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Sociólogo fala sobre "governança criminal" em live promovida por Laboratório da Rural

Especialista em milícias há quase 30 anos, José Cláudio Souza Alves comentou as dimensões da Segurança Pública no Rio de Janeiro

Por Daniel Israel em 15/07/2021 às 23:36:02

O sociólogo José Cláudio Souza Alves, professor da UFRRJ. Foto: Reprodução/Facebook

O Laboratório de Eleições, Partidos e Política Comparada (LAPPCOM/UFRRJ) realizou na noite desta quinta-feira (15) uma palestra com o sociólogo José Cláudio Souza Alves, professor e pesquisador da UFRRJ. Há 28 anos, ele se debruça sobre a atuação de milícias e grupos de extermínio, da Baixada Fluminense ao Rio de Janeiro.

Falando sobre governança criminal, Souza Alves comentou a ação das chamadas autodefesas. Atualmente, ele está trabalhando na companhia de um professor mexicano, na pesquisa que compara dados do Grande Rio e da provínica de Michoacán, localizada no país centro-americano.

"Nossa ideia básica, minha e do Antonio Fuentes Díaz, é a seguinte: o Estado, que deveria ter o monopólio legal da violência na concepção weberiana [referente ao alemão Max Weber, 1864-1920] e traz a noção de soberania, abre uma possibilidade de negociação de atores criminais de formas e estruturas de domínio. Há uma indistinção entre o legal e o ilegal, o criminoso e o justo. Essas dimensões começam a se confundir e misturar", detalhou. As milícias, segundo ele nessas áreas onde se envolve para colher material, são reconhecidas pela expansão "voraz, rápida e forte".

A forma de atuar dentro dessa noção de governança criminal estabelece regimes criminais, a partir dos quais se dão formas de negociar com cada grupo paramilitar e facção do tráfico.

Por seu trabalho, o professor, candidato a prefeito de Duque de Caxias no ano de 2016, se depara com acusações feitas por figuras públicas, de uma jornalista e apresentadora de TV ao chefe da Secretaria de Polícia Civil (Sepol).

"Ele deveria refletir a respeito do cachê que recebe de outro grupo", rebateu ele, numa referência a Alan Turnovsky. O secretário já declarou que Souza Alves e outros pesquisadores seriam assessores e receberiam cachê de uma das facções do tráfico no Rio de Janeiro.

Como os grupos paramilitares costumam ser formados por agentes de segurança, ativos, aposentados ou expulsos pelas corporações, o trabalho dos pesquisadores consiste em analisar a realidade a partir de dados concretos e refletir sobre causas, efeitos, soluções. Por exemplo, quando operações policiais são realizadas a um mês das eleições, como foi em 2020, e levam às mortes de pessoas. Neste caso, 17.

Independente se os mortos em Nova Iguaçu (5) e Itaguaí (12) tinham envolvimento com o tráfico, o ponto levantado por Alves é a nomenclatura usada pelo próprio Turnovsky –"narcomilicianos". "Seria uma forma de justificar a lógica 'bandido bom é bandido morto'", resumiu ele, para arrematar em seguida. "Atuar em conjunto com a milícia é vantajoso. Miliciano bom é policial, vinculado à estrutura política. Vai permitir controle territorial, econômico e eleitoral-político de áreas como zona oeste e Baixada Fluminense". Atualmente, também de acordo com o professor da Rural, 6% das operações policiais no estado de Rio de Janeiro ocorrem em áreas dominadas por milicianos.

Ainda assim, o docente avaliou que a largada para o próximo período eleitoral, em 2022 ("O controle de água, luz, gatonet, aterro é a chave para o que vai acontecer"), foi dada com a morte de Wellington da Silva Braga, o 'Ecko', morto no Dia dos Namorados, em ação coordenada pela Polícia Civil em Paciência. "O assassinato do Ecko foi cronometrado". O bairro fica na zona oeste; somada à Baixada Fluminense, as duas regiões reúnem aproximadamente 50% do eleitorado do estado.

Alves foi claro ao dizer que Coronel Jairo (Solidariedade) pertence ao mesmo grupo miliciano de 'Ecko'. Ex-suplente, assumiu como deputado estadual, no lugar de Rodrigo Bacellar, convidado por Cláudio Castro para chefiar a Secretaria de Governo. "É a estrutura se movimentando", resumiu.

No entanto, quando o assunto é segurança pública, o professor universitário não poupa governantes e partidos do outro lado do espectro político. "A política da esquerda é o tapete vermelho para a extrema-direita. O Lula veio ao Rio em 2007 e, após a Chacina do Pan, ele afirmou que 'não se combate o crime com pétalas de rosas'. Witzel e agora Castro apenas dão continuidade ao que têm sido feito por governos desde o início dos anos 2000".

"Entre a esquerda que faz mímica e a extrema-direita que se expressa, a maioria [dos brasileiros em 2018] votou em quem foi mais original", ironizou ele.

"Eu prefiro ser um desiludido que acredita em possibilidades reais”, destacou o professor. Ele considera "temerária" a busca de Marcelo Freixo (PSB), pré-candidato ao Governo do Estado, pelo voto de policiais, bem como se aproximar de figuras públicas como Raul Jungmann, ministro da Justiça do governo Temer. Na época, quando o general Braga Netto, atual ministro da Defesa, foi designado interventor federal na Segurança Pública estadual, ocorreu o assassinato da vereadora Marielle Franco, assessora de Freixo durante os mandatos dele na Alerj. "As investigações vão se tornar a total incapacidade de descobrir quem foram os mandantes", lamentou ele.

A próxima atividade do LAPPCOM/UFRRJ vai promover um debate sobre clientelismo, no dia 17 de agosto.

Clique aqui para assistir à íntegra do debate com o sociólogo José Cláudio Souza Alves, disponível na página do LAPPCOM no Facebook.

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