Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz revelou que o número de idosos internados com Síndrome Respiratória Aguda Grave voltou a apresentar tendência de alta no estado do Rio de Janeiro, após cerca de quatro meses de queda. Ainda em fase de conclusão, o estudo, divulgado nesta terça-feira, foi desenvolvido pelo grupo de Métodos Analíticos para Vigilância Epidemiológica da Fiocruz e o Observatório Covid-19 BR, iniciativa independente que analisa e divulga informações sobre a pandemia.
Os gráficos, elaborados com base no Sistema de Informações de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, apontam alta nas internações em três faixas etárias: de 60 a 69 anos, 70 a 79 e 80 anos ou mais. A análise indica que, ainda assim, as faixas de 60-69 e 70-79 anos continuam em uma situação bem melhor do que a apresentada em picos anteriores. A preocupação maior é com a população de 80 anos ou mais.
Ainda em relação a esse grupo, segundo a Fiocruz, somam-se alguns fatores agravantes. Entre eles, a transmissão comunitária ainda elevada, menor efetividade, maior tempo desde a segunda dose e possível efeito de perda de imunidade por causa da idade.
Ouça no podcast do Eu, Rio! a reportagem de Lígia Souto, da Rádio Nacional, sobre o aumento de internações de idosos por conta de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), reflexo de números ainda elevados de transmissão do novo coronavírus (SARS-CoV-2).
O pesquisador da Fiocruz responsável pelo estudo, Leonardo Bastos, disse que, apesar do aumento nas internações de idosos no estado, é preciso monitorar os dados por mais tempo para concluir possíveis relações de causa e efeito.
O estudo alerta ainda que o Rio de Janeiro enfrenta o pior momento da pandemia em relação a internações de crianças de zero a nove anos. Já entre os adultos de 30 a 39 anos, apesar do levantamento ter registrado uma melhora, a situação é mais grave do que o observado no final do ano passado.
O estudo alerta também que a população de crianças de 0 a 9 anos encontram-se no pior momento. Aponta ainda que a faixa de 30 a 39 anos, apesar de ter registrado uma melhora, esta em uma situação mais grave do que no pico do final do ano passado. A investigação é do grupo de pesquisa para a Vigilância Epidemiológica da Fiocruz (Mave/Fiocruz) e do Observatório Covid-19. As projeções são realizadas com base no Sistema de Informações de Vigilância Epidemiológica da Fiocruz (Sivep-Gripe), do Ministério da Saúde.
No contexto geral, os dados sinalizam ainda que o cenário segue muito grave. A atenção encontra-se agora também na população com boa cobertura vacinal mas cuja efetividade é menor, que é a de idosos com 80 anos os mais. Nessa faixa etária, somam-se alguns fatores agravantes. Entre eles, estão a transmissão comunitária ainda elevada, menor efetividade, maior tempo desde a segunda dose e possível efeito de perda de imunidade (imunossenescência) por conta da idade.
Aumento de internações entre bebês e crianças pequenas reflete 'infecção cruzada'
E o que explica o aumento do número de casos entre crianças e jovens? Segundo o pesquisador Leonardo Bastos, do Programa de Processos de Dados (Procc/Fiocruz), na população infantil, a causa pode ser efeito da chamada “infecção cruzada”. “Ou seja, o motivo da internação não é necessariamente a Covid-19. Pode ser uma complicação respiratória por outro fator, mas com infecção cruzada gerando teste positivo para Sars-CoV-2. Requer um acompanhamento mais de perto, com testagem também dos demais vírus respiratórios para identificação do que possa estar ocorrendo. Por conta da alta demanda nos laboratórios, tem-se testado primeiro para Covid-19 e, dando positivo, não testam para outros vírus”, explica o pesquisador.
Esse procedimento pode ter como consequência o fato de que às internações por outros vírus respiratórios ficam “na sombra da Covid”, ou seja, que as demais doenças que levam a complicações respiratórias não sejam diagnosticadas.
Já é de conhecimento científico, por exemplo, que o Vírus Sincicial (VSR), que pode causar problemas graves (com necessidade de internação) em bebês e crianças pequenas, está com circulação relevante em todo o país. “Mas no Rio de Janeiro não sabemos como está a co-detecção por conta dessa logística que privilegia o teste de Covid-19. Esta ocorre por motivos compreensíveis, mas que acabam não testando os demais vírus quando o diagnostico é positivo para Covid-19”, observa Bastos.
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias e Radioagência Nacional