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Por que o Brasil é tão vitorioso nas Paralimpíadas?

Nos Jogos de Tóquio, foram 22 de ouro, 30 de prata e 30 de bronze, igualando o recorde da Rio 2016

Por Kleber Pizão em 06/09/2021 às 06:00:00

Daniel Dias, nadador paralímpico brasileiro e recordista mundial, com 27 medalhas conquistadas, carregou a bandeira do Brasil na festa de encerramento dos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Foto: Divulgaçã


Chegamos ao fim de mais uma edição dos Jogos Paralímpicos e o Brasil terminou a competição em 7º lugar no quadro de medalhas, com 22 de ouro, 30 de prata e 30 de bronze, igualando o recorde no número de medalhas, conquistado em casa, na Rio 2016, e a melhor posição no quadro, conquistado em Londres 2012. O sucesso brasileiro nos Jogos não é nenhuma novidade: Nesta edição também atingimos a 100ª medalha de ouro na história. No total, são 373 medalhas, 109 de ouro, 132 de prata e 132 de bronze.

Os Jogos Paralímpicos começaram em 1960, após iniciativa de um médico britânico que cuidava de combatentes severamente lesionados durante a Segunda Guerra Mundial. Ludwig Guttmann observou que a maioria dos seus pacientes viviam por apenas mais um ou dois anos e decidiu adotar o esporte como ferramenta de recuperação física e emocional. Assim, em 1948, Guttmann criou uma competição para 16 homens e uma mulher deficientes. O sucesso da disputa, com o passar do tempo, foi tanto que em 1960 ocorreu a primeira edição oficial dos Jogos, realizada em Roma.

A primeira participação brasileira ocorreu em 1972 e a primeira medalha veio em 1976, uma prata com Robson Sampaio Almeida e Luís Carlos Coutinho na Bocha. Passados 45 anos, o Brasil é hoje uma das potências paralímpicas. Como este feito foi possível num país tão deficiente em atender sua população deficiente e onde há frequentes questionamentos acerca do investimento no esporte olímpico? Confira nesta reportagem especial.

Falta emprego

Uma das grandes dificuldades para pessoas com alguma deficiência no Brasil são as oportunidades de emprego. Em 2018, um estudo desenvolvido pela RAIS (Relação Anual de Informações Sociais – Ministério do Trabalho) apresentou 7 milhões de pessoas com deficiência aptas ao mercado de trabalho, mas apenas 7% (486 mil) possuíam trabalho formal. Isso ocorre mesmo após a criação da Lei de Cotas para deficientes (Lei 8213/91), sancionada em 1991, na qual todas as empresas com mais de 100 funcionários devem ter de 2% a 5% do seu quadro ocupado por pessoas com alguma deficiência.

A lei nem sempre é cumprida e a oferta de vagas ainda é baixa. No entanto, esse cenário preocupante abre caminhos para que parte dessa população procure no esporte uma oportunidade de desenvolver uma carreira.

Se no mercado formal não há investimento significativo para a mão de obra deficiente, no esporte paralímpico, esse investimento é obrigatório e vem de apostadores de todo o país. Através da Lei Agnelo/Piva (Lei N° 10.264), 2,7% do total bruto arrecadado pelas Loterias Caixa deve ser distribuído anualmente ao Comitê Olímpico (COI - 62,96%) e ao Comitê Paralímpico (COB - 37,04%). Com este investimento o Brasil chegou ao Top 15 no quadro de medalhas dos Jogos já em 2004 e desde 2008 sempre encerra suas participações no Top 10. Apesar do investimento, a velocista Verônica Hipólito considera a divisão injusta:

“Foi muito bom, porém quando falamos nesta divisão a gente pensa que é 50/50 e não é. O olímpico recebe quase 70% e o paralímpico o resto. Então, em pleno século 21 e com os resultados do Brasil é um tanto quanto injusto”, declarou Verônica ao Mídia Ninja.

Este investimento fixo permitiu a construção de outro pilar do sucesso paralímpico brasileiro: o Centro de Treinamento Paralímpico. Localizado em São Paulo, a estrutura de primeiro mundo tem capacidade para atentar a 300 atletas, com 95 mil metros quadrados de área construída e com 42 espaços de treinamento. Custou R$ 264.272 milhões e a inauguração aconteceu em maio de 2016, sendo utilizado para a preparação final aos Jogos no Rio, naquele ano. O benefício das instalações é notório e comprovado por Sandro Laina, ex-atleta de futebol de 5 e presidente da Federação de Esporte para Cegos do Estado do Rio de Janeiro:

“Obviamente que isso proporcionou um trabalho de base muito mais consistente que muitos outros países. O Centro de Treinamento Paralímpico será, com certeza, um trampolim para muitas outras medalhas”, comentou ao mesmo site.

Por último, mas não menos importante, outro fator relevante para o atual sucesso paralímpico foi a chegada do Brasil na disputa logo na quarta edição dos Jogos, o que trouxe amadurecimento a longo prazo para o esporte paralímpico brasileiro. Países como China, Rússia e Ucrânia, potências do esporte, ainda não participavam na edição de 1972.

O futuro do Esporte Paralímpico brasileiro é promissor. Iniciativas educacionais do Comitê Paralímpico Brasileiro visam a formação e contínua qualificação e aprimoramento de técnicos, classificadores, árbitros e outros profissionais. O programa de Educação Paralímpica também organiza cursos de capacitação em modalidades, de introdução ao Movimento e de utilização do esporte como ferramenta de convivência e socialização, tanto em escolas quanto em entidades assistenciais.


Gabriel Geraldo Araújo, o Gabrielzinho, ganhou três medalhas nos Jogos Paralímpicos de Tóquio - duas de ouro e uma de prata. Foto: Divulgação

O programa também contempla cursos à distância (EaD), para ampliar a formação de profissionais de Educação Física na rede escolar com abrangência nacional a curto prazo.

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas pela população portadora de alguma deficiência (são 24% da população brasileira com alguma deficiência declarada), o esporte se mostra em um caminho promissor, cercado de investimento e personagens que servem de inspiração para a luta por um futuro melhor.


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