Após a morte do ator Tarcísio Meira, 85, na última quinta-feira (12), por complicações da Covid-19, surgiram nas redes sociais sociais questionamentos e conteúdos com fake news sobre a eficácia da Coronavac. O assunto veio à tona porque o ator já havia tomado as duas doses da vacina e, mesmo assim, não resistiu à gravidade dos sintomas provocados pela doença.
Para esclarecer qualquer dúvida sobre essa polêmica, a reportagem do Portal Eu, Rio! procurou o Instituto Butantan e obteve mais detalhes sobre os questionamentos. Primeiramente, o órgão informou que pessoas mal intencionadas usaram postagens antigas da instituição com o objetivo de descontextualizar as notícias e promover fake news sobre o imunizante produzido no Brasil.
Uma entrevista da médica Ana Marisa Chudzinski, pesquisadora e diretora do Centro de Desenvolvimento e Inovação do Butantan, foi utilizada nas redes oficiais do órgão para explicar a questão. Na postagem, Ana Marisa falou sobre os resultados positivos da vacinação na população.
"Um ponto importante da vacinação é o número de mortes que está evidente. Todos acompanharam as notícias sobre os testes clínicos que estão sendo realizados ou que foram realizados. A gente tem de entender o que significa uma população envolvida em um teste clínico e o que é uma vacinação em massa, quando um número muito maior de pessoas é envolvida naquele esquema vacinal. Obviamente, nesta situação, onde muito mais pessoas são envolvidas, a resposta individual de cada um vai aparecer. Existem casos onde, no ensaio clínico com o número reduzido, você pode dizer que não houve morte. E depois, em um esquema vacinal populacional inteiro, você vê um número reduzido de mortes", informou a pesquisadora.
Em sua explicação, ela ainda reforçou que, apesar dos fatores variáveis, isso não seria suficiente para a conclusão de que a vacina não é eficaz.
"Estamos falando de indivíduos. Quanto maior o número de indivíduos envolvidos, as respostas individuais irão aparecer. Outro dado, que é muito importante, é entender que a população de maior idade é mais suscetível. O sistema imunológico já não está tão forte quanto a de uma criança, de um adolescente ou um jovem. Então, justamente o cuidado com as pessoas idosas, mesmo vacinadas e com todo esquema de vacinação já finalizado, deve continuar muito forte. Lembrando que nós estamos e continuamos no meio de uma pandemia", concluiu Ana Marisa.
O médico infectologista Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, também comentou o assunto.
"Nenhuma vacina é 100% eficaz. Nós sabemos que todas as vacinas possuem uma eficácia elevada para a proteção de casos graves, mas nenhuma delas protege totalmente. Inicialmente, as vacinas Pfizer e Moderna, por exemplo, tinham uma eficácia em torno 90%. Porém, com o surgimento de outras variantes como a Delta, suas proteções diminuíram para índices entre 87% e 88%. Isso nos mostra que existe a perda da eficácia com o tempo de vacinação porque, depois de alguns meses, o número de anticorpos diminui e pode exigir uma terceira dose, que já tem sido adotada em outros países, como Israel e Estados Unidos, por exemplo, com foco na população mais idosa, que responde mal à imunização", explicou Chebabo ao Eu, Rio!
O especialista ainda destacou a fragilidade do sistema imunológico nas pessoas com idades mais avançadas.
"Essa resposta dos idosos à vacina não é especificamente ao coronavírus, mas a qualquer outra doença. Isso ocorre pelo próprio envelhecimento do sistema imunológico, que chamamos de imunossenescência. Então, podemos considerar que nenhuma vacina será 100% eficaz. Os escapes vacinais vão ser comuns e eles serão mais importantes ou frequentes na população mais velha. Contudo, por outro lado, também temos muitos idosos que se infectaram recentemente, mas evoluíram muito bem graças às doses da vacinas. Infelizmente, quando alguns casos da falha vacinal vêm a público, as pessoas tendem a não valorizar a quantidade enorme de indivíduos que foram protegidos pela imunização", alertou o infectologista.
Tarcísio Meira e Glória Menezes foram vacinados com duas doses. Foto: Redes Sociais
Segundo um post no perfil oficial de Tarcísio Meira, ele e a atriz Glória Menezes haviam tomado a segundo dose da vacina em março deste ano. Quando o casal foi internado em São Paulo, o ator apresentava os sintomas mais graves da Covid-19. Já Glória, apesar de seguir internada, desenvolveu a forma mais branda da doença.