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O dia daquele que se doa para o próximo em prol da coletividade

Durante a pandemia do novo coronavírus, os voluntários fizeram a diferença e ajudaram a reduzir o sofrimento da população mais pobre.

Por Anderson Madeira em 28/08/2021 às 22:58:56

Voluntários são pessoas das mais diversas áreas que doam uma parte do seu tempo em prol da coletividade, sem ganhar um centavo por isso. Foto: Divulgação

O dia daquele que se doa para o próximo em prol da coletividade


Texto: Anderson Madeira

Fotos: Divulgação


Sabe aquelas pessoas que distribuem sopa à noite para moradores de rua? Ou aqueles que distribuem cestas básicas em comunidades pobres? Inclua aí aqueles que acordam cedo para limpar sujeira nas praias (que não são garis). Este sábado é deles. Hoje é o Dia Nacional do Voluntariado. São pessoas das mais diversas áreas que doam uma parte do seu tempo em prol da coletividade, sem ganhar um centavo por isso. Durante a pandemia do novo coronavírus, os voluntários fizeram a diferença e ajudaram a reduzir o sofrimento da população mais pobre.

Há voluntários que trabalham em diversas causas, sem estar em uma Organização Não Governamental (ONG) específica ou aquelas que atuam dentro de uma entidade sem fins lucrativos. Há ONGs de diversas áreas, como a ambientalista, de distribuição de sopas e cobertores para as pessoas em situação de rua, que gravam livros em áudio books, entre outras.

O eletrotécnico e taxista Marcio Antônio do Nascimento Silva, de 57 anos, ficou conhecido nacionalmente em junho de 2020, recolocou na areia da Praia de Copacabana cruzes que tinham sido colocadas pela ONG Rio de Paz, em homenagem aos mortos pela Covid-19 e que haviam sido retiradas por pessoas que eram contra a homenagem e apoiadoras do presidente da República, Jair Bolsonaro. A imagem dele fincando novamente as cruzes correu o país e simbolizou o luto coletivo que o país passava e ainda passa. Na época ele tinha acabado de perder o filho Hugo, de 25 anos, para a Covid-19. Pelo gesto, no último dia 25, ele recebeu o prêmio Faz a Diferença, concedido pelo jornal O Globo.

“Aquele dia eu estava passando pelo local. Não participava do ato. Eu já fazia atos voluntários antes, como entregas de quentinhas para moradores de rua. Fui voluntário em grupos informais”, conta Márcio.

Para o eletrotécnico, o trabalho voluntário é importante para a construção de uma sociedade mais justa. “Sou espírita kardecista. O voluntariado faz parte da minha doutrina. Fora da caridade não há salvação, é o que acreditamos. É fundamental para a construção de uma sociedade melhor. Mas, com um ganho enorme, para quem pode ajudar”, explica.

O empresário Felipe Aires, de 34 anos, diretor de criação na área de soluções criativas para o digital, seja design gráfico, vídeo ou fotografia, doa seu trabalho como fotógrafo para as causas defendidas pela ONG Rio de Paz.

“Sou voluntário porque acho que dinheiro nenhum paga o meu coração e meu serviço, então procuro causas que merecem o meu serviço já que Deus tem me abençoado com meu trabalho em outras áreas, então uso minha fotografia como um presente de justiça. Porque me conecto com a causa, o propósito dela, e conheço o coração da liderança, são sérios, não são marionetes de partido político, lutam pela justiça seja ela qual lado for.

A vida toda. Tenho uma ONG de meninas que foram resgatadas do tráfico humano na Índia e nos 6 anos que moramos lá, serví a muitas ONGs que trabalham na linha de combate ao tráfico humano, prostituição infantil, trabalho escravo e trabalho infantil, servindo como fotógrafo humanitário e filmmaker”, conta Felipe.

O empresário faz trabalho voluntário desde 2014. “Começou na Índia. Por ser cristão, minha vida toda fiz trabalho social e trabalhei com ONGs porque está no coração do cristianismo o serviço de justiça e socorro aos menos favorecidos.Então somos tão ensinados sobre isso que se torna parte da nossa identidade. Mas também posso dizer que vem de raiz familiares, minha vó era como se fosse a mãe do bairro, ajudava todo mundo que precisava, e meu pai e mãe também tinham esse mesmo DNA de amor.Conhecí a ONG pelos protestos que fizeram na época da Copa Mundo no Brasil e depois descobri que tinha um amigo atuando aqui dentro, além também da relevância cristã do pastor e diretor da ONG Rio do Paz, o Antônio Carlos Costa”, relata.

Para Felipe, o trabalho voluntário tinha que ser mais divulgado. “Vejo que tem aumentado mas acho que o entendimento de voluntariado no Brasil ainda é muito raso e pouco difundido comparado a outras nações que já morei, como Inglaterra, além de achar que muito do voluntariado termina sendo político ou de interesse(muitos fazem para galgar espaços e networking e não pelo motivo da causa), e tudo bem pra quem gosta dessas vertentes, mas gosto do voluntariado pelo coração ao motivo, se é com pobres não quero ver alguém usando o voluntariado e a necessidade do pobre pra autopromoção mas sim pra ser um agente de amor e transformação para esses que sofrem”, defende o empresário, que mora na localidade de Camorim, no bairro de Jacarepaguá, zona oeste do Rio. Também passa parte do ano na Índia.

