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Conscientização incentiva doação de órgãos

Oferta de órgãos para transplante cobre apenas 10% da demanda global

Por Cristina Ramos em 25/09/2018 às 21:30:38

Ronaldo Costa esperou 4 anos na fila e recebeu fígado de doador falecido. (Foto: arquivo pessoal)

No primeiro semestre de 2018 morreram no Brasil 1.286 pessoas à espera de um transplante. Desse número, 23 eram crianças. No dia 27 de setembro é realizada em todo o Brasila Campanha de Conscientização para Doação de órgãos, conhecida também como "Setembro Verde".

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a oferta de órgãos para transplante cubra apenas 10% da demanda global. Essa escassez estimula um mercado clandestino que cresce rapidamente e que comercializa órgãos a preços altíssimos - cerca de US$ 200.000 por um rim, por exemplo. Segundo a Associação Brasileira de Transplante de ?"rgãos - ABTO, o primeiro semestre de 2018, em relação a 2017, apresentou diminuição nos transplantes renais (3,7%) e cardíacos (0,5%) e aumento nos transplantes de pulmão (16,1%), pâncreas (3,6%) e fígado (2,6%).

O Brasil, que possui o maior sistema público de transplantes do mundo, ocupa o segundo lugar narealização de transplantes, conforme informações doRegistro Brasileiro de Transplantes (RBT), daABTO. Santa Catarina é o estado que detém a vice-liderança em doação de órgãos com 40,6 doadores por milhão de habitantes, superado apenas pelo Paraná (50,2), quando a média nacional é de 16,6. Em 2016, mais de 90% dos transplantes realizados no Brasil foram financiados pelo SUS. Os pacientes possuem assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante. O Ministério da Saúde mais que dobrou o orçamento na área de transplantes desde 2008. Com os investimentos em imunossupressores (medicamentos usados para evitar a rejeição do órgão transplantado), o orçamento foi de R$ 2,2 bilhões em 2016.

SUS tem acordo com companhias de aviação para transporte de orgãos

O SUS também possui acordo de cooperação voluntária e solidária com todas as companhias de aviação brasileiras e a Força Aérea Brasileira (FAB) para transporte de órgãos, tecidos e/ou equipes de retirada ou de transplante. Em caso de necessidade, o Ministério da Saúde ainda pode requisitar aviões adicionais à Força Aérea. Entre 2010 e 2016, houve aumento de 19% no número geral de transplantes, com destaque para quatro órgãos, além do coração: rim, fígado, medula óssea e pulmão.

Um problema é garantir o consenso para doações de órgãos. A Espanha tem uma política considerada bem-sucedida, que exige que os indivíduos especifiquem se não querem doar em caso de morte. O país tem hoje a taxa mais elevada de doadores do mundo, resultado do fruto de campanhas de conscientização, que reduz o número de famílias, que se recusam ao consentimento da doação de órgãos de parentes.

Mariana Zidirich, 25 anos, arquiteta, se submeteu ao transplante de rim doado pelo pai em março passado. Aos 17 anos, Mariana apresentou um quadro de desidratação muito grande. "Fiquei internada a semana inteira num hospital e após receber alta, a médica disse para acompanhar. Dois anos depois, apareceu uma alteração na creatinina. Após uma ultrassonografia de emergência foi detectado que os meus rins estavam menores. Era insuficiência renal. Fiz tratamento paliativo por cinco anos. No final de outubro de 2017, a creatinina começou a subir, a dieta não estava adiantando e a nefrologista disse para eu escolher: se ia fazer hemodiálise ou o transplante". Segundo conta Mariana, o transplante não é a cura da insuficiência renal. Ele é mais um tratamento. "Hoje, os meus rins nativos estão fibrosos, e só tenho função renal no rim que o meu pai me deu. Faz seis meses que me submeti ao transplante, e hoje tomo muitos remédios para que o meu corpo não rejeite o órgão transplantado. E ainda vou à nefrologista todo mês".

Estimativa de sucesso dos transplantes é de 95%

Dr. Onofre Barros, médico do Hospital São Francisco de Assis da Providência de Deus, explica que toda vez que o paciente tem uma doença renal irreversível, que comprometa a função dos rins, vai haver a necessidade de uma diálise, que é uma filtração artificial ou o transplante, que é uma solução definitiva. Segundo o médico, a estimativa de sucesso dos transplantes é grande, em torno de 95%.

O professor de educação física Rodrigo Oliveira Gomes sempre foi muito ativo. Estava na segunda faculdade e também fazia Jiu-jitsu e musculação quando começou a sentir um cansaço muito grande. Fez exames de sangue e descobriu as taxas alteradas. "Fiquei quase dois anos com o tratamento paliativo, e em setembro do ano passado iniciei a hemodiálise. Fiz por oito meses. Nesse tempo dei entrada nos papéis para fazer o transplante junto ao Hemo Rio, de doador falecido. Hoje, o transplante ocorre por compatibilidade e não por data de inscrição", afirma ele. A vez de Rodrigo para o transplante de rim ocorreu em maio deste ano. Haviam oito pessoas na fila e ele era o paciente mais compatível. "Graças a Deus eu estou muito bem. Estou com as taxas controladas, vou ao médico uma vez por mês para avaliar, faço todos os exames e há cerca de 20 dias tirei a máscara, que convivi por três meses". Rodrigo ressalta ainda, que hoje tem um novo dia a dia, além das das medicações, por causa do novo órgão do corpo. "A higiene é muito importante, por causa do período de rejeição. "Até comprei uma cama nova, para evitar o risco de bactérias, e não me permito ir a qualquer lugar. Tenho que ter uma alimentação muito bem cozida, e comida crua, nunca", ressalta Rodrigo.

Ronaldo Costa Araújo, 62 anos, aposentado, descobriu, em 1995, que tinha contraído hepatite C num rastreamento de doação de sangue. "Foi numa transfusão de sangue devido a uma hemorragia, após uma cirurgia de amígdalas, em 1981. Naquela época, ainda não se fazia rastreamento de sangue". Ronaldo conta que, em 1996, apresentava um cansaço que não era normal e estava com problemas de digestão. "Procurei um médico e fiz vários exames, inclusive, uma biópsia do fígado. Foi constatado que meu fígado já estava em fibrose. Fui inscrito na fila de transplante de doador falecido em 2000, e em 2004 fiz o transplante de fígado. Naquela época, a fila de doação de órgãos era por antiguidade. E, além da fila, havia problema para se adquirir a medicação. Fiz tratamento para a hepatite C e negativei o vírus totalmente", finaliza Ronaldo Araújo.

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