, mas que cometeu esse grave erro. Após o ocorrido o mesmo fez autocrítica, se retratou com a vereadora imediatamente e depois publicamente em plenário, e se colocou aberto a espaços de formação e aos debates partidários a respeito de sua atitude para superá-las. Desta forma, nas instâncias partidárias trataremos do caso, tendo as setoriais de mulheres, LGBT+ e de negros e negras como protagonistas das ações com o objetivo de que o companheiro compreenda com profundidade a gravidade de seus atos e os supere por posturas respeitosas com as mulheres e LGBTs”.
Em suas redes sociais Paulo Eduardo se desculpou: “Errei. Nada justifica a forma como tratei a vereadora Verônica Lima (...). Mesmo eu, com um longo histórico de lutas em defesa dos Direitos Humanos e combate às opressões, estou sujeito a praticar atos machistas e lesbofóbicos. Entretanto, apesar de elevar o tom na discussão, é importante esclarecer que jamais fiz menção de agredir a vereadora fisicamente — sequer consideraria essa hipótese. Este trecho do relato enviado para a imprensa não corresponde à verdade. Sou militante em defesa dos Direitos Humanos e das lutas dos trabalhadores e trabalhadoras há mais de 40 anos. (...) Sou um homem branco, hétero e de 70 anos. (...) Mais do que nunca é importante fazer autocrítica e reconhecer que por vezes acabo reproduzindo as estruturas machistas e patriarcais em que nossa sociedade foi gestada. Tenho plena confiança de que meu partido, o PSOL, vai me ajudar a refletir coletivamente sobre isso, como minha companheira de bancada, Benny Briolly, já fez ao longo do dia de ontem ao se colocar ao meu lado, mas me criticando de forma firme”.