Uma vez mais ausente, em recuperação da facada sofrida dia 6 de setembro, Jair Bolsonaro foi de novo o candidato mais citado no debate da Record TV no último domingo (30), somando 384 mil menções em quatro horas. O Departamento de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP/FGV) está monitorando a campanha presidencial no Facebook e no Twitter. O levantamento abrangeu o período das 21h de domingo 30/9 a 1 h de segunda 1º/10, com um total de 1,1 milhão de interações, superado apenas pelo debate da Band, o primeiro, com 1,59 milhão.
A exemplo do debate anterior, promovido por SBT/Folha/UOL, o Cabo Daciolo (Patriotas) manteve a liderança absoluta do segundo lugar, com 229,4 mil publicações, seguido por Ciro Gomes (PDT) (159,7 mil) e Fernando Haddad (PT/PC do B) (131,7 mil).
O movimento #elenão, das manifestações de rua marcadas para o sábado 29/9, contribuiu fortemente para que as questões de gênero mais uma vez fossem a temática mais citada a partir do debate, com Bolsonaro como o centro das discussões.
No debate, as menções a Bolsonaro foram na grande maioria das vezes críticas, em especial pelos candidatos que buscam quebrar a polarização entre o candidato do PSL e o PT de Lula e Fernando Haddad. Nas redes sociais, os posts com maior numero de compartilhamentos, em contrapartida,foram mobilizadas pelo próprio Bolsonaro. Os temas foram o ataque do dia 06 de setembro, além de vídeos com as manifestações de rua em favor dele no domingo (30).
Perfis argumentaram que, mesmo sem participar, o presidenciável foi muito citado pelo restante dos candidatos, especialmente no questionamento da ausência dele por Ciro Gomes e Marina Silva. A repercussão da imagem de Bolsonaro na imprensa e entre figuras internacionais, como a cantora Madonna, que fez postagem de apoio ao movimento #elenão. O tuíte do Papa Francisco contra o armamento e as críticas de apoiadores de Bolsonaro candidato à fala do Sumo Pontífice também tiveram grande repercussão.
No trecho final do levantamento do DAPP/FGV, à uma da madrugada de de segunda-feira (1), as menções ao Cabo Daciolo(97,1 mil) chegaram a ultrapassar as publicações sobre Jair Bolsonaro (72,5 mil). É bem verdade que o grande impulso foram memes e sátiras das falas de Daciolo, como de sua previsão de vitória no primeiro turno com 51% dos votos. Em paralelo, repercutiram bem as críticas de Daciolo ao sistema político-partidário, apoiadas por parte dos usuários. O tom combativo e “indignado” do candidato prevaleceu em algumas menções, outras ironizaram falas interpretadas como “teorias da conspiração”.
Terceiro em número de postagens (159,7 mil), Ciro Gomes aparentemente teve sucesso ao estimular sua candidatura como terceira via diante da polarização política — um dos destaques no Twitter foi a repercussão de sua fala como a “segunda opção” dos eleitores para o pleito deste ano. Como reflexo do 'Projeto América', de apresentar-se como o segundo no coração do eleitorado dos dois lados do espectro,não houve um volume expressivo de menções irônicas ao temperamento de Ciro. As menções refletiram mais seriedade e robustez em discussões sobre pautas econômicas e sobre a reorganização do sistema político.
Haddad não repete desempenho e, como alvo prioritário, perde espaço
Fernando Haddad perdeu protagonismo em relação ao debate anterior. Quarto em número de postagens (131,7 mil), teve a maior parte das discussões mobilizadas pelas falas de outros candidatos a respeito dele e não por suas declarações. Exemplo disso foi a fala de Alvaro Dias sobre suposta estratégia do PT de financiar campanhas de aliados de Ciro no Nordeste que bandeassem para Haddad, o que mobilizou críticas de corrupção por perfis conservadores. As menções a Lula representaram 13% das postagens, particularmente associadas a corrupção ou comparações desfavoráveis entre Haddad e o ex-presidente. Teve forte impacto nesse contexto o questionamento do Cabo Daciolo sobre as habilidades de Haddad ao dizer que “Lula é líder. O senhor tem que aprender muito para virar líder”.
A exemplo de Ciro Gomes, Guilherme Boulos (PSOL) saiu no lucro com o debate da Record. Quinto mais citado com 84,4 mil postagens, Boulos recebeu elogios por sua performance durante embate com Cabo Daciolo, ao assinar embaixo as críticas do candidato do Patriota ao sistema político brasileiro. O confronto com Haddad, em que Boulos criticou as alianças políticas do PT, também repercutiu bem, especialmente entre perfis conservadores.
Como Fernando Haddad, Marina Silva teve motivos para esquecer o encontro da Record. A professora acreana caiu da quinta posição no debate passado para a sexta em número de menções (77.784). Nos debates anteriores, a contraposição a Bolsonaro gerou menções positivas à candidata da Rede, em particular quando questionou o candidato do PSL sobre suas declarações de que nada póderia fazer para reduzir a diferença salarial entre homens e mulheres. Desta vez,mobilizou críticas por conta de sua fala cobrando a ausência do candidato do PSL e, como desde o início da campanha, pela suposta falta de posicionamento sobre pautas polêmicas em suas propostas de governo.
Álvaro Dias (Podemos) fecha a fila dos candidatos que lucraram com o encontro da Record. Subindo o tom da agressividade contra o PT, com es mais escandidos e esses mais sibilados, o senador paranaense conseguiu que mais que dobrassem as menções a ele, de 8,2 mil para 18,7 mil. Destacou-se, assim, em relação a Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles os candidatos com menor número de postagens, com a maior parte das menções relacionada a outros concorrentes. No caso do tucano, relativamente poucas e além do mais negativas: Alckmin seguiu com imagem associada a corrupção e sob críticas de apoiadores de Bolsonaro às chamadas na TV de sua campanha eleitoral. Meirelles foi criticado por falta de expressão política, discurso excessivamente técnico e fala monocórdia, formando um conjunto monótono.