Após longos períodos de isolamento por causa da covid-19, o retorno às atividades presenciais já é uma realidade para muitos trabalhadores que permaneceram em casa durante o período mais crítico da pandemia. Com a retomada, porém, algumas pessoas manifestaram o que é conhecido como ansiedade social. O medo da contaminação e a perda da capacidade de socialização são aspectos que podem explicar, neste momento, essa questão da saúde mental.
“A apreensão, o desconforto, aquele sentimento de evitação, é muito comum para quem está voltando. [É preocupante] quando essa ansiedade se torna muito intensa, a ponto de gerar reações físicas muito desagradáveis, muito intensas, que não vão embora desde o primeiro contato ”, explica Flávia Dalpicolo, professora do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Black pela Universidade de São Paulo (USP).
Flávia, que também é psicóloga, explica que os sintomas se assemelham à ansiedade por diversos motivos, como apreensão, alteração do padrão respiratório e aumento da frequência cardíaca. “Só isso [está] dirigido a situações que envolvam contextos sociais, ou situações que envolvam contextos de avaliação de exposição, ou situações que envolvam um maior volume de pessoas, ou mesmo qualquer situação, mesmo que seja um contacto mais íntimo, mas existe a possibilidade de uma avaliação [externa]. ”
A professora acrescenta que a ansiedade social costuma ser mais frequente em pessoas que já vivenciaram situações em sua história de vida nas quais foram expostas ou ridicularizadas, como os casos de assédio moral, ou que tenham habilidades sociais deficientes, como timidez ou introversão.
“Agora, com a pandemia, com a volta das atividades presenciais, os contextos sociais ficaram muito marcados como perigosos, aversivos. Tem sido bastante frequente que pessoas que nunca experimentaram sentimentos de ansiedade face a encontros sociais ou a um maior número de pessoas se sintam ameaçadas. Eles acham que pode haver uma situação potencialmente arriscada e, a partir daí, desencadeiam-se reações de ansiedade ”, afirma.
Retomada das aulas
A professora Sílvia Almeida, de 56 anos, conseguiu realizar a maior parte das atividades remotas com seus alunos na pandemia. Em alguns instantes, ele deveria estar presencial na escola, desde o início das restrições devido ao novo coronavírus. Nesse período, ela conciliou as aulas de educação física na tela do computador com os cuidados com a mãe e o tio, agora idosos.
Com a volta das aulas, porém, sem entender bem o que estava acontecendo, Sílvia enfrentou um rápido processo de adoecimento: tontura, taquicardia, fraqueza, dores musculares e crises agudas de fibromialgia. A filha percebeu a necessidade de ajuda psiquiátrica e, após 20 dias de medicação antidepressiva e psicoterapia, a professora começou a melhorar.
“Em alguns casos em que os sintomas são muito intensos, precisamos de avaliação psiquiátrica somada à psicoterapia justamente para diminuir a presença desses sintomas”, explica Flávia Dalpicolo. A psicóloga acrescenta que, nos casos não patológicos, a orientação é a exposição gradativa. “Não precisamos enfrentar tudo de uma vez, pode ser aos poucos, mas a exposição, o confronto desses contextos, é o que nos permite desenvolver repertório, habilidade, para lidar com esse novo normal”.
Fonte: Agência Brasil