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Exclusivo: Creche em Ramos é investigada por negligência e maus tratos a crianças

Na delegacia, pais de aluno afirmaram que filho teria ficado preso a uma cadeira por horas, sem água e sozinho

Por Anderson Madeira e Cláudia Freitas em 23/09/2021 às 10:06:43

Foto: Reprodução TV Eu, Rio!

Uma creche no bairro de Ramos, na Zona Norte do Rio de Janeiro, está sendo denunciada na Polícia Civil por pais de alunos. As acusações vão desde negligência a agressões físicas, que supostamente estariam sendo cometidas por profissionais da escola. A família fez a denúncia após desconfiar da mudança de comportamento dos seus dois filhos, além de outros indícios de maus tratos, como hematomas que vinham surgindo nas crianças. A creche nega as acusações.

Assista a reportagem na íntegra na Web TV Eu, Rio!:

Reprodução YouTube TV Eu, Rio!

O pequeno Dante, de três anos e portador de paralisia cerebral, seria uma das vítimas. Sorridente e sempre de bom humor, o menino vinha apresentando mudanças no comportamento, o que chamou a atenção dos seus pais. Segundo a mãe de Dante, a policial militar Flávia Louzada, o filho passou mal em casa e ela levou a criança a um hospital. “O médico fez os exames e deu o diagnóstico de infecção urinária. Perguntou se eu dava água para o Dante, respondi que sim”, conta a mãe.

Com o diagnóstico médico, Flávia e o marido procuraram a direção da creche que Dante frequenta desde 2019, onde passa a maior parte do seu dia. Segundo os pais da criança, a dona da escola não permitiu o acesso às imagens, alegando que os outros alunos teriam a privacidade violada. Mas, com muita insistência, o casal conseguiu assistir a uma gravação do circuito interno da instituição, das atividades do dia oito de setembro.

“O meu filho estava preso numa cadeira, horas a fio preso na cadeira, sem oferta de água. Tem uma hora que a turma toda sai e só fica ele e uma menininha na sala. A cadeira é pesada e tem um ponto que elas [professoras] arrastam para tirar fotos lá fora e ele vai solavancando na cadeira, ele preso, amarrado. Eu vi, ninguém me contou, eu vi!”, desabafa a mãe do menino.

A irmã gêmea de Dante estuda na mesma creche. Segundo o casal, a menina também vem apresentando mudança repentina de humor, principalmente na hora de ir para a escola. Os pais notaram o surgimento de manchas roxas nas pernas da menina. A família afirma ainda que os cuidados e condições acertadas na ocasião da matrícula não estão sendo cumpridas pela instituição.

“Muitas crianças especiais entraram lá [na creche] e no final eu descobri que eles não têm nem mediador na escola. Elas me apresentavam pessoas como sendo mediadoras e não eram”, conta mãe, acrescentando que quando matriculou o seu filho na unidade escolar, foi informada pela direção que a criança teria uma mediadora exclusiva. O pai de Dante, o policial Rulian de Souza Faria conta que, após a denuncia feita por ele e Flávia na delegacia, os agentes estiveram na instituição e apreenderam os computadores que estavam com as imagens do circuito interno da escola. “O tratamento dado ao meu filho eu não posso nem dizer que é um tratamento dado a um animal, porque nem um animal merece ficar acorrentado seis, sete, oito horas sem água”, repudia.

O registro policial, feito pelo casal na semana passada, incentivou outros pais de alunos matriculados na creche Tempo de Construir a trazer à público as suas suspeitas de negligência e de um tratamento desumano com os seus filhos por parte da instituição educacional. No seu depoimento, Flávia afirma que foi criado um grupo de WhatsApp pelos pais de alunos e, nele, postadas inúmeras denúncias contra as profissionais da escola, inclusive questionando a qualificação de uma coordenadora. A sequência de mensagens que narram episódios de negligência e maus tratos contra os menores parece um filme de terror.