O professor Felipe Berin, de 30 anos, morador do bairro de Vigário Geral, zona norte do Rio, acredita que as pessoas devem usar seus dons em prol das pessoas mais necessitadas.

“Sou monitor de uma escola de formação de futuras lideranças públicas chamada Renova BR. Sou voluntário porque acredito que todas as pessoas têm algum tipo de dom e que esses dons podem ser colocados a favor de alguém e da sociedade. Eu, por exemplo, exerço o dom que eu tenho a favor dos mais vulneráveis e a forma disso se manifestar é através das ações sociais, que gerem algum tipo de segurança, que preservem a sua dignidade. Isso é um exercício de empatia e amor ao próximo. Isso me motiva. Olhar o outro e vê-lo como semelhante e poder fazer da vida dele melhor. Se eu posso fazer isso, vou fazer”, explica Berin.

Ele conheceu a Rio de Paz durante uma ação no Jacarezinho, também na zona norte. “Através da biblioteca comunitária que eles fizeram dentro do Jacarezinho. Isso foi próximo ao Dia das Crianças, em 2019. Eu me apaixonei pelo projeto. Fui convidado a conhecer. Ali nós exercemos atividades junto das crianças e levamos os livros e organizamos nas estantes. As mães adoraram esta ideia da biblioteca porque as crianças estavam levando os livros para casa e estavam lendo. Isso é muito positivo. Tira uma criança da rua, de conviver com uma má influência e abre um leque de oportunidade dentro da cabeça delas. Posteriormente participei das ações de combate à Covid-19, dentro do Mandela, do Jacarezinho e das manifestações que reclamavam medidas mais emergenciais do poder público no combate à Covid-19. Na Rio de Paz eu exerço duas funções: Uma é da entrega de cestas de combate à Covid-19. Ajudo a organizar as cestas, a fila, os voluntários e as senhas para pegar. Nas manifestações, sou aquele que está à frente e atendo à imprensa”, explica.

Berin atua ainda em outros movimentos sociais. “Sou gestor do Movimento de Pessoas Solidárias. Nós trabalhamos com pessoas em situação de rua em São Cristóvão e Centro, uma vez por mês. Fiz parte do Rocinha Resiste, coletivo formado pelos próprios moradores da Rocinha para combater o Covid na comunidade, Jaca contra o Corona, coletivo de pessoas que moram no Jacarezinho, desde a Mobilização da Maré. Faço parte de mais dois grupos, Hora do Rango e Amigos da Rua, que fazem ação uma vez por semana, só que eles alternam de 15 em 15, doações para pessoas em situação de rua. Fiz parte do Serfaz, que atendeu ali no Largo da Carioca durante a pandemia. Eu vejo trabalho voluntário hoje como algo essencial na proteção e dignidade das pessoas mais vulneráveis. Com a pandemia, muitas pessoas perderam os seus empregos, suas casas e o preço das coisas só aumenta. Nós enquanto terceiro setor tentamos amenizar estes efeitos, que deveria ser suprido pelo poder público”, conta.

A Rio de Paz existe há 14 anos. É uma organização composta por membros da sociedade civil que têm como objetivo principal amplificar a voz e dar visibilidade a todos que o Estado brasileiro ignora seus direitos civis, políticos e sociais. É filiado ao Departamento de Informação Pública da ONU e atua para se manter referência na produção de informações sobre Direitos Humanos, condutores de políticas públicas e alerta para distorções sociais e violação dos direitos do povo brasileiro, através de levantamentos atualizados sobre desaparecidos, mortes violentas e sistema prisional, com visitas de campo para melhor conhecimento da realidade.

Entre os principais projetos, tem voluntários que dão noções de musicalidade para crianças em comunidades pobres, cursos de qualificação profissional e distribuição de alimentos. Além de manifestações em defesa dos direitos humanos. Em 6 de maio deste ano, um grupo de voluntários criou uma clínica de psicanálise dentro do Jacarezinho.

A origem da data

O Dia Nacional do Voluntariado foi instituído no Brasil pela Lei nº 7.352, em 28 de agosto de 1985, mas foi regulamentado somente na década de 1990 pela Lei nº 9.608. Pode-se definir como voluntário “aquele que se compromete com um trabalho, ou assume a responsabilidade de uma tarefa, sem ter a obrigação de o fazer.”

O trabalho voluntário surgiu como forma de a sociedade civil exercer uma cidadania ativa, contribuindo para o bem comum e interesses coletivos. Percebe-se o importante papel dos voluntários na construção de um mundo melhor, tanto que o Secretário Geral das Nações Unidas declarou que “o voluntariado é um mecanismo poderoso para envolver as pessoas, especialmente as que são deixadas mais para trás no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.”

No trabalho voluntário, cada pessoa contribui na medida de suas possibilidades e com o tempo livre de que dispõe. As formas de ação voluntária são variadas e podem ser prestadas presencialmente ou à distância: realizando ações individuais; participando de campanhas; juntando-se a grupos comunitários; trabalhando em organizações sociais; participando de projetos públicos; sendo voluntário em escolas, etc.

Nesse contexto, fato é que cada um pode contribuir com seu tempo, seus conhecimentos e sua experiência, e a combinação de todos os esforços pode ser decisiva para o alcance dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS da ONU, em especial do ODS 10 - Redução das Desigualdades. O TRT-15 reconhece a importância do voluntariado para atingir esses objetivos, porque acredita na força transformadora da solidariedade.







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