No último sábado, durante viagem a Campos, no Norte Fluminense, o pré-candidato do PDT ao governo do estado, o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves, afirmou, em uma reunião com lideranças da região, que “seria uma irresponsabilidade” eleger o deputado federal Marcelo Freixo (PSB), por ele não ter experiência administrativa. Cientistas políticos ouvidos pela reportagem, consideram que ataques como esse poderão dificultar a formação de uma frente ampla para enfrentar o govenador Cláudio Castro (PL), que tentará a reeleição e conta com apoio de boa parte dos 92 prefeitos fluminenses, além de deputados federais e estaduais.
“Freixo é meu amigo, também é de Niterói, mas seria uma irresponsabilidade colocar um Estado com esse tamanho de problemas nas mãos de uma pessoa que nunca administrou nada. O Rio possui 200 mil servidores ativos, um orçamento de R$ 70 bilhões, um déficit anual projetado de R$ 20 bilhões. Governar um estado com este conjunto de problemas é grade desafio, uma encrenca tamanho do mundo. Não se pode apostar numa pessoa que nunca foi testado em nenhuma experiência de governança”, afirmou Neves.
Para o cientista político Paulo Baía, a disputa entre o pedetista e o pessebista vai beneficiar Castro.
“Nós temos três postulantes prontos para enfrentar Cláudio Castro, que são Marcelo Freixo, Felipe Santa Cruz e Rodrigo Neves. Você vai ver uma disputa para ver quem fica no páreo a partir de abril até julho, quando as convenções são definidas. Então, você tem uma disputa, por quem será o protagonista contra Castro. Santa Cruz não tem atacado Freixo, mas, também não tem defendido. Eduardo Paes não ataca Freixo, mas, também não tem defendido. Tem defendido Santa Cruz. Há um jogo eleitoral de julho de 2021 até abril do ano que vem, que é o período final de filiação partidária, para que esses pré-candidatos se consagrem com adesões nas pesquisas eleitorais. Elas vão definir quem fica ou quem não fica. Ou ficarão os três. Cláudio Castro está com uma caixa muito reforçada e já iniciou o processo de consolidação de seu governo, que é uma pré-campanha para a reeleição de maneira muito ativa. Ao mesmo tempo que Castro, se não é um nome bem conhecido, ele também não tem rejeição e isso facilita o primeiro turno. Eu analiso que a partir e abril até junho do ano que vem, Freixo, Santa Cruz e Neves vão se acertar em uma composição eleitoral. Se não, vão sair em desvantagem em relação a Castro, que está com uma base geopolítica muito sólida”, analisa.
O cientista político Geraldo Tadeu vê no Rio a repetição da disputa entre o PT e o PDT, que já ocorre a nível nacional entre Lula (PT) e Ciro Gomes (PDT).
“No Rio de Janeiro, repete-se a disputa por espaço na centro-esquerda entre o PT e o PDT, servindo o PSB de partido-de-passagem. Tanto em nível federal (vide filiações de Flavio Dino e Marcelo Freixo) quanto em nível estadual, cabe ao PSB viabilizar as transições no âmbito da centro-esquerda, mas a disputa é basicamente entre PT e PDT. Em São Paulo, Fernando Haddad se comporta como candidato, embora existam conversas entre PT e PSOL para apoio a Boulos. No Rio de Janeiro, a eleição será plebiscitária (como, de resto, em todo o país) entre uma coalizão conservadora (PSD, PSL, Republicanos, etc) e uma coalizão de centro-esquerda, que englobará o PT em apoio à chapa de Marcelo Freixo OU à chapa de Rodrigo Neves. Esta composição ainda está em aberto. As pesquisas atuais indicam vantagem de Marcelo Freixo, mas as eleições são daqui a 15 meses. É preciso investigar os níveis de rejeição de uns e de outros, a demanda do eleitorado e as possibilidades de crescimento de uma ou outra candidatura”, observa.
Procurado pela reportagem, Freixo não quis comentar as declarações de Neves. Também procurados o ex-presidente regional do PT, Washington Quaquá – entusiasta de uma aliança do PT com Freixo - e o presidente regional do PSB, deputado federal Alessandro Molon, também não se manifestaram até o momento.