Segundo lugar em vendas na categoria LGBT na lista de livros da Amazon, Pablo Rodríguez, o escritor Pahby, comemora o triunfo em sua estreia literária e vê em Gil do Vigor, que o ocupa o primeiro lugar do ranking, uma inspiração: "Eu tinha medo de contar a minha história e as pessoas não gostarem mais de mim, ainda que fosse neste formato de humor”, confessa.
Estudante de Comunicação Social e Cinema, Pahby conta que só criou coragem para lançar sua autobiografia após ver a boa aceitação que Gil do Vigor estava recebendo. Até porque eles têm características em comum: ambos são gays, afeminados e negros, que estão cativando o público com suas vivências. Uma coincidência importante diante de uma nova realidade em que, ao contrário do que acontecia em décadas anteriores, o público abraça narrativas que fogem do padrão.
No livro “Estou Malfalado", o niteroiense Pahby utiliza do humor para expor a alarmante história de uma criança preta e LGBT, vivendo em um bairro de classe baixa, sofrendo múltiplos abusos na infância e que durante a vida adulta se descobre alcoólatra. Em vez do drama que já tem na sua trajetória, o escritor usa e abusa do tom ácido e até vingativo, para relatar situações dolorosas, vexaminosas e toda a sua decadência em meio ao alcoolismo quando vivia na capital da Irlanda.
“Comecei a escrever o livro há dez anos, após um relacionamento conturbado. Fui atingido pelo problema com álcool quando vivi em Dublin, por dois anos. Entendi que o livro não era pra ser sobre aquele relacionamento, mas sobre o que estava acontecendo comigo. Assim que me recuperei, reescrevi e dei vida a ele”, diz Pahby.
Da mesma maneira que Gilberto Nogueira encontrou, no BBB21, uma maneira de se aceitar, para Pablo Rodríguez este momento aconteceu quando ele chegou ao universo do carnaval carioca. Ainda em fase de conclusão dos dois cursos universitários, justamente por ter enfrentado o alcoolismo no meio do caminho, Pahby fez coberturas para o canal “Mais Carnaval” e, diante da aceitação do público, sentiu-se, enfim, confortável. Foi, inclusive, neste trabalho que ele teve suporte para superar a dependência química.
“Estar hoje entre os mais vendidos ao lado do Gil do Vigor, e me sentir acolhido pelas pessoas, me ajuda a todos os dias renovar os meus votos com a sobriedade. É o que me faz ver que valeu a pena toda luta para conseguir entrar em recuperação e abandonar o álcool e o carnaval é uma parte vital nesta minha reconstrução”.
Com 180 páginas, "Estou Mal Falado" não ocupa os primeiros lugares de vendas à toa: é uma história real, de alguém que enfrentou as mais sofríveis adversidades e descobriu que é preciso seguir, não importa se bem ou mal falado.
Foto: Guilherme Ribeiro
Quem é Pahby
Nascido em Itaipu, na cidade de Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, Pahby faz stand-up comedy, focado em pautas existenciais, como religião, sexualidade e comportamento. Participou da série “Barata Flamejante”, no Multishow, ao lado de Rafael Infante, Marcus Majella, Leticia Lima e outros, dirigida por Ian SBF, do Porta dos fundos.
“Uso meu stand-up comedy para falar sobre essa relação com o alcoolismo, para tentar desmarginalizar a doença e trazer o tema em uma linguagem jovem, que se comunique com a audiência, de forma não dramática”, diz.
Desde 2009, Pahby trabalha com cobertura de eventos. Começou no entretenimento e migrou para o carnaval, atividade que sua família sempre esteve envolvida. Seu bisavô, amigo de Pixinguinha, foi presidente e sócio de uma das maiores gafieiras de Niterói, a Manacá. O pai e um primo de Pahby já presidiram a escola de samba niteroiense Acadêmicos do Sossego, da Série A.
Serviço