“O meu filho começou a apresentar muitas mordidas que não nos foi passada nenhuma solução, assaduras muito fortes, muita sede quando chegava em casa, percebemos também que ele ficava com a mesma fralda desde uma hora da tarde até às sete da noite. Isso para a gente configurou negligência”, conta o professor Vitor Rafero, pai de Benjamin, de três anos e também aluno da creche. Segundo ele, o seu filho também apresentou sintomas de estresse e chegou ao ponto de autoflagelação. Rafero afirma que levou o filho a um médico neurologista que, após realizar exames, constatou que a criança não apresentava nenhum tipo de distúrbio.

Outra mãe de aluna, que pediu para não ser identificada na reportagem, conta que, ao chegar de surpresa na escola, encontrou a filha dormindo no chão. “A professora alegou que ela [se referindo à filha] tinha deitado naquele momento no chão, mas ela estava usando um travesseiro. Como, então, tinha deitado naquele momento?”, questiona a mãe. Segundo a mulher, a filha passou a apresentar vários problemas de saúde, inclusive infecção urinária, depois que foi matriculada na creche.

Para o vice-presidente da Comissão de Assuntos da Criança, Adolescente e Idoso, da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), o deputado estadual Wellington José (PMB), o caso é grave e deve ser investigado com rapidez pelas autoridades competentes. “Maus tratos a menores é algo muito sério, precisa ser investigado e punido com rigor. Vamos colaborar com a polícia e o Ministério Público”, destaca o parlamentar. Em nota, a Polícia Civil informou que o caso está sendo investigado pela 21ª DP (Bonsucesso) e confirmou que os agentes já realizam diligências para esclarecer o fato.

O que diz a creche

A diretora da Creche Tempo de Construir, Danieli Bonel, nega todas as acusações feitas pelos pais de alunos e atribui as acusações a “um grupo de três pais que querem denegrir a imagem da sua escola”. Segundo a gestora, a escola e seus profissionais estão cooperando com as investigações para que o caso seja esclarecido o mais rápido possível e reafirma que a sua escola tem muitos anos no mercado, sem nunca ter sido alvo de qualquer acusação ou registro dessa natureza. Veja abaixo, na íntegra, a nota divulgada pela escola:

NOTA DE ESCLARECIMENTO

A creche Escola Tempo de Construir vem à público se manifestar que TODOS OS FATOS QUE ESTÃO SENDO LARGAMENTE DIFUNDIDOS EM REDES SOCIAIS SÃO INVERÍDICOS. Tratam-se de acusações caluniosas e difamatórias propagadas por três pais, que durante um final de semana disseminou o ódio pela internet de maneira desenfreada.

Não há provas dos maus tratos que eles relatam e todo o material de filmagem foi entregue pela escola para a delegacia que está analisando, assim como a equipe da escola está à disposição das autoridades para prestarem os esclarecimentos que se fizerem necessários, como já está sendo feito.

Os responsáveis pelas publicações caluniosas serão responsabilizados nas esferas jurídicas competentes pelas ofensas e temores que estão causando à toda uma comunidade, composta por profissionais, pais e alunos.

A escola possui 18 anos de atuação e NUNCA RESPONDEU A QUALQUER RECLAMAÇÃO QUANTO A SEUS SERVIÇOS. Assim como sua diretora e sua equipe também não. É uma escola dedicada, querida e admirada no bairro, e num universo de centenas de alunos e pais que durante 18 anos frequentaram e frequentam a instituição, apenas três vêm nas redes sociais, sem provas, fazer ditas acusações.

Todos os que comentam nas postagens destes pais são pessoas que desconhecem a realidade da escola, e desconhecem quem nela trabalha. Com comentários preconceituosos e criminosos, ajudam a propagar o ódio pela rede social velozmente.

No entanto, a escola vem recebendo muitas mensagens de apoio daqueles pais e alunos que a conhecem e confiam no trabalho desenvolvido por uma equipe de cerca de 70 profissionais dedicados. Infelizmente, as páginas sociais da instituição tiveram que se tornar privadas, pois pessoas desconhecidas ingressavam nelas para também disseminar ódio, assim como também os pais envolvidos nas publicações caluniosas, estavam marcando indevidamente a escola em suas publicações ofensivas. Acreditamos que em breve tudo voltará ao normal.

Os pais que estão difundindo publicações ofensivas e criminosas foram notificados a removê-las, mas preferiram manter as publicações, e ainda as intensificaram, que foram replicadas por outras pessoas que sequer sabem dos fatos. Isso não ficará impune.

Quanto aos relatos específicos com o aluno mencionado pelos próprios pais nas suas publicações, não há qualquer prova dos fatos narrados: de que ele tenha ficado amarrado, preso em uma cadeira sozinho em uma sala por mais de três horas. O aluno possuía três cadeiras ortopédicas específicas para o tratamento dele, adquiridas e fornecidas pelos próprios responsáveis, e eram estas as cadeiras por ele utilizadas.

Também é inverídica a informação de que os alunos não bebiam água, ou que dormiam em chão frio, que não se alimentavam, que as fraldas não eram trocadas, que não tomavam banho, e que as professoras agrediam as crianças.

A escola possui colchões e tapetes/placas tatame de EVA que são adequadas para as crianças; há uma nutricionista diariamente que prepara o cardápio e acompanha o preparo dos alimentos de acordo com a faixa etária (almoço/janta/lanches) – inclusive temos diversos comunicados entre esta mãe e a escola nos quais ela ora solicita que o almoço do aluno seja guardado porque ele chegará depois do horário da entrada, ora solicita que a janta seja dada antes porque o pegará antes do horário da saída. Todas as solicitações sempre foram atendidas!

Da mesma forma é absurda a acusação da falta de oferecimento de água, de troca de fraldas ou de falta de banho. Os relatos destes pais são apelativos para terem mais adeptos.

Estes pais também alegam que a eles foi negado o acesso às filmagens, o que é inverdade. Eles queriam ter a posse das gravações, e a escola informou que não poderia entregar pois envolviam outros menores. As filmagens foram disponibilizadas para serem assistidas na sede da escola, e assim foi feito. Qualquer outro pai que queira ter acesso, poderá assistir na escola, ressaltando que está ainda em poder da delegacia de polícia o equipamento e a filmagem das últimas semanas e, portanto, a escola ainda não está em poder das gravações.

Na verdade, o que estamos presenciando são três pais que estão fazendo acusações gravíssimas SEM POSSUÍREM QUALQUER PROVA PARA APRESENTAR. Se foram à delegacia fazer estas acusações, porque não aguardaram a conclusão das autoridades?

Os vídeos postados por estes pais são apelativos e totalmente mentirosos, com o único intuito de denegrir a imagem da instituição e de sua dona, difamando e caluniando, DIFUNDINDO COVARDEMENTE O ÓDIO POR MEIO DE REDES SOCIAIS, O QUE É CRIME. A internet não pode ser usada com essa finalidade tão ardil.

Estamos confiantes que mais brevemente tudo será esclarecido e a verdade virá à tona. A escola não tem o que esconder e as questões serão resolvidas pelos caminhos legais, ao contrário do que estes pais vêm fazendo pelas redes sociais.

Continuaremos nosso trabalho com o mesmo empenho e dedicação que sempre fizemos durante quase duas décadas, pois nossos alunos e seus responsáveis merecem que continuemos a prestar um ensino de excelência e qualidade. Não nos curvaremos ao uso ilegal que estão fazendo das redes para nos atingir.

Aos pais agradecemos a confiança e o apoio que estamos recebendo. Sempre puderam e poderão continuar a contar conosco.

À equipe da escola agradeço imensamente pelo apoio, dedicação, profissionalismo e esmero com que sempre trabalharam.

Nossa missão é educar para construir um mundo melhor, onde as crianças aprendam a respeitar o próximo, respeitar as leis e sempre ouvir os dois lados da história, sem agir por impulso propagando ódio gratuitamente.

Nosso agradecimento à equipe de jornalismo do Portal Eu, Rio! que nos procurou nos dando a oportunidade de apresentar e esclarecer nossos pontos quanto às acusações, ao invés de apenas ouvir um dos lados e propagá-lo indiscriminadamente, como vem ocorrendo nas redes.

Por fim, aguardaremos o desenrolar dos fatos, especialmente junto aos órgãos competentes, confiantes de que a justiça será feita e os envolvidos serão responsabilizados e terão que se retratar publicamente das acusações caluniosas.

Creche Escola Tempo de Construir

